Não são apenas os agricultores que estão suscetíveis à contaminação por agrotóxicos. Diagnóstico é difícil e receber indenizações, também. Uso de EPI é essencial e obrigatório.
Quando não é fatal, a contaminação por agrotóxicos pode provocar problemas graves como a cegueira e a perda dos movimentos. Conheça histórias de duas vítimas do problema, todas do Paraná, estado com o maior número de casos relatados de intoxicação – e também o com o sistema mais eficiente de notificações.
A intoxicação por veneno é tema de grande importância para ser discutido e deve ser levado a sério quanto ao o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Traremos uma série de informações sobre a correta aplicação e cuidados com os agrotóxicos. Nosso sentido na matéria não é inibir o uso dos produtos, mas sim, conscientizar para o uso correto dos produtos. Veja alguns fatos reais que servem de exemplo para quem ainda não utiliza os equipamentos de proteção corretos.
Produtor de leite morreu
Como sempre fazia, o produtor de leite Júlio Quintino comprou, em 2016, casquinha de soja para alimentar suas vacas. Passou o dia descarregando o produto e, à noite, teve febre alta, vermelhidão pelo corpo, foi parar no hospital e faleceu.
O diagnóstico, conta o pai de Júlio, José Quintino dos Santos, não foi fácil. Os médicos chegaram a suspeitar de leptospirose e até de “fogo selvagem” (ou pênfigo).
“Eu batia que não era (doença), porque o moleque estava bom, normal, foi só de carregar aquilo ali. Eu falava que era o veneno, o dessecante”, diz.
O tal veneno, paraquat, é um herbicida usado para dessecar a soja e facilitar a colheita. O produto deixa resíduos na planta e, por isso, é preciso esperar 7 dias para colher os grãos. A suspeita de José é de que, para acelerar o trabalho, alguns produtores não esperam esse tempo.
A morte de três vacas alimentadas com a casquinha de soja ajudou a comprovar que Júlio havia mesmo sido vítima do veneno.
A secretaria de Saúde do Paraná reconhece o caso. “Uma intoxicação aguda, gravíssima que levou a óbito”, descreve Lilimar Mori, médica epidemiologista do estado. Agora, com o laudo em mãos, José busca uma indenização para a filha de Júlio, Ana, hoje com 6 anos.
Nunca usou proteção
Valdir Furtado, 62 anos, lida com lavoura desde a infância. No sítio de 24 hectares que tem no município de Juranda, no Paraná, começou plantando algodão e depois soja e milho. Os agrotóxicos sempre fizeram parte da rotina da propriedade. E ele reconhece que nunca usou equipamento de proteção.
Nos tempos do algodão, aplicava os produtos com pulverizador costal. Eram venenos líquidos e em pó.
“Chegava em casa branquinho. Branquinho de veneno (…) Eu sentia às vezes vômito, mas não caçava um médico, né?”
Um dia, abriu a tampa da plantadeira em movimento, para checar se as sementes estavam caindo direito, e o veneno atingiu seus olhos. Ele perdeu 70% da visão no olho esquerdo e 30% no direito.
O que dizem os fabricantes
Para os fabricantes de agrotóxicos, os produtos são seguros e os casos de contaminação ambiental e intoxicação de pessoas são “excepcionais”.
De 2007 a 2017, data do último levantamento oficial, quase 40 mil casos de intoxicação aguda por agrotóxicos foram notificados no Brasil. Quase 1,9 mil pessoas morreram.
“Eles não podem ser ignorados. Precisamos agir em cima desses casos. Quando um se torna conhecido, ações corretivas devem ser tomadas, de educação, de treinamento, de uso correto e seguro”, diz Mário Von Zuben, da Andef, entidade formada pelas indústrias.
- Arco Norte responde por 27% da entrada de adubo no Brasil
- Chuvas acima de 100 mm devem atingir duas regiões do país nesta semana
- Com investimentos estrangeiros, Paraguai quer transformar suas terras em Ouro Verde
- Piracanjuba investe R$ 93 milhões e inicia ampliação da indústria, veja onde
- Semana com previsão de temporais em diversas regiões; veja os detalhes do clima
Mesmo que, por enquanto, nosso modelo de agricultura não permita eliminar os agrotóxicos, os pesquisadores garantem que dá para fazer muito melhor do que fizemos até agora.
Segundo Marcelo Morandi, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, é possível reduzir a contaminação no momento da aplicação com o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) e seguindo as formas corretas de aplicação.
É possível reduzir a contaminação no momento da aplicação com o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs)
“Aí tem a questão: como está minha conservação de solo, como está a minha aplicação frente às fontes de água? Estou respeitando os limites, as formas?”, questiona.
Compre Rural com informações do Globo Rural