Como um “degustador virtual”, sistema analisou mais de 10 mil combinações para formular a receita do primeiro blend da vinícola Casa Tertúlia, no Rio Grande do Sul.
Entre dez mil combinações, surgiu o primeiro vinho produzido com Inteligência Artificial (IA) no mundo. É a tecnologia sendo usada da forma mais avançada possível na produção de uma bebida.
O rótulo “IA” é o primeiro blend da vinícola Casa Tertúlia, de Três de Maio (RS), produzido com uvas Marselan, Cabernet Sauvignon, Merlot e Teroldego de diferentes safras da vinícola. A proporção de cada variedade é mantida em sigilo – eis o diferencial do negócio!
A novidade surgiu a partir da curiosidade da família Hilgert em entender “como provar, cientificamente, que o vinho é realmente bom”. Questões que ganharam força durante a pandemia, quando pai, mãe e filhos voltaram a morar juntos na propriedade onde fica a vinícola. Cada um com sua profissão e área de conhecimento contribuiu para o feito.
“Um administrador, uma enóloga, uma sommelier e um engenheiro degustando vinhos e falando sobre vinhos”, lembra Leodir Hilgert, fundador e administrador da vinícola. Ao Agro Estadão, ele conta como surgiu o vinho inédito, sem esconder o orgulho e a animação. “Estamos fazendo história”, diz em determinado momento da conversa.
Como surgiu a ideia de usar Inteligência Artificial na produção do vinho?
Em 2020, a vinícola já produzia vinhos de excelência e os vendia na sede da propriedade, que também oferecia jantares harmonizados. Com a curiosidade instigada, o mais jovem da família começou a desenvolver um algoritmo que pudesse avaliar os vinhos com a mesma (ou maior) assertividade que os sommeliers.
Para isso, o engenheiro conta que usou “diversas ferramentas ao mesmo tempo”, mas principalmente duas. As redes neurais, que são programas de computador que ensinam máquinas a tomar decisões de forma semelhante ao cérebro humano. E a machine learning, que inclui outras abordagens para treinar as máquinas.
“Nesse caso, ensinamos o computador a determinar a qualidade do vinho. Você mostra a composição química e ele vai dar uma nota para a bebida”, resume o engenheiro.
Foram inseridas milhares de informações de diferentes bancos de dados de avaliações de vinhos do mundo, considerando as características físico-químicas, como acidez, açúcares, graduação alcoólica, densidades, etc.
“É como um degustador virtual! O sistema aprende a diferenciar as características – vai olhar para os milhares de exemplos e entender o que faz um vinho ser bom ou ser ruim”, complementa.
Com o algoritmo testado, chegou a hora de produzir o primeiro vinho com IA
Para testar o algoritmo, os vinhos da casa foram avaliados e depois, inscritos em uma premiação nacional, para descobrir se a avaliação do sistema era a mesma de especialistas. O resultado foram oito rótulos listados entre os melhores nas suas categorias no concurso Wines of Brazil Awards (WBA), além de ser premiada como Vinícola Revelação 2021.
A partir daí, cinco vinhos de diferentes safras da vinícola Casa Tertúlia foram escolhidos para produzir o blend. “De uma quantidade potencialmente infinita, o sistema gerou dez mil combinações otimizadas, estimando as melhores notas, ou seja, as de maior qualidade”, explica a sommelière Jéssica Hilgert.
“Ele trouxe as melhores variáveis de cada tipo, indicando as proporções exatas para um vinho de excelente qualidade”, conta o engenheiro Gabriel Hilgert.
As 20 combinações com melhores notas foram analisadas pela enóloga e a sommelier da vinícola, e a escolhida foi a receita nº 10, feita com quatro variedades de uva. Com assertividade de 97% do sistema de que este vinho seja de alta qualidade, o primeiro vinho com IA tem o primeiro lote com 1,2 mil garrafas que são comercializadas pelo site da vinícola.
“É claro que a escolha dos vinhos para inserir no algoritmo é fundamental. Não adianta colocar qualquer vinho. Até vai aumentar a nota, mas não vai produzir o excelente. Primeiro tem que fazer a escolha de vinhos de qualidade”, comenta a enóloga Viviane Hilgert.
O que significa usar IA para produzir vinho
Para o administrador, o resultado demonstra uma revolução tecnológica para o negócio sem perder a essência da busca constante pela qualidade. Hilgert destaca que a colheita da uva na propriedade é manual, e o cuidado com cada cacho da fruta é o início da jornada para produção de vinhos de qualidade.
“Eu vejo uma contribuição para toda a vinificação brasileira. É uma tecnologia que pode trazer os vinhos brasileiros a um patamar de alto nível e permitindo uma produção de escala maior”, destaca.
Por enquanto, o algoritmo só deverá ser usado na vinícola e foi patenteado pelo criador, que também usou IA para produzir o rótulo do vinho. Gabriel guarda uma garrafa dessa produção em casa, como lembrança de uma sensação incrível.
“A coisa mais emocionante desse projeto todo foi provar o vinho. Foi muito gratificante”, lembra.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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