A infestação da mosca do estábulo ganhou repercussão a partir da crise gerada na cidade de Planalto que sofre com alta infestação
O problema, que está causando prejuízos a pecuária de leite e de corte, já mobiliza inclusive a Secretaria da Agricultura do Estado para encontrar solução. Para os pecuaristas o problema está relacionado ao excesso de vinhaça jogada pelas usinas nas plantações de cana.
Na área da CATI – Regional de Fernandópolis, a mosca do estábulo também está causando prejuízos. O assunto veio a tona a partir da entrevista do diretor da CATI, Luiz Carlos Pagotto à um jornal local. Ao abordar a chegada de usinas na região, Pagoto apontou os benefícios como geração de muitos empregos, arrecadação de impostos entre outros, mas também apontou os problemas ambientais.
“Muitos agricultores têm reclamado, principalmente os pecuaristas, da distribuição inadequada da vinhaça da cana em áreas de canaviais, pois a concentração em excesso tem sido a causa da proliferação da mosca do estábulo, como mostrado dias atrás em reportagem na televisão. Esta reportagem mostrou a realidade da cidade de Planalto, mas pecuaristas de Ouroeste e Populina estão na mesma situação, onde também denunciaram aos órgãos competentes de fiscalização. Só quem conhece o que passam algumas propriedades com seus rebanhos, vê a necessidade de solução urgente para o assunto. Muitos estão deixando a produção de leite, pois a alta incidência da mosca faz com que os animais produzam menos que o normal”, relatou Pagotto.
Essa entrevista motivou a pecuarista Rita de Cássia da Silva Garcia e o marido Nilson Pandin Garcia, com propriedade no Córrego do Gralha, em Fernandópolis, a denunciarem o problema que enfrentam com a mosca do estábulo na propriedade. Ela encaminhou fotos e até vídeo para mostrar o estado de sofrimento dos animais, atacados pela mosca. Segundo ela, o marido chegou a ter depressão e faz uso de medicamento controlado. “Não é tanto o prejuízo financeiro, mas o sofrimento dos animais atacados pelas moscas”.
O casal tem propriedade na região desde 81 e verificou que o problema começou a se intensificar há cerca de 10 anos e piorou nos últimos três anos. “Ficou insuportável”, relata. Segundo ela, a propriedade que era de produção de leite já abandonou essa atividade.
“A nossa produção variava de 200 a 400 litros de leite. O animal se estressava demais e a produção começou a cair. Para o meu marido, o gado era a vida dele. O sofrimento dos animais o levou a depressão”, enfatiza. Hoje a propriedade só tem gado de corte e o problema é que com o ataque das moscas o animal não ganha peso. É comum ver os animais em grupo pastando para tentar se livrar das moscas.
Rita diz que não tem nada contra as usinas, mas defende que é necessário controlar os efeitos da vinhaça que está gerando esse problema para pecuaristas.
“A situação é muito grave”, aponta veterinário da CATI
O veterinário da CATI de Fernandópolis Claudio Camacho Pereira Menezes estuda a mosca do estábulo desde 2008 e considera a infestação muito grave para a pecuária da região.
Segundo ele, a mosca do estábulo sempre existiu, mas era quase imperceptível para os produtores. “Pesquisadores apontam que de 6 a 10 moscas no animal não chega a causar estresse, mas na região temos casos de 200 ou mais moscas atacando um animal. O principal problema é que essa mosca é hematófaga (se alimenta do sangue), tanto o macho quanto a fêmea. A picada é extremamente dolorosa para o animal”, relata o veterinário.
Na região, o problema maior está concentrado nas regiões de Ouroeste e Populina, mas há casos em Fernandópolis, como o relatado por Rita de Cássia. A mosca ataca principalmente as patas dianteiras e a barriga do animal. No bezerro, elas atacam também o dorso.
Os preferidos das moscas são os bovinos e equinos, mas nem os cachorros escapam do ataque, principalmente nas orelhas. Há relatos, segundo o veterinário de seres humanos atacados pela mosca. “Na necessidade de alimento (sangue) elas atacam pessoas também”, confirma.
Segundo ele, os enxames de moscas chegam a voar de 5 a 30 quilômetros em busca de alimento. O problema se agrava porque não há controle sobre a infestação. “Muitas usinas contratam empresas para pulverização que não resolve, dois dias depois as moscas estão de volta. Temos que controlar os criadouros e isso passa pela restrição de uso da vinhaça na irrigação de lavouras”, aponta o veterinário.
O grupo técnico da Secretaria de Agricultura, formado para avaliar a situação na região de Planalto, aponta que a prioridade é evitar o empossamento de vinhaça, que junto com a palha que não foi queimada é o criadouro ideal para a proliferação da mosca.
Segundo informações, o pecuarista Nego Bilico, um dos mais afetados no primeiro semestre, chegou a fazer um Boletim de Ocorrência na Polícia contra o problema da Mosca.
Cledson Rezende, da Associação dos Produtores de Leite de Populina, confirmou que os pecuaristas estão se mobilizando e buscando modelo de ação movida pelos pecuaristas de Planalto para ingressar também com representação ao Ministério Público.
Fonte cidadaonet.com.br