
Preços baixos de commodities, custos elevados de insumos e um cenário internacional volátil estão colocando os produtores contra a parede.
São Paulo, 24 – As disputas comerciais iniciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atingem produtores de algodão do país num momento em que eles já enfrentam uma conjuntura econômica difícil. Preços baixos de commodities, custos elevados de insumos e um cenário internacional volátil estão colocando os produtores contra a parede.
“Os últimos dois anos foram, do ponto de vista econômico, os mais difíceis que já vi”, disse Lee Cromley, que cultiva 930 hectares de algodão e amendoim em Brooklet, no Estado da Geórgia.
Cromley, que tem cerca de 40 anos de experiência na agricultura, relata perdas constantes em suas lavouras. No caso do algodão, ele estima uma perda de aproximadamente US$ 200 por acre em 2025. E há ainda os custos extras, como os gerados pela recuperação após o furacão Helene no ano passado. “Nossa esperança este ano é cobrir os custos variáveis e abater um pouco dos fixos”, afirmou. “Obviamente, isso não é sustentável.”
Em 2025 até agora, os futuros de algodão negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) acumulam perda de quase 2%. Em um ano, a desvalorização é de mais de 15%.
A guerra tarifária entre EUA e China tem sido um dos principais fatores de pressão. Como a China é o maior consumidor mundial de algodão, qualquer instabilidade na demanda afeta os preços globais da fibra. Agora, o Vietnã é o principal destino para o algodão dos EUA, com mais de 2,5 milhões de fardos (544.300 toneladas) comprados no ano comercial corrente, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Em contraste, as vendas para a China no mesmo período representam menos de 30% desse volume.
Contudo, o Vietnã está entre os países que enfrentam tarifas recíprocas dos EUA. Uma taxa de 46% foi imposta no começo de abril pelo governo norte-americano, que depois anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas. Índia, Bangladesh e Paquistão, também grandes consumidores de algodão, enfrentam tarifas similares.
Parte do setor ainda tem esperança de que não haverá retaliações, o que permitiria que as exportações continuassem sem obstáculos. Mas se as tarifas dos EUA entrarem em vigor plenamente, o impacto poderá ser sentido diretamente pelos consumidores: roupas poderiam ficar 17% mais caras, e produtos têxteis em geral, cerca de 10%. Diferentemente de culturas como milho ou soja, o algodão é mais vulnerável às tarifas, pois gastos com vestuário são os primeiros a serem cortados em tempos de crise econômica.
Além disso, custos com insumos como sementes e fertilizantes seguem elevados e devem subir ainda mais com as novas tarifas. No caso do algodão, o custo com maquinário especializado é outro problema sério: o preço de uma nova colheitadeira de algodão ultrapassa US$ 1 milhão, e ela não é utilizável em lavouras como as de soja ou de milho.
Com tantas adversidades, muitos produtores de algodão estão tendo sérios prejuízos. “Já passamos do ponto de apenas perder dinheiro; agora temos produtores perdendo a fazenda”, disse Gary Adams, presidente do Conselho Nacional do Algodão. Fonte: Dow Jones Newswires.