A circulação de veículos na região da Lagoa Mundaú foi interditada devido à ameaça de desabamento.
Os sabores que costumam enriquecer as refeições dos moradores de Maceió agora correm o risco de se ausentarem das mesas locais. Tainha, bagre, mandim, camurim, mororó, sururu, maçunim, siri e caranguejo, espécies que prosperam na Lagoa Mundaú, enfrentam a ameaça de não serem mais capturadas, pelo menos temporariamente.
Na última sexta-feira (1º), a Capitania dos Portos, ligada à Marinha, emitiu uma proibição de tráfego de embarcações em uma extensa área da Lagoa Mundaú, devido ao risco de desabamento na mina nº 18, usada pela Braskem para a exploração de sal-gema.
Essa decisão representa um marco, sendo a primeira vez, desde o início da crise em 2018 com o afundamento das minas, que as atividades de pesca são formalmente interrompidas. A medida lança uma sombra sobre a subsistência dos pescadores locais e coloca em xeque a disponibilidade dos frutos do mar na região.
A desesperadora situação afetou pelo menos 500 pescadores locais, que já enfrentavam desafios com o assoreamento da lagoa e a crescente poluição. Mauro Santos, presidente da Colônia de Pescadores da Zona 4, que circunda a área isolada devido à exploração da Braskem, destaca que a produção pesqueira vem declinando ao longo dos últimos 10 anos.
“Devido ao temor relacionado a esse afundamento da mina 18 da Braskem, a Capitania emitiu um comunicado proibindo a circulação naquela área. No entanto, é importante destacar que ali não circulamos apenas, ali trabalhamos. É uma distinção crucial, pois interditar uma via sempre permite encontrar uma alternativa. No nosso caso, não podemos interditar a área de trabalho. Não se trata de lazer, é o nosso meio de sustento lá”, explica Mauro.
Andreza Santos, pescadora e marisqueira, relata que a condição da pesca tem se deteriorado nos últimos anos. Com a proibição de pesca na lagoa, ela e outros pescadores estão se deslocando para áreas mais distantes em busca de trabalho.
“Estamos nos virando como podemos. Nos dirigimos para outras regiões, que não são as nossas, para pescar em locais mais distantes. Recebemos agora cestas básicas, o que ajuda, mas não alivia nosso sofrimento como pescadores. Queremos que as pessoas tenham responsabilidade conosco, que somos pescadores. Hoje, deveríamos estar com nossas redes na água”, lamenta Andreza.
Mauro Santos destaca que a maioria dos pescadores reside nas proximidades da Lagoa do Mundaú e, movidos pelo temor, pleiteia a realocação dos Flexais, comunidades situadas no bairro de Bebedouro. A demanda urgente dos pescadores é a concessão de um auxílio ou seguro defeso que viabilize a subsistência.
Durante o último fim de semana, a prefeitura de Maceió iniciou a distribuição de cestas básicas, porém, segundo os pescadores, essa medida ainda se mostra insuficiente.
“Para aqueles que foram impedidos de pescar, tendo a necessidade de levar alimento para casa, a cesta básica já foi um paliativo. É um paliativo enquanto buscamos por uma assistência mais abrangente, seja em forma de auxílio ou seguro [defeso], para melhorar nossa condição. Não podemos depender apenas de comida, pois temos contas a pagar, como água e luz. Por isso, necessitamos de uma ajuda mais abrangente”, apela Mauro.
Nesta segunda-feira (4), a prefeitura realizou uma reunião com o Ministério da Pesca, buscando obter o seguro defeso para os pescadores afetados pela ação da Braskem.
A empresa informa, por meio de nota, que está em processo de construção de um centro de apoio para os pescadores, incluindo um píer. Os projetos foram discutidos com representantes da Colônia de Pescadores Z4 e da Federação dos Pescadores. A Braskem reconhece a situação de isolamento social enfrentada pelos moradores das comunidades dos Flexais.
A empresa reitera que diagnósticos ambientais independentes e outros estudos realizados indicam que não há impacto na qualidade da água nem restrição à atividade pesqueira resultantes de suas operações.
Na última segunda-feira, o Ministério Público Federal de Alagoas e a Defensoria Pública da União emitiram uma recomendação à Braskem, estipulando um prazo de 5 dias para assegurar assistência financeira aos pescadores e marisqueiros afetados pela interdição da Lagoa Mundaú.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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