Imagens mostram o embarque de 145.000 ovinos em mega navio

As 145 mil ovelhas e cabras foram transportadas por um grande transportador de gado. Esses animais estavam prestes a embarcar em uma jornada onde se uniriam a outros 2,6 milhões de animais para o terceiro dia da peregrinação do Hajj, na Arábia Saudita; veja fotos e entenda a peregrinação

As áridas terras de Somalilândia testemunharam um espetáculo exuberante que ecoou além das fronteiras físicas da região – o embarque de 145 mil ovinos com destino à Arábia Saudita. Este evento, mais do que um simples ato comercial, foi uma cena repleta de significado, destacando a interseção única entre tradição, economia e identidade cultural do país.

Esses animais estavam prestes a embarcar em uma jornada onde se uniriam a outros 2,6 milhões de animais para o terceiro dia da peregrinação do Hajj. O processo de movimentação dos rebanhos pelos pastos até o embarque nos transportadores de gado em Berbera não é apenas um capítulo na história econômica da região, é uma narrativa que une práticas culturais profundamente enraizadas à busca pela estabilidade financeira.

Ao longo deste artigo da Compre Rural, portal referência em conteúdos relevantes do agro, exploramos como a exportação de ovinos, em especial durante o período do Hajj, transcende seu valor monetário para desempenhar um papel vital em diferentes aspectos da vida somalilândesa. Este não é apenas um ato de exportação, é uma jornada que reflete a resiliência da comunidade local, proporcionando não apenas receitas, mas também empregos essenciais; entenda melhor.

Somalilândia e seu não reconhecimento internacional

Localizada na região estratégica do Chifre da África, Somalilândia é um Estado não reconhecido internacionalmente que, apesar de oficialmente pertencer à Somália, declarou unilateralmente sua independência em 1991. Transformando-se em um estado de fato, a região incorpora a antiga Somalilândia Britânica e faz fronteira com Djibuti, Etiópia e Somália (Puntlândia). Com uma área de cerca de 137,600 km², Somalilândia é composta por cinco regiões administrativas, com uma sexta região, Saaxil, criada em 1996. Sua capital e sede do governo é Hargeisa.

Foto: Divulgação

A história de Somalilândia remonta ao Movimento Nacional Somali (SNM), que, em 1991, revogou o ato de união que unificara a Somália Italiana e a Somalilândia Britânica. Este ato culminou na declaração de independência da República da Somalilândia. Desde então, a região manteve uma existência estável, apoiada por um governo forte e infraestrutura econômica legada por programas de auxílio militar britânico, russo e americano.

No entanto, apesar da busca pela estabilidade, a Somalilândia enfrenta desafios significativos. Desde 1998, a autoridade sobre as regiões de Sool e Sanaag tem sido contestada pela Puntlândia, um estado autodeclarado autônomo da Somália. Essa disputa territorial cria obstáculos para a independência econômica da Somalilândia, destacando a complexidade das questões enfrentadas por essa nação, que luta por legitimidade e prosperidade em um cenário geopolítico instável.

Economia e tradição: A simbiose da pecuária na Somalilândia

Na Somalilândia, uma república autodeclarada não reconhecida por muitas nações, a interseção entre economia e tradição se desenrola de maneira extremamente próxima, especialmente quando se trata da pecuária. O embarque de 145 mil ovelhas e cabras com destino à Arábia Saudita não apenas destaca a importância econômica desse setor, mas também revela a profunda conexão entre a tradição cultural e a sustentabilidade financeira na região.

Economia em movimento

Receitas de exportação dominadas pela pecuária: A Somalilândia depende significativamente da exportação de animais vivos, especialmente ovinos e caprinos, para garantir suas receitas de exportação. Mais de 85% dessas receitas vêm da venda desses animais, destacando a relevância econômica crucial do setor pecuário.

Emprego e subsistência: A pecuária também serve como o principal empregador na região, proporcionando meios de subsistência para aproximadamente 70% da população local. As comunidades dependem da criação dos ovinos não apenas como fonte de renda, mas como um modo de vida tradicional profundamente enraizado.

Desafios e considerações éticas

Imagem: Khaled Abdullah/Reuters

Equilíbrio entre tradição e bem-estar animal: Enquanto a pecuária e práticas relacionadas desempenham um papel vital na economia, surge a necessidade de encontrar um equilíbrio ético. O transporte de animais em larga escala para rituais de sacrifício levanta preocupações sobre o bem-estar animal, exigindo uma reflexão sobre práticas que respeitem tanto a tradição quanto os direitos dos animais.

Geopolítica e desafios de reconhecimento: Somalilândia enfrenta desafios geopolíticos, não sendo reconhecida como país por muitas nações. Essa falta de reconhecimento pode afetar as oportunidades econômicas e a estabilidade da região.

No país, a pecuária transcende seu papel econômico básico, mergulhando profundamente na tradição e na identidade cultural. A interdependência entre economia e costumes locais destaca como a preservação das práticas tradicionais pode ser vital para o sustento e a resiliência de uma comunidade, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de abordar desafios éticos para garantir um equilíbrio sustentável.

Como o ritual de sacrifício funciona

O ritual de sacrifício durante a peregrinação do Hajj, conforme prescrito pelo Alcorão, envolve vários passos e práticas específicas. Aqui está uma explicação geral de como o ritual é conduzido:

Seleção do animal: De acordo com as diretrizes islâmicas, o animal a ser sacrificado deve ser saudável, adulto e sem defeitos. As opções mais comuns são ovelhas, cabras, bois ou camelos. A escolha do animal pode depender da capacidade financeira do peregrino, pois diferentes animais têm diferentes custos associados.

Foto: Divulgação

Intenção e propósito: Antes do sacrifício, o peregrino deve fazer uma intenção clara (niyyah) de que está realizando o ato como um ato de adoração a Alá e em conformidade com os ensinamentos islâmicos. O sacrifício é considerado um gesto de submissão a Deus e um lembrete da disposição do profeta Ibrahim (Abraão) de sacrificar seu próprio filho em obediência a Deus.

Rituais de sacríficio: O animal é posicionado de maneira apropriada, e o peregrino, ou o designado para realizar o sacrifício, recita uma oração especial. Em seguida, o animal é sacrificado por meio de um corte na garganta, assegurando uma morte rápida e humanitária. O objetivo é minimizar o sofrimento do animal durante o processo.

Distribuição da carne: Após o sacrifício, a carne do animal é dividida em três partes. Uma parte é destinada à família que ofereceu o sacrifício, outra parte é compartilhada com amigos e vizinhos, e a terceira parte é reservada para os menos afortunados e necessitados. Essa prática enfatiza a importância da caridade e da partilha na comunidade islâmica.

Conclusão do ritual: O ritual de sacrifício ocorre durante os dias de Eid al-Adha, que marca o fim da peregrinação do Hajj. Esses dias são de grande significado espiritual e celebrados pela comunidade muçulmana em todo o mundo.

Vale ressaltar que o sacrifício de animais no contexto do Hajj é uma prática que segue orientações religiosas e éticas. No entanto, as condições e práticas específicas podem variar entre as comunidades muçulmanas, e há um crescente reconhecimento da necessidade de garantir o bem-estar dos animais envolvidos, desde a seleção até a execução do sacrifício.

Importância da exportação dos ovinos para o ritual na Arábia Saudita

A exportação de ovinos para a Arábia Saudita desempenha um papel crucial, representando uma fonte significativa de receita e sustento para muitas comunidades. Esta prática, especialmente durante o período do Hajj, é marcada por uma série de implicações econômicas e culturais que contribuem para a estabilidade financeira e a preservação de tradições locais.

Receitas de exportação: A exportação de ovinos representa uma parcela significativa das receitas de exportação da Somalilândia. As vendas desses animais são uma fonte vital de receita, ajudando a sustentar a economia local e proporcionando fundos essenciais para o desenvolvimento e investimento em infraestrutura.

Emprego e sustento: Além das receitas, a exportação desses animais também é uma importante fonte de emprego na Somalilândia. Desde a criação e cuidado dos bichos até as atividades logísticas associadas ao transporte, essa prática emprega uma parcela substancial da população local. A sustentação dessa cadeia de produção fortalece a segurança econômica das comunidades envolvidas.

Preservação de tradições: A exportação de ovinos para a Arábia Saudita durante o Hajj não é apenas uma atividade econômica; é uma prática profundamente enraizada nas tradições culturais e religiosas da região. O cumprimento das prescrições do Alcorão, onde cada peregrino é incentivado a sacrificar um animal, fortalece a conexão entre a comunidade somalilândesa e sua fé, contribuindo para a preservação dessas tradições ao longo do tempo.

Relações internacionais e reconhecimento: Além dos benefícios econômicos diretos, a exportação de ovinos para a Arábia Saudita também pode ter implicações positivas nas relações internacionais do país. Ao cumprir demandas específicas do mercado saudita, a região pode criar laços comerciais e, eventualmente, buscar reconhecimento internacional, o que é crucial para a estabilidade e desenvolvimento a longo prazo.

A exportação dos animais vai além de uma transação comercial, é uma prática multifacetada que contribui para a prosperidade econômica, preservação cultural e potencial reconhecimento internacional da região. Essa atividade reflete a habilidade da Somalilândia em harmonizar tradição e economia para promover o desenvolvimento sustentável.

Confira abaixo as fotos do embarque dos 145 mil ovinos:

Foto: George Steinmetz
Foto: George Steinmetz

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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