ILPF: um caminho sem volta

Entenda os motivos que levam o pecuarista que escolhe esse sistema a não querer mais voltar ao tradicionalismo de ter apenas uma fonte de renda.

Sair da acomodação talvez seja um dos maiores desafios do ser humano, mudar de comportamento, buscar atitudes diferentes, deixar a zona de conforto, fazer de forma diferente, inovar. Como já ouvi muito, “arrumar sarna para se coçar”.

A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) tem sido uma destas “sarnas” para muitos agricultores e pecuaristas que conheço, porém de forma irreversível. A vida com mais emoção passa a ser muito mais divertida, já ouvi isso até de gente famosa, como de meu amigo Carlos Viacava, que hoje se vê renovado pelos desafios da tecnologia da ILPF.

Na verdade, o que tem acontecido com estes produtores é que eles passam a abrir um novo leque de oportunidades dentro da porteira que ainda não conheciam, a “intensificação sustentável” acaba por fascinar seus adeptos. Estes produtores passam a lidar com um potencial produtivo de suas propriedades que antes não imaginavam… Fazer o mesmo talhão produzir soja, milho, boi e até madeira com altas produtividades, aumentar drasticamente a lotação animal em suas áreas mesmo tomando boa parte da área com agricultura. Também passam a lidar com suas limitações de gestão, de pessoal, de fluxo de caixa, de crédito, de sucessão. Enfim uma “montanha russa” com emoção.

E é esta emoção que tem atraído e provocado esta crescente adesão por sistemas integrados de produção agropecuária (os ditos SIPA ou ILPF), o gosto pelos desafios, o aprimoramento pessoal destes produtores, de seus colaboradores e de seus familiares é o que de maior se agrega quando há introdução de um sistema integrado. Boa parte do resultado produtivo acaba advindo deste aprimoramento multidisciplinar das pessoas.

ilpf
Foto: Consórcio de Brachiária Ruzizienses e feijão Caupi, em meio aos renques de eucalipto, Sítio Nelson Guerreiro, Brotas-SP.

Comparo os “ILPFers” a Triatletas, Nadar, Pedalar e Correr, exige do atleta muito mais dedicação, esforço, conhecimento, estratégia para conseguir executar as três modalidades e ainda sair inteiro no final.

A receita para não se frustrar é simples “pense grande, comece pequeno e cresça rápido”. Temos convivido com inúmeros produtores que seguiram esta opção e atualmente satirizam seu passado recente, lembrando das terríveis safras iniciais de soja, dos desastres do controle de pragas no milho, dos equipamentos obsoletos do começo, dão grandes gargalhadas de suas “curvas de aprendizado”, não se reconhecem mais como aquele pecuarista “reclamão” que atribuía ao governo, à mídia, ao mercado, ao frigorífico, ….. todos os seus fracassos, aquele que jamais fazia “minha culpa”, acreditava que havia uma “teoria da conspiração” contra ele, onde ele conseguia construir uma redoma refratária e tudo acabava por depender da sorte e não do empenho e dedicação.

Assistir esta transformação é o que mais fascina, o “antes e o depois” destas fazendas é muito gratificante para quem passa a acompanhar, fazendas que hoje empregam cinco vezes mais, movimentam 150 vezes mais capital do que antes, passam a ter faturamento líquido 15 vezes maior.

E a receita para os dois casos tem sido os bons “coachs”, antigamente chamávamos de treinadores, técnicos bem capacitados que lidam com esta multiplicidade de maneira adequada, profissionais que estão acostumados a lidar com o principal recurso necessário ao ILPF, pessoas. Especialista em gente, capaz de motivar, ensinar, educar, promover a necessária mudança comportamental do grupo e de seus líderes.

Os resultados da integração lavoura-pecuária-floresta dependerão 10% da tecnologia e 90% das atitudes dos seus líderes e de seus liderados.

Com base no que expusemos anteriormente, quais seriam estes primeiros passos?

A maior virtude dos bem-sucedidos produtores no ILPF tem sido sua curiosidade. A incessante busca por aprimoramento, por conhecimento, por capacitação, isso tem feito com que estes produtores passem a conhecer outras realidades e com isso passam a enfrentar novos desafios. Com base em experiências de outros produtores, os dias de campo, os treinamentos, as visitas técnicas, as viagens, enfim o exercício da constante busca por inovação, a não acomodação de achar que já é autossuficiente, que não necessita mais estudar, e que sua renda atual já lhe basta, estas atitudes empreendedoras é que fazem a grande diferença.

As tecnologias no campo têm sofrido uma constante metamorfose, uma avalanche de ferramentas de informática, de utilização de imagens de satélite, de controles, de avanços genéticos, de avanços biológicos, uma série de produtos inovadores e de técnicas diferenciadas para alcançar melhores resultados técnicos e financeiros. Uma panaceia capaz de deixar qualquer um perdido. Qualquer produtor que esteja em grupos técnicos de Whatsapp, diariamente recebe um imenso volume de informações de diversas partes do mundo, discernir em que nível ele está e quais atitudes tomar no momento atual para conseguir progredir tem sido um grande desafio.

Ainda é comum fazendas de pecuária sem uma boa nutrição, com pastagens degradadas se dando ao luxo de implementar transferência de embriões; agricultor com tecnologia avançada de GPS RTK para suas máquinas, porém negligenciando sua correção de solos. A falsa ideia sobre o que é tecnologia, a busca da sofisticação substituindo a verdadeira tecnologia, como diz meu amigo João K, “a agricultura brasileira precisa mais precisão na agricultura do que agricultura de precisão”.

Devemos entender que usar tecnologia é principalmente utilizar conhecimento, utilizar o enorme volume de produção científica que este país produz em agropecuária tropical. Buscar informação de qualidade nestes diferentes centros de excelência que temos espalhados pelo país, buscar fazendas de referência e por fim trazer um técnico a tira colo, de preferência “que não tenha crachá nem boné”, que vá lhe auxiliar na tomada de decisão sobre as melhores tecnologias e mais adequadas ao seu sistema de produção, sem direcionamentos comerciais.

A integração lavoura-pecuária ou lavoura-pecuária-floresta, tem obrigado o produtor a um dinamismo diferenciado, a “agropecuária sem parar”, a fazenda possui diferentes safras, muitas até sobrepostas, as atividades não param mais, todos os dias são repletos de atividades, a cronologia destas ações passa a ser algo crucial no planejamento, não se pode atrasar mais as tomadas de decisão, as compras de insumos, os plantios de determinadas culturas ou pastagens, as colheitas, o dia a dia passa a ser dinâmico e por isso fascinante.

milho na ilpf
Foto: Consórcio de Brachiaria Marandu e milho, sem prejudicar a produtividade do milho, faz. Santa Brígida, Ipameri-GO.

Algumas novas fronteiras do conhecimento também começam a serem desbravadas dentro destes sistemas integrados. Tais como, a utilização de produtos não convencionais nas lavouras, utilização de inoculação biológica, que também se está aplicando em pastagens, uma mescla do conhecimento tradicional com as inovações biológicas para melhoria dos ambientes produtivos. O conhecimento do solo passa a ser uma nova página, muito além de e suas características físico químicas, sua composição biológica, os seres que ali habitam e os diferentes exsudatos promovidos pelas diferentes culturas em rotação, as novas ferramentas biológicas, a aplicação de bactérias benéficas para as plantas e para o solo, utilização massiva de adubação orgânica em compostagem com  rocha fosfática.

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Tais atitudes, aliadas a uma tecnologia de controles de dados de todas estas interações, tem construído um novo produtor rural, onde o conhecimento e a busca por excelência passam a fazer parte do dia a dia, com isso, novos patamares de produtividade têm sido alcançados por estes produtores, números estes muito distantes da “vala comum”.

Eis que vários produtores estão arrumando “Sarna Para se Coçar”

Fica a dica www.redeilpf.org.br

Fonte: Scot Consultoria

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