Pasto verde mesmo na época da estiagem é realidade nas fazendas que adotam o sistema silvipastoril.
Isso porque a árvore, entre outros benefícios, mantém a umidade do solo e promove um microclima favorável ao desenvolvimento da forragem. É o que mostra um trabalho da Embrapa que avalia e compara o microclima em pastagens dentro de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) às que estão a pleno sol. Os resultados preliminares revelam que existe uma diferença de dois graus de temperatura entre elas.
Os resultados vão ser apresentados nesta segunda (13) durante a programação da Agropec 2018, no parque de exposições de Paragominas, a partir das 19h. O evento, que é aberto ao público, conta com a participação de dirigentes e especialistas da Embrapa, diretores do Sindicato Rural de Paragominas, técnicos, extensionistas e produtores rurais. Nos dias 14 e 15 haverá a visita técnica às fazendas para conhecer in loco os sistemas ILPF.
O trabalho iniciou em agosto de 2017 com a instalação de duas estações meteorológicas em uma fazenda com gado leiteiro no município de Paragominas, região Nordeste do Pará. As estações estão localizadas em duas áreas de pastagem: uma dentro de um sistema IPF (integração pecuária-floresta) e outra em uma pastagem a pleno solo, chamada de pastagem solteira. De acordo com Alailson Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, os equipamentos coletam, diariamente, temperatura e umidade do ar, radiação solar, velocidade e direção do vento e precipitação (chuvas).
Após um ano de coleta de dados, os pesquisadores identificaram que a temperatura no pasto dentro do sistema é, em média, dois graus menor que a temperatura no pasto a céu aberto.
“O valor pode parecer pequeno, mas faz uma grande diferença no conforto animal e no microclima dentro da pastagem”, ressalta o pesquisador.
Ele explica ainda que esse valor é preliminar, pois é preciso avaliar as temperaturas por um período maior de tempo, onde a sazonalidade e os fenômenos de grande escala têm forte influência.
Além da diferença de temperatura, os dados mostram que há uma redução da velocidade do vento, na manutenção da umidade do solo e do ar e na redução da radiação solar sobre a pastagem. “Essa condição criada pela presença da árvore no sistema promove o bem-estar animal e mantém esse pasto, que está sob o sombreamento da árvore, verde por mais tempo, principalmente na época de estresse hídrico, aumentando assim a disponibilidade de alimento para o gado”, explica Gladys Martinez, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
Experiência de produtor comprova resultados
O pasto verde no período seco do ano foi o que viu o pecuarista Simon Bueno quando teve contato pela primeira vez com o sistema silvipastoril há cerca de 12 anos. A cena foi fundamental para que o produtor tomasse a decisão de implantar esse sistema em sua propriedade, a fazenda Diana, em Paragominas (PA). “Quando vimos que o capim em baixo do sistema silvipastoril se mantinha verde e o capim no pasto solteiro estava seco, decidimos investir no plantio das árvores”, relata Simon Bueno.
Ele diz ainda que o componente arbóreo no sistema gera mais receita dentro da mesma área. “O eucalipto, por exemplo, pode gerar uma receita de mil reais por hectare. Então você aproveita a sombra que ele gera, melhora o conforto do gado, gera emprego e receita no mesmo local”, destaca.
São 1.100 hectares com o sistema ILPF na fazenda Diana, quase totalmente voltados para a produção de leite. No dia-a-dia da fazenda, o gerente Marcus Ubiratan diz que mesmo na época de estiagem, que no Pará é neste segundo semestre do ano, a pastagem não seca totalmente como acontece nas áreas onde o pasto está a pleno sol.
“O eucalipto retém umidade no solo, ajuda o capim na rebrota, na produtividade e aumenta a disponibilidade de alimento para o gado. O que queremos no final é produzir mais na mesma área com sustentabilidade para a atividade e para o meio ambiente”, finaliza.
Projeto da Embrapa coloca o boi na sombra
Fonte: Embrapa