A pecuária pode ser a solução para os gases do efeito estufa – é assim que o pesquisador da Embrapa vê na atualidade a atividade pecuária brasileira
“Recuperar, adubar, todos os pastos é algo complexo, mas a integração permite fazer de uma maneira totalmente rentável, é uma sacada genial e que o Brasil é líder no mundo, principalmente quanto à gente relaciona com a pecuária”. Uma pecuária sustentável que engloba os três pilares: da produção, da produtividade que gera lucro e de quebra com um menor impacto ambiental, é assim que o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Corte, Roberto Giolo de Almeida vê na atualidade a atividade pecuária brasileira.
Almeida que já atuou em vários projetos de pesquisas na área de sistemas de produção com foco em gado de corte, com destaque para os projetos Carne Carbono Neutro e Plataforma Pecuária de Baixa Emissão de Carbono, palestrou durante o 26º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), realizado em julho numa das cidades que mais aliam tecnologia ao agronegócio no interior paulista, Ribeirão Preto.
Segundo ele, até os anos 2000 a pecuária brasileira apresentava baixa produtividade, e em decorrência disso, uma maior emissão de gases de efeito estufa, o que associado ao desmatamento era um panorama bastante negativo e impactante para a pecuária nacional.
Panorama este que mudou completamente com a instituição do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que é uma política pública composta de um conjunto de ações que visam promover a ampliação da adoção de algumas tecnologias agropecuárias sustentáveis com alto potencial de mitigação das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) e combate ao aquecimento global.
“O Plano ABC teve bastante êxito com tecnológicas adequadas e mitigadoras dos gases de efeito estufa e que atualmente nós estamos num outro patamar com o plano ABC + e novas tecnologias para o uso do agricultor, contribuindo para uma pecuária e agricultura de menor impacto ambiental, obviamente no contexto dos gases de efeito estufa. Quanto menos carbono você emite, maior é a produtividade”, explicou o pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
Para ele o símbolo virtuoso do bom manejo é possível produzir mais, e ao produzir mais, remover carbono da atmosfera e emitir menos por unidade de produto. “E isso é possível, o Brasil tem hoje tecnologias que permitem com que o produtor faça isso, ou seja, a gente consegue ter uma pecuária sustentável. Por volta dos anos 2000 o Brasil tinha poucas pesquisas sobre a relação carbono x pecuária, por exemplo, poucos e pontuais dados brasileiros sobre o nosso sistema de produção. A partir do Plano ABC nós tivemos um investimento bastante forte em pesquisas científicas sobre essa área e hoje nós temos sim índices relacionados a nossos sistemas e que podem então serem adotados nesses cálculos”, destacou.
Sistema de integração permite unir rentabilidade com preservação ambiental
O pesquisador explicou que tecnologias como os sistemas de integração de um modo geral, tanto o Sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP) quanto o Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), tem um potencial muito grande que permite, por exemplo, reformar pastagens de uma maneira totalmente rentável ao produtor.
“Adubar todos os pastos é algo complexo, mas a integração permite fazer de uma maneira totalmente rentável, é uma sacada genial e que o Brasil é líder no mundo, principalmente quanto à gente relaciona com a pecuária. Mas, o agricultor já percebeu também os benefícios, um sistema de integração, considerando a soja tem incrementos de duas a quinze sacas a mais de uma safra vinda depois de um pasto no sistema integração, isso há algum tempo numa revisão que fiz. Olha o benefício para a agricultura do sistema de integração”, enfatizou.
Para o pesquisador existe um lado bastante otimista que realmente o agronegócio brasileiro tem muito mais oportunidades neste contexto de carbono, mas é claro que precisa rapidamente equacionar o problema de desmatamento.
“Inicialmente o Plano ABC propunha um aumento em 4 milhões de hectares, em 2010, mas chegamos em 2020 com 17 milhões, então mostra que realmente o produtor entendeu o apelo da tecnologia tanto mais que está utilizando muito mais do que a meta proposta inicialmente, tem valor esse tipo de sistema”, finalizou.