Pietro Baruselli diz que o índice de inseminação deve saltar de 10% para 20% e que é preciso se preparar para isso, inclusive com formação de profissionais
O investimento em tecnologia de IATF permite que produtores tenham 25% a mais de ganho se comparado com a monta natural.
Não é por acaso que a ferramenta vem ganhando cada vez mais espaço dentro do processo de inseminação artificial nos rebanhos. Só em 2016, foram feitos mais de 11 milhões de protocolos no país. E para 2017, é esperado mais crescimento.
Este assunto está em pauta nesta edição do ABS NEWS. Em plena temporada de corte, uma entrevista especial com o professor do curso da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), Pietro Baruselli.
No bate-papo, ele conta um pouco mais sobre aspectos da tecnologia que se tornou forte aliada na busca do melhoramento genético, fala sobre a escolha do touro ideal e da necessidade de se investir em IATF para garantir maior lucratividade na fazenda.
ABS NEWS – Como o senhor analisa o cenário da IATF em 2017?
Pietro Baruselli: Acredito que nós vamos continuar crescendo. Chegamos a 11 milhões de sincronizações no Brasil em 2016, o que representa 85% do mercado de Inseminação Artificial.
Acreditamos que a técnica vai continuar crescendo em cima desses 15% que estão faltando. E se o mercado de sêmen crescer, a IATF continuará crescendo também.
Hoje, a IATF e o mercado de sêmen estão muito associados em termos de crescimento, uma vez que praticamente todas as inseminações no país são feitas por IATF.
ABS NEWS – A evolução tem sido mais lenta do que o desejável? Isso interfere e preocupa em relação ao futuro do melhoramento genético? Poderíamos ter uma realidade diferente?
Pietro Baruselli: A evolução tem sido rápida, uma vez que em 2002 realizávamos 100 mil sincronizações para IATF e agora estamos em 11 milhões.
Então, o crescimento nos últimos 15 anos foi muito elevado, só que estamos preocupados com a queda de 7% que ocorreu na inseminação artificial entre 2015 e 2016. Mas, mesmo com a queda no número de doses comercializadas, a IATF ainda teve um aumento de 5%.
Então, todos do mercado estão trabalhando na tentativa de fazer com que cresçam os dois: tanto o mercado da venda de sêmen para o melhoramento genético quanto a IATF, que facilita toda a aplicação da tecnologia e também melhora a eficiência reprodutiva do rebanho. Tudo isso ajuda bastante o crescimento e a utilização de ferramentas para melhoramento e eficiência reprodutiva.
ABS NEWS – As condições de mercado, preço do leite e/ou arroba interferem diretamente nesses resultados?
Pietro Baruselli: Quanto ao preço do leite e da carne, logicamente eles estão relacionados ao retorno da atividade de corte e de leite. Se eles estiverem em patamares baixos, logicamente eles refletem na utilização da tecnologia de inseminação, que está ligada ao melhoramento porque inseminar significa acreditar no futuro.
Estamos plantando hoje uma semente para ser colhida daqui dois, três ou quatro anos. Então, significa você acreditar no futuro.
Se geralmente as condições econômicas, de preço, ou condições políticas do país não estão muito boas, isso reflete no mercado e faz com que o produtor acabe diminuindo o investimento em genética. Isso pode ter um reflexo negativo na inseminação.
ABS NEWS – Qual a previsão para a próxima safra? Como o senhor prevê o cenário da IATF para 2018?
Pietro Baruselli: Acredito que o cenário da IATF para 2018 é positivo. Acredito que vamos continuar crescendo no mercado, tendo em vista que ainda inseminamos somente de 10 a 12% das matrizes brasileiras, o que é muito pouco.
A gente tem um mercado muito grande pela frente e eu acredito que ela vai continuar crescendo porque o retorno econômico da utilização dessa ferramenta é extremamente positivo quando comparado com a opção que nós temos, que seria a monta natural.
Utilizar a IATF tanto em gado de corte quanto em gado de leite com sêmen de qualidade e genética superior faz com que o criador ganhe mais dinheiro.
Então ele vai se organizar para poder implantar esses programas e ganhar mais dinheiro com essa atividade. Por isso eu acredito bastante que vai incrementar sua utilização.
Para isso, temos que qualificar técnicos, veterinários e especialistas para oferecer um serviço de qualidade ao produtor, que garanta resultados satisfatórios.
ABS NEWS – A médio e a longo prazos qual a expectativa desse comportamento? Podemos pensar em 5 e 10 anos…
Pietro Baruselli: Eu acredito que o mercado dentro dos próximos 5 a 10 anos deva aumentar bastante também. Devemos chegar a 20% das matrizes inseminadas e para isso vamos precisar treinar e qualificar muitas pessoas para oferecer um serviço de qualidade.
Hoje a gente já conta com 3 a 4 mil especialistas no campo e vamos ter que chegar próximo aos 8 mil. Uma das coisas que precisamos fazer é ter mão de obra qualificada para oferecer serviço de qualidade e dobrar o mercado, que ainda representa somente 20% das vacas brasileiras inseminadas. Mas eu acredito que isso deva acontecer nos próximos 5 ou 10 anos.
ABS NEWS – Como escolher um bom touro?
Pietro Baruselli: Eu acho que para escolher um touro nós temos que olhar os números de produtividade, usando todas as ferramentas disponíveis para a identificação dos touros de qualidade para que a gente possa realmente escolher um touro que tenha alta acurácia na parte de produção de carne ou de leite.
O produtor deve se atentar muito a números na hora da escolha. Números relacionados ao que esse touro transmite para a próxima geração em termos de produtividade.
ABS NEWS – O que o produtor deve levar em consideração antes de investir em genética?
Pietro Baruselli: Todo produtor que investe em genética precisa ter a fazenda organizada para mensurar os ganhos que ele está tendo com a utilização de indivíduos superiores. Então o que a gente recomenda é uma organização da fazenda.
Uma organização com coleta de informações, como números de todos os animais, identificação, divisão por categoria, controle de peso, controle de produção de leite no caso de fazendas leiteiras, então tudo isso muito bem organizado e mensurado para que você consiga verificar o andamento do seu programa de melhoramento genético.
ABS NEWS – Existe alguma matemática sobre o custo-benefício da IATF? Representa quantos % do custo de produção e do lucro?
Pietro Baruselli: Nós fizemos alguns estudos sobre o retorno econômico da IATF comparado à monta natural e devido aos ganhos principalmente ligados à antecipação da concepção na estação de monta.
A introdução de touros melhoradores pela inseminação artificial faz com que o ganho, pagando todos os custos operacionais, chegue a 25% se comparado à monta natural. A monta natural atrasa a concepção e faz com que os bezerros nasçam em uma época mais desfavorável no Brasil.
Fonte: ABS News