Projeto de Lei instituiu o Dia Nacional do Produtor de Leite, celebrado anualmente no dia 12 de julho; mas com o cenário atual da atividade há o que celebrar?
O projeto de lei nº 6487/2019 instituiu o Dia Nacional do Produtor de Leite, a ser comemorado, anualmente, no dia 12 de julho, em todo o território nacional, com o objetivo de valorizar o produtor de leite brasileiro, bem como incentivar o consumo de leite e seus derivados. A pecuária leiteira do Brasil iniciou em 1532, quando a expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa trouxe da Europa para a então colônia portuguesa os primeiros bovinos. Durante quase cinco séculos de existência, a atividade caminhou morosamente, sem grandes evoluções tecnológicas.
A partir de 1950, coincidindo com o surto da industrialização do País, a pecuária leiteira entrou na sua fase dita moderna, mas mesmo assim o progresso continuou muito tímido. No final dos anos 60, o rumo desta história começou a se alterar, quando o revolucionário leite tipo B ganhou expressão nacional. Entretanto, o salto mais qualitativo da pecuária leiteira aconteceu somente por volta de 1980 e ganhou impulso extraordinário com o fim da política de tabelamento de preços e o início do processo de globalização econômica nos anos 90, que obrigou o produtor nacional a se profissionalizar e a enfrentar a duríssima competição com os produtos lácteos importados.
Atualmente, a cadeia produtiva do leite é uma das mais complexas atividades do agronegócio brasileiro. Tem grande importância econômica, social e ambiental e, atualmente, o País é o terceiro maior produtor mundial de leite, com o crescimento médio de 4% a 5% ao ano.
“Quase a metade do leite produzido no Brasil vem de pequenas fazendas, 47% do volume total. Para 1,2 milhões de produtores o leite é o salário do mês. Leite é a atividade que mais gera emprego no País, mais de 4 milhões de pessoas trabalham nas indústrias de laticínios e no campo com a produção primária. O leite representa 24% do Valor Bruto da Produção (VBP) gerado pela pecuária, sendo inferior somente ao da carne bovina e superior ao valor da produção de frangos, suínos e ovos.” – Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), Rosângela Zoccal.
A pecuária de leite é a única atividade presente em 99% dos municípios brasileiros. Segundo o Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 1,1 milhão de propriedades leiteiras, sendo que 71% delas produzem até 50 litros de leite por dia. De acordo com dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/IBGE) de 2020, por ano, são produzidos mais de 35 bilhões de litros de leite. Nos últimos 20 anos, a produção cresceu 80% e o número de vacas ordenhadas foi reduzido em 10%, o que mostra a eficiência da atividade leiteira no Brasil.
A produção está distribuída principalmente nos estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina. Juntos, correspondem a quase 25 bilhões de litros, conforme o PPM 2020. Cada habitante consome, em média, o equivalente a 180 litros de leite por ano, na forma dos mais diversos derivados, como queijo, manteiga, requeijão e iogurte.
Debandada se produtores de leite recente causada pelo cenário econômico adverso
A alta dos insumos, o clima adverso, que comprometeu as pastagens, e a inflação, que reduziu o poder de compra do brasileiro, têm afetado a pecuária leiteira desde o ano passado, fazendo do atual choque de oferta de leite o pior desde a década de 1990, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc).
Um exemplo é o Estado de Santa Catarina, que está entre os cinco maiores produtores da matéria-prima do país, cerca de 9 mil produtores deixaram a atividade desde o início da pandemia. O setor vem passando por transformações, e a cada ano os produtores investem em tecnologia para ampliar a produtividade por animal ou abandonam o segmento.
Há algo para celebrar?