Guerra na Ucrânia impulsiona trigo e milho na Bolsa de Chicago

Preços de cereais fecharam o mês de setembro em alta; algodão liderou quedas de “soft commodities” na bolsa de Nova York.

As tensões entre Rússia e Ucrânia, que estão em guerra desde fevereiro, voltaram a crescer nas últimas semanas, um quadro que pôs em dúvida a continuidade do acordo que, há dois meses, abriu um corredor de exportações de grãos ucranianos pelo Mar Negro. Em setembro, esse potencial ameaça de restrição da oferta deu novo impulso às cotações de trigo e milho no mercado internacional.

Na bolsa de Chicago, a cotação média dos contratos de trigo de segunda posição de entrega, que são normalmente os mais líquidos, avançou 8,44% no mês passado, para US$ 8,7081, de acordo com o Valor Data. Já o milho subiu 7,89%, para US$ 6,8031 o bushel, em média.

Na reta final de setembro, a Rússia anunciou a decisão de anexar quatro territórios ucranianos — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson —, o que aumentou o temor de que haja nova paralisação do fluxo de comércio. A anexação dos territórios já seria, por si só, um elemento de tensão nos mercados, mas ele não foi o único. Ao longo do mês, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que poderia fechar o corredor de exportações porque, segundo ele, a Ucrânia estaria descumprindo os termos do acordo ao priorizar a Europa ocidental, e não países em desenvolvimento, em seus embarques de alimentos. O governo ucraniano contestou as alegações.

No mercado, teme-se que um eventual novo bloqueio ao comércio pelo Mar Negro impeça o envio de grãos ao exterior não apenas na Ucrânia, mas também na própria Rússia. Os russos, líderes globais na produção de trigo, preveem colher 100 milhões de toneladas do cereal nesta temporada, um recorde. Se o país sofrer novas sanções internacionais por causa da anexação dos territórios ucranianos, parte dessa colheita histórica pode não chegar aos importadores.

Os problemas climáticos, que têm afetado as lavouras no Hemisfério Norte, foram outro elemento de sustentação dos preços de trigo e milho no mês passado, diz Roberto Sandoli, gerente sênior de grãos da Hedgepoint Global Markets. Estados Unidos e Europa sofreram principalmente com a estiagem na atual temporada. “Na Europa, a safra de milho caiu 10 milhões de toneladas por causa da seca”, pontuou ele.

No mercado da soja, o bom andamento do plantio nas primeiras semanas de trabalho de campo nas lavouras brasileiras — a semeadura da safra 2022/23 começou em meados de setembro no país — e o avanço da colheita nos EUA pressionaram as cotações no mês passado. Entretanto, o aumento dos preços de trigo e milho ajudou a limitar a desvalorização da oleaginosa. Os contratos de segunda posição da soja encerraram o mês em queda de apenas 0,89%, a US$ 14,3274 o bushel, em média.

Nova York

Entre as commodities agrícolas negociadas na bolsa de Nova York, somente o suco de laranja fechou setembro em alta. Os contratos da bebida concentrada e congelada (FCOJ, na sigla em inglês) subiram 1,15%, para US$ 1,7289 por libra-peso, em média, segundo o Valor Data, em parte como reflexo do início da temporada de furacões nos Estados Unidos, que atinge as plantações da Flórida, o maior produtor da fruta no país.

Como são matérias-primas de produtos de segunda necessidade, as chamadas “soft commodities” desvalorizam-se mais rapidamente quando há sinais de retração do consumo. No mês passado, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou mais uma vez os juros nos EUA, o que acentuou o receio do mercado com uma recessão global, pressionando especialmente o cacau, que caiu 2,45%, e o algodão. A média dos contratos de segunda posição da pluma recuou 9,14%, para 97,59 centavos de dólar por libra-peso, mas, na comparação entre os preços de fechamento de agosto e setembro, o tombo foi de quase 25%.

Fonte: Valor Econômico

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