Os conflitos no Oriente Médio devem devem pesar principalmente sobre o câmbio, o que resultaria em exportações de commodities mais agressivas; Brasil pode ganhar com isso
O dólar à vista abriu com alta na sessão desta terça-feira (16), depois de um encerramento com alta no dia anterior. A movimentação representou a quarta alta consecutiva perante o real, chegando ao maior patamar desde março passado. O dólar à vista tem alta de 0,94%, a R$ 5,232 na compra e R$ 5,233 na venda.
O avanço do conflito entre Israel e Irã promete ser o centro das atenções dos mercados nas próximas semanas, a medida que os agentes financeiros tentam entender os reflexos desse embate. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, vê um possível reflexo no câmbio com a escalada das tensões, o que poderia provocar um movimento de aversão a risco e valorização global do dólar.
“Caso o real continue se desvalorizado, isso geraria efeitos inflacionários e, consequentemente, poderia prejudicar o ciclo de queda de juros que está sendo promovido pelo Banco Central. Apesar de mediana das expectativas dos economistas para a taxa Selic terminal ser de 9%, o mercado de juros futuros já precifica uma Selic final na casa de 10/10,25%”, pontua Goldenstein.
E as commodities agrícolas?
Na avaliação de Fernando Iglesias, analista de commodities e proteínas na Safras & Mercado, o grande impacto desse conflito para os ativos fica por conta do câmbio. “Você exportar commodities com o dólar em R$ 4,90 é uma coisa. Quando você exporta com o câmbio em quase R$ 5,20 é uma dimensão completamente diferente. Com o real mais desvalorizado, isso resulta em exportações mais agressivas, com aumento dos prêmios para soja e milho, dando maior produtividade para o produto brasileiro”, explica.
Iglesias ressalta que grande concorrente do Brasil no mercado de carnes e grãos fica por conta dos Estados Unidos, e uma apreciação do dólar deve enfraquecer as commodities norte-americanas, elevando a competitividade dos grãos do Brasil.
“Por outro lado, se por ventura essas tensões se acirrarem, nós podemos ter um problema no escoamento de frango com destino ao Oriente Médio, mas isso apenas em um cenário de tensão elevada”, conclui.
Goldenstein avalia ainda que outro risco seria uma nova escalada do petróleo, devido aos seus efeitos sobre a inflação global e local.
“Se o Banco Central encerrar o ciclo com uma taxa Selic num patamar ainda bem restritivo, isso geraria efeitos negativos sobre o mercado de crédito e a atividade doméstica”, encerra.
Com Informações de Pasquale Augusto, repórter no Money Times
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