“GRIFE DO SERTÃO”: pequi vira mel com propriedades medicinais

Chega ao mercado um novo produto relacionado à planta: o mel monofloral do pequizeiro, um produto orgânico e rico em propriedades medicinais.

Desde que foi descoberta a ameaça da broca do pequizeiro, pesquisadores e produtores rurais têm se unido ainda mais em busca da preservação deste fruto. As apostas para salvar a espécie nativa, símbolo do cerrado, incluem inclusive o plantio de mudas e estudos específicos para o combate à praga.

O fruto, tesouro que movimenta a economia de muitas cidades – principalmente mineiras – é aproveitado de diversas maneiras, como o pequi congelado, em polpa, óleo e até já existe a cerveja de pequi. Agora chega ao mercado um novo produto relacionado à planta: o mel monofloral do pequizeiro, um produto orgânico e rico em propriedades medicinais, que, aliás, já tem iniciativas para registro da Marca Coletiva. Trata-se de um conjunto de ações em andamento no Norte de Minas, visando à organização da comercialização do fruto-símbolo do cerrado e de seus derivados. O reconhecimento da indicação geográfica dos produtos da cadeia produtiva do pequi na região está entre os objetivos a serem alcançados.

Mulheres trabalham no beneficiamento do fruto: pesquisador ressalta que registro de marca coletiva valoriza produto e beneficia comunidades
Crédito: Divulgação

O professor e pesquisador do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Dario Alves de Oliveira, enaltece o potencial do mel monofloral do pequi. Juntamente à acadêmica Sara Gisele Veloso Macena, o pesquisador desenvolveu estudo sobre o produto natural, em parceria com a COOPEMAPI – Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas.

Concomitantemente a isto, o “mel de pequi” já ultrapassou fronteiras além-mar. Por intermédio do presidente da Coopemapi, Luciano Fernandes de Souza, e de outros integrantes da cooperativa, nesse mês de fevereiro o produto foi apresentado na Feira Líder Mundial de Alimentos Orgânicos (Biofach), em Nuremberg, na Alemanha.

O pesquisador Dario Alves de Oliveira ressalta: “o mel do pequi não tem o sabor forte do fruto, mas um sabor suave. Tem boa atividade antioxidante e bons teores de vitaminas A e C, que tem importância no organismo humano para o sistema imunológico e ajuda na absorção de ferro de alimentos”. Ainda segundo Oliveira, o mel monofloral é produzido a partir do pólen de apenas uma planta – enquanto o “mel silvestre” resulta de uma mistura de diversas espécies vegetais. “Cada mel monofloral tem uma característica peculiar”, destaca.

floração do pequi
Crédito: MANOEL FREITAS

O produto é obtido através do trabalho de apicultores, que colocam as colmeias próximas aos pequizeiros. O restante do trabalho é feito pelas abelhas, que coletam o pólen das flores da planta. De acordo com o pesquisador da Unimontes, existem pequenos agricultores que se dedicam à produção do “mel de pequi” em vários municípios norte-mineiros conhecidos pela concentração de pequizeiros, entre eles Japonvar, Campo Azul, Coração de Jesus, Bocaiuva e Guaraciama.

Preservação

A exploração do “mel de pequi” chega como mais um alento visando à preservação da espécie, uma vez que a produção depende da floração dos pequizeiros, que, tradicionalmente, ocorre no mês de setembro. A observação é do engenheiro de alimentos José Fábio Soares, técnico da Cooperativa Grande Sertão, de Montes Claros, entidade que trabalha com o processamento de frutos nativos do cerrado e a comercialização dos seus derivados, a partir de parceria com associações de pequenos produtores do Norte de Minas.

Segundo informações, a quantidade de localidades que enviam o pequi in natura para a cooperativa dá a ideia do grande potencial do produto: são cerca de 300 comunidades da região. Fábio Soares destaca: “acredito que a produção do mel do pequi é uma motivação a mais para a preservação dos pequizeiros. Além disso, o produto ganha valor agregado, gerando mais emprego e renda nos pequenos municípios”.

Registro

A busca do reconhecimento da indicação geográfica dos produtos da cadeia produtiva do pequi pode ampliar a comercialização do fruto. Também está sendo feita uma mobilização para o registo da Marca Coletiva do mel monofloral do pequi – dentro das ações do projeto “Desenvolvimento Sustentável das Frutas Nativas e Plantadas da Agricultura Familiar para o Norte de Minas”.

Pólen extraído por abelhas da flor do pequizeiro dá origem a mel com características exclusivas, propriedade antioxidante e bons teores de vitaminas A e C
Foto: Beto Magalhães

O projeto é uma iniciativa é do Codanorte, o Consórcio Intermunicipal Multifinalitário para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas – em convênio com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Soraya Cavalcante Nunes Ottoni, coordenadora de Desenvolvimento Regional do Codanorte, ressalta que o projeto envolve cerca de 200 produtores extrativistas e prioriza os 25 municípios norte-mineiros do chamado Arranjo Produto Local (APL) do Pequi.

O desenvolvimento sustentável, segundo Soraya, é um dos objetivos da ação, através da geração de renda e preservação da espécie nativa. Com o projeto, afirma, espera-se um manejo adequado e consequentemente uma exploração sustentável dos recursos naturais, pela maior utilização da produção e ampliação das áreas de frutas nativas, pelo fortalecimento do APL do Pequi via aumento da ocupação de mão de obra, além da agregação de valor aos produtos e renda para o agricultor familiar.

A representante do Codanorte acrescenta: “ao mesmo tempo, são preservados os germoplasmas das frutas nativas e a diferenciação qualitativa de desenvolvimento social e territorial por meio da Identificação Geográfica do pequi do Norte de Minas Gerais”. Ela chama atenção para a importância do pequizeiro para a sobrevivência nas pequenas comunidades do Norte de Minas. “Trata-se da planta nativa símbolo do cerrado brasileiro e o seu fruto é muito apreciado. Além do pequi, todas as frutas do cerrado e da caatinga têm grande importância para os produtores e para a população consumidora, geram emprego, geram renda, geram dignidade e, muitas vezes, representam a única fonte de renda de muitos produtores e catadores”, observa.

Uso cosméticos

O pesquisador Dario Alves de Oliveira revela que, em uma ação conjunta, a Unimontes e a Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi) buscam o registro da Marca Coletiva do “mel de pequi”, assim como de outros produtos da cadeia produtiva do fruto-símbolo do cerrado, incluindo cosméticos.

O pesquisador enfatiza que o registro da Marca Coletiva do mel e de outros produtos da cadeia produtiva vai trazer benefícios diretos para os produtores extrativistas.

“O registro é necessário para apoiar as comunidades, visto que a Marca Coletiva identifica produtos ou serviços provindos de integrantes de uma determinada entidade.”

“A identificação por meio de marcas ou marcas coletivas é uma forma de proteger o produto, ou seja, registrar a marca e associar a qualidade com determinada peculiaridade com que foi criado. A valorização de produtos no mercado, seja nacional ou internacional é uma forma de apoiar de maneira efetiva as comunidades que desenvolvem a atividade e, consequentemente, o desenvolvimento regional”, pondera.

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