Produtores de milho manifestaram preocupação com a possibilidade de faltarem insumos para a produção, como fertilizantes.
Enquanto no campo, as máquinas percorrem as lavouras plantando a safra nova de grãos, com perspectiva de um novo recorde em 2021/2022, o país vive a iminência de uma nova greve de caminhoneiros. Em pleno plantio da safra nova, produtores estão entre os que manifestaram preocupação com a possibilidade de uma parada dos transportadores. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), “pode agravar cenário já comprometido devido à oferta restrita de produtos”.
As primeiras projeções apontam para uma colheita de grãos de 288,61 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E o plantio da safra de verão de soja, por exemplo, tem sido feito em ritmo acelerado, em comparação com o ano passado. Consultorias privadas apontam que o ritmo atual é o segundo mais rápido da história.
Mas os produtores brasileiros enfrentam uma falta generalizada de fertilizantes, herbicidas e inseticidas nesta temporada. Além do aumento na movimentação mundial de navios e com a paralisação de alguns portos importantes para conter casos de Covid-19, houve queda na produção chinesa de parte desses produtos em pleno aumento da demanda mundial por insumos agrícolas, gerando escassez e forte alta nos preços.
Uma eventual parada de caminhoneiros é um ingrediente a mais nessa incerteza, avalia a Abramilho. “Nada contra, obviamente, o direito de manifestação, mas uma eventual paralisação, sobretudo porque o agro depende do modal rodoviário, pode comprometer ainda mais a entrega de insumos agrícolas nas fazendas”, afirma, em nota, o diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira. Segundo ele, a Associação está em contato com autoridades do executivo e legislativo, a fim de expressar os riscos para atividade rural.
A possibilidade de uma greve vem sendo anunciada pelos caminhoneiros deste o dia 16 de outubro, em encontro organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), Conselho Nacional do Transportes Rodoviário de Cargas (CNTRC) e Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Autônomos (Abrava). A categoria reivindica, entre outras coisas, o cumprimento da tabela de preços mínimos de frete e aposentadoria especial a partir de 25 anos de serviços.
Reclama também das altas dos preços de combustíveis. Nesta semana, as lideranças reafirmaram a intenção de paralisar atividades, em encontro com parlamentares. receberam também o apoio de centrais sindicais e dos caminhoneiros autônomos da baixada santista.
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Também nesta semana, o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, deputado Sérgio Souza (MDB-PR) se manifestou sobre o assunto. Destacando a questão dos preços de combustíveis na pauta de reivindicações dos caminhoneiros, Souza disse que o governo federal precisa resolver a questão, junto com os governos estaduais. E que o projeto aprovado na Câmara dos Deputados, que muda o cálculo do ICMS para os combustíveis é algo temporário, que não resolve a questão.
Vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber vê com preocupação uma paralisação no transporte rodoviário neste momento. Ele destaca que o país vive um período de inflação e preços elevados de alimentos, além das dificuldades de abastecimento de insumos para a produção.
“Isso iria encarecer mais ainda e geraria instabilidade para a política, elevando ainda mais o preço do dólar e o preço dos alimentos. Uma greve agora para defender apenas uma classe seria um duro golpe para toda a sociedade e principalmente para o povo que precisa se alimentar”, avalia, em mensagem de áudio enviada à reportagem.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou, por meio da assessoria, que monitora qualquer ação que possa ter efeito na cafeicultura e nas exportações. A entidade avaliou, no entanto, que, pelo menos até o momento, uma paralisação de caminhoneiros “trata-se de uma possibilidade pontual”.
“Defendemos, sempre, a priorização da segurança jurídica nas relações comerciais e no fluxo das exportações brasileiras em prol do desenvolvimento do país”, afirmou a entidade que representa os exportadores de café.
O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, avalia que uma paralisação de caminhoneiros sempre acaba tendo um impacto, mesmo para quem possui frota própria ou contratos com transportadores.
“Não vamos entrar no mérito da greve. Isso é algo que cabe só a categoria deles. Mas impacta. Até porque para a rodovia. Mesmo que você não seja diretamente atendido ou quem tem frota própria por exemplo, acaba parando a rodovia e acaba prejudicando”, diz ele.
Fonte: Globo Rural