Governo e iniciativa privada vão rastrear mais de 100 mil bovinos no Pará

Apresentação de um projeto piloto para pecuaristas em São Geraldo do Araguaia tem na mira viabilizar a identificação individual. Com isso, governo e iniciativa privada vão rastrear mais de 100 mil bovinos no Pará, até o fim do ano.

Nos dias 18 e 19 de fevereiro, 100 pecuaristas da cadeia de fornecimento do frigorífico Masterboi no município de São Geraldo do Araguaia (PA) participaram do evento de divulgação de um projeto piloto que visa impulsionar a adesão, ainda neste ano, de cerca de 150 produtores ao Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA). O Sistema começou a operar em setembro e tem a missão de identificar cada cabeça de gado nascida ou em trânsito no território paraense, ou seja, garantir a rastreabilidade bovina do rebanho no estado.

Combinando um dia de palestras técnicas e outro de campo, o evento Rastreabilidade Individual como Ferramenta de Gestão e Conformidade foi um importante marco nas ações de brincagem em massa de bovinos no estado. A ambição é alta: identificar individualmente por volta de 100 mil cabeças na região – praticamente um terço do rebanho do município – ainda neste ano. Até o momento, esse piloto já favoreceu 14 produtores, com 14 pecuaristas em processo de credenciamento, além de mais de 30 mil brincos disponíveis para uso.

No segundo dia do evento, os participantes tiveram a oportunidade de acompanhar de perto o processo de brincagem dos animais. Durante as visitas, mais de 150 bovinos foram identificados e tiveram seus dados registrados nas plataformas PRIMI e Conecta. A atividade permitiu que pecuaristas, autoridades e representantes das entidades envolvidas no programa de rastreabilidade conhecessem, na prática, os detalhes da identificação individual do rebanho.

Cada animal recebe dois brincos – um eletrônico e um visual. Esses brincos armazenam dados que melhoram a eficiência na gestão das pastagens e do rebanho, propiciam aumento de produtividade por meio de um melhor manejo genético reprodutivo, permitem redução de custos com mão de obra e agilidade na identificação e no controle de surtos sanitários. Além disso, asseguram transparência para a cadeia da carne e do couro, agregando valor à mercadoria e criando um diferencial frente a mercados cada dia mais atentos à qualidade e à origem dos produtos que consome.

Fruto de uma parceria entre Masterboi, a Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), esse piloto cria um modelo que beneficiará principalmente fornecedores diretos e indiretos do Frigorifico Masterboi, por meio da distribuição de brincos, análise socioambiental da propriedade, orientação e apoio na execução do manejo de identificação individual bovina e cadastramento dos animais no sistema governamental.

O evento contou com apresentações da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado (Semas) e da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) e recursos do programa Al-Invest Verde e do Fundo Bezos.

O diretor administrativo da Masterboi, Miguel Zaidan, participou do evento, ao lado dos pecuaristas fornecedores do frigorífico. “A Masterboi tem um histórico de investimentos no Pará e de ligação com os produtores de gado locais. É uma relação na qual o objetivo é fortalecer a pecuária sustentável, que já é praticada em São Geraldo do Araguaia”, disse o diretor Miguel Zaidan.

Rastreabilidade na pecuária animal em sistemas extensivos de criação de gado de corte
Rastreabilidade bovina. Foto: Divulgação

A rastreabilidade total do rebanho até 2026 é uma das metas estratégicas do Programa Estadual de Pecuária Sustentável do Pará e promete ser um ponto de destaque na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), que ocorrerá em Belém no final deste ano. Também em nível federal a rastreabilidade na pecuária é um objetivo estratégico, como mostrou o lançamento do Plano Nacional de Identificação de Bovinos e Búfalos pelo Ministério da Agricultura em dezembro, além dos acenos para sua integração à plataforma de cadastro positivo AgroBrasil +Sustentável, igualmente anunciada em dezembro de 2024.

“Esse programa não é simplesmente colocar um brinco na orelha do animal. Ele prevê várias outras diretrizes, que visam a melhoria da cadeia como um todo, desde o aumento de produtividade até dar acesso a novos mercados”, explicou Jamir Macedo, Diretor-geral da Adepará, durante o primeiro dia de evento em São Geraldo do Araguaia.

Ambas as iniciativas, no Pará e no Governo federal, preveem a universalidade da medida, mas há algumas diferenças na implementação. O Programa Pecuária Sustentável do Pará, por exemplo, prevê identificação plena até o fim de 2026, enquanto nacionalmente o prazo de adesão será de seis anos, em função dos diferentes estágios de desenvolvimento dos sistemas estaduais que irão receber os dados gerados.

Durante as palestras, foram apresentados os resultados da iniciativa e as ferramentas que integram sua metodologia, como o Programa de Monitoramento de Indiretos (PRIMI), que associa análises socioambientais à rastreabilidade individual, e à ferramenta Conecta que apoia a gestão e conformidade das propriedades rurais, auxiliando os produtores na brincagem ao ler os números dos animais com um bastão eletrônico e transferir os dados automaticamente para o celular.

“Considerando as demandas atuais, o Brasil precisará, em um curto espaço de tempo, promover melhorias e modernização dos sistemas existentes e implementar novos instrumentos capazes de atestar a rastreabilidade socioambiental dos rebanhos”, afirma Pedro Burnier, diretor do Programa de Cadeias Agropecuárias da Amigos da Terra (AdT).

Com o segundo maior rebanho do país, o Pará contabiliza 24,84 milhões de cabeças, distribuídas por cerca de 165,9 mil propriedades, segundo dados de 2024 da Adepará. A produção tem sido voltada ao mercado interno, mas há um movimento de retomada de exportações, o que justifica um aceleramento da rastreabilidade. “O principal desafio é o engajamento do produtor rural, dentre outros motivos devido ao contexto de irregularidades ambientais comum a inúmeras propriedades rurais da Amazônia”, analisa Marina Guyot, gerente de Políticas Públicas do Imaflora. Ela sustenta que a implementação da identificação individual do rebanho deve ser combinada com políticas que permitam uma transição sustentável.

Masterboi, em São Geraldo do Araguaia, Pará, participa do projeto piloto para rastreabilidade bovina.

Nesse quesito, a política paraense se adiantou, prevendo capacitação, incentivos para implementação e o princípio de não-exclusão. Significa que aqueles que não cumprirem todos os requisitos de imediato não serão excluídos, desde que comprovem adesão ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) e isolamento da área desmatada para regeneração, o que pode ser feito por meio digital, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do estado.

Esse avanço tem sido possível graças à união entre diferentes setores. Como destacou Miguel Zaidan, diretor da Masterboi, a iniciativa da rastreabilidade bovina conta com uma aliança estratégica entre o governo estadual, o setor privado, representado pelo frigorífico Masterboi e pelos produtores rurais; e a sociedade civil organizada representada pela Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e pelo Imaflora. “Sem os produtores, não fazemos nada. E do terceiro setor, participam as associações de classe e Organizações Não Governamentais que estão devidamente engajadas no nosso propósito de desenvolver uma pecuária ainda mais sustentável no Pará”, afirmou Zaidan.

Sobre a Masterboi

O Grupo Masterboi tem 24 anos de fundação e é atualmente uma das maiores indústrias frigoríficas do país, com três unidades: em Nova Olinda, no Tocantins; em São Geraldo do Araguaia, no Pará; e em Canhotinho, Pernambuco. Também possui dois centros de distribuição, uma charqueada, uma transportadora e seis lojas. Com a colaboração de mais de 4 mil trabalhadores, exporta para 117 países.

Sobre a Amigos da Terra

Há 30 anos, a Amigos da Terra trabalha na promoção de iniciativas sustentáveis que visem o desmatamento zero nos habitats naturais brasileiros, com foco prioritário, mas não exclusivo, na Amazônia. A organização não-governamental brasileira atua junto aos governos e empresas, influenciando políticas públicas e privadas que possam promover o desenvolvimento sustentável e evitar a degradação ambiental. Também apoia as comunidades locais e trabalha para gerar e compartilhar informações de relevância sobre sua área de atuação. Mais informações:https://amigosdaterra.org.br/

Sobre o Imaflora

Desde 1995, atua na promoção do uso sustentável e inclusivo dos recursos naturais. Suas ações conciliam conservação ambiental, desenvolvimento econômico e enfrentamento da crise climática. Com um vasto repertório de conhecimentos sobre produção florestal e agropecuária, sociobiodiversidade, uso da terra e mudanças climáticas, conquistou credibilidade técnica para dialogar com diferentes setores da sociedade, articulando convergências multissetoriais e fomentando cadeias florestal e agropecuária responsáveis, de baixas emissões e comprometidas com a sociobiodiversidade. Tudo em busca de soluções que gerem real impacto positivo na vida das pessoas que movem a economia conservando o meio ambiente. (www.imaflora.org)

AL-INVEST Verde

O AL-INVEST Verde é um programa da União Europeia (UE) que promove o crescimento sustentável e a criação de empregos na América Latina, apoiando a transição para uma economia de baixo carbono, eficiente em termos de recursos e mais circular. Por meio do Componente 1, liderado pela sequa, o programa gerencia fundos para a implementação de projetos inovadores por organizações empresariais para impulsionar práticas sustentáveis no setor privado (PMEs) na América Latina. www.alinvest-verde.eu

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