Gigante mundial do agro anuncia calote de mais de R$ 70 milhões e abala mercado

A crise mundial no agro atingiu, agora, o Grupo Los Grobo, que já foi o maior produtor de grãos da América do Sul, que não tem como cumprir com os prazos de pagamentos das dívidas que superam R$ 73 milhões, gerando temores de novas quebras no setor.

A crise financeira que atinge o agronegócio, não somente na Argentina, ganhou um novo capítulo alarmante com o anúncio de inadimplência da Los Grobo Agropecuaria. O grupo, conhecido como um dos maiores produtores de soja e milho da América do Sul, revelou que não conseguirá cumprir compromissos financeiros que totalizam mais de US$ 12 milhões (cerca de R$ 73 milhões) até março de 2025. O impacto desse calote gerou preocupações em toda a cadeia produtiva agrícola, especialmente em um momento em que o setor enfrenta desafios climáticos e econômicos severos.

Após a inadimplência das notas promissórias e os cheques rejeitados por falta de recursos, 
mais capítulos se somam à situação financeira que atravessa a Los Grobo Agropecuaria. Nesta quarta-feira, o escritório informou à Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNV) que não cumprirá o pagamento.

Nesse cenário, conforme colocado em matéria anterior, o nome de Gustavo Grobocopatel, fundador da Los Grobo e conhecido como o “rei da soja”, voltou ao centro das atenções. Apesar disso, Grobocopatel apressou-se em esclarecer que detém apenas 5% de participação na empresa e que está fora da operação há oito anos. Sua irmã, Matilde Grobocopatel, possui outros 5% das ações, enquanto o controle majoritário pertence ao VCP.

O CEO da empresa é Enrique Flaiban, representando a Victoria Capital Partners (VCP), que detém 90% do capital social, e os irmãos Gustavo e Matilde Grobocopatel, da família fundadora, detêm 10% da empresa.

“A crise foi desencadeada pela dificuldade de refinanciamento no mercado de notas promissórias agrícolas. O cenário foi agravado pela queda nos preços dos grãos, custos operacionais dolarizados e o impacto de políticas econômicas incertas“, segundo representantes do fundo Victoria Capital Partners (VCP), acionista majoritário da Los Grobo,

Histórico da crise

A Los Grobo Agropecuaria, outrora o maior produtor de grãos da região, já vinha enfrentando dificuldades financeiras. Em dezembro de 2024, a empresa comunicou à Comissão Nacional de Valores (CNV) da Argentina que não honraria um pagamento de US$ 100 mil referente a uma nota promissória vencida. Além disso, anunciou a suspensão de pagamentos semelhantes, que somam cerca de US$ 10 milhões, até o fim do primeiro trimestre de 2025.

O grupo atribuiu a situação a uma combinação de fatores, incluindo queda nos preços internacionais dos grãos, custos operacionais dolarizados e políticas econômicas incertas. A Los Grobo também enfrenta dificuldades de refinanciamento no mercado de notas promissórias agrícolas, agravadas pela falta de liquidez no setor.

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Foto: Los Grobo

Compromissos financeiros não cumpridos pela Los Grobo

Nesta semana, a Los Grobo informou que não conseguirá cumprir outros pagamentos, incluindo:

  • US$ 8,58 milhões (aproximadamente R$ 43,3 milhões) de um empréstimo contratado com oito bancos, vencido em 13 de janeiro.
  • US$ 4,06 milhões (cerca de R$ 20,5 milhões) referentes a um contrato de pré-financiamento de exportações firmado em 2019.
  • $258,86 milhões (aproximadamente R$ 7 milhões) e $4,75 bilhões (cerca de R$ 128 milhões) de empréstimos em pesos argentinos, vencidos em 2024.

Além disso, segundo o Banco Central da República Argentina, a Los Grobo teve cheques sem fundos que ultrapassam $1,3 bilhão (cerca de R$ 35 milhões) apenas em janeiro, somando-se às preocupações do mercado.

Resposta dos credores ao calote anunciado pela gigante mundial do agro

De acordo com o comunicado, o Banco Galicia informou à Los Grobo que, como agente de garantia, estava “autorizado a executar as garantias correspondentes a cada um dos financiamentos em nome dos Bancos”. Já a Promotoria notificou o grupo de que, diante de um descumprimento do contrato, manteria os bens fideicomissos até que a liquidação das obrigações.

Em fato relevante separado, a Agrofina informou à CNV que não conseguiria pagar quase US$ 9 milhões que venceram na última segunda-feira (13), sendo US$ 6,216 milhões de um contrato de refinanciamento de dívida e empréstimo, e US$ 2,781 milhões de outro empréstimo. Fora isso, pagamentos com vencimento em 15 de janeiro não seriam efetuados.

Impactos no mercado e reação de produtores

Produtores que entregaram grãos à Los Grobo, mas ainda não receberam pagamento, se reuniram nesta semana na planta da empresa em San Miguel del Monte para denunciar o que consideram um “esvaziamento da empresa”. A Los Grobo negou as acusações e afirmou que está buscando soluções financeiras para manter suas operações.

A crise também reacendeu o debate sobre o impacto sistêmico no agronegócio argentino, com temores de que outras empresas possam enfrentar dificuldades semelhantes. Campo de Avanzada S.A., uma produtora que cultiva 7.000 hectares em Entre Ríos, também anunciou inadimplência em uma dívida de $7,5 milhões (cerca de R$ 202 mil), citando problemas climáticos e pragas como agravantes.

O grupo afirmou estar empenhado em resolver a questão até a próxima colheita, ressaltando que suas operações principais seguem saudáveis.

Neste contexto, a Rizobacter, do grupo Bioceres e uma das grandes empresas fornecedoras de insumos, anunciou esta semana a recompra de dívida, parte das suas obrigações negociáveis ​​detidas pelos investidores. Conforme comunicado à Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNV), trata-se do ON Série VIII Classe A, pelo valor nominal de US$ 2.703.052, e tem como objetivo descomprimir a tensão no mercado.

Perspectivas para o setor

Especialistas alertam que a recuperação do agronegócio argentino depende de maior estabilidade econômica e renegociação de dívidas. Entretanto, a combinação de fatores adversos, incluindo a pressão fiscal, queda nos preços internacionais e ausência de chuvas, coloca o setor em uma posição vulnerável.

A situação da Los Grobo é emblemática, considerando seu histórico de liderança no setor. Com capacidade de armazenamento de 2,2 milhões de toneladas de grãos por ano, a empresa representa um pilar importante na produção agrícola da Argentina. No entanto, sua dívida acumulada de US$ 150 milhões (cerca de R$ 758 milhões) é um reflexo do desafio enfrentado por toda a cadeia produtiva.

O mercado agora aguarda o desfecho das negociações entre os principais players do setor e o governo argentino, que será pressionado a buscar alternativas para aliviar a crise.

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