Gigante do Matopiba tem dívidas de R$ 152 mi e entra em recuperação judicial

Contexto de estiagem, aumento dos custos de produção e a guerra no leste europeu preocupa credores, que pressionam pelo pagamento de dívidas; Agora, o Grupo Renascer entrou em recuperação judicial, após ver suas dívidas aumentarem.

Um novo fenômeno vem ganhando destaque no Brasil: as recuperações judiciais (RJs). O volume de empresas ligadas ao setor agropecuário que estão em crise financeira e buscam, na justiça, uma solução para suas dívidas, seguem em crescimento. O gigante do Matopiba – área reconhecida como a nova fronteira agropecuária do país -, o Grupo Renascer, localizado em Balsas (MA) que atua na produção de milho e soja e também na criação de gado na região, entrou com pedido de recuperação judicial após acumular dívidas que chegam a R$ 152 milhões, conforme apontado pela Globo Rural.

A empresa, que possuí uma longa trajetória no setor, iniciou suas atividades e atua no setor a mais de uma década, mas viu suas dívidas aumentarem após a queda nos preços do boi e também da soja. Para se ter uma ideia, os preços do boi gordo recuaram cerca de 22% ao longo deste ano, conforme apontou dados do Cepea. Além disso, a pressão nos preços dos grãos e a alta dos insumos na última safra deixaram a rentabilidade da safra 22/23 em um dos piores níveis já vistos.

“A real dificuldade financeira veio quando a saca de soja caiu de R$ 160 para R$ 100 e a arroba do boi desvalorizou bastante também desde o começo deste ano. Com juros muito altos, as dívidas estão em níveis impossíveis de serem pagas”, disse Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos, responsável pela reorganização econômica do grupo ao Globo Rural.

Ainda segundo as informações divulgadas na matéria, somente em 2022, o Grupo Renascer faturou cerca de R$ 100 milhões, praticamente o mesmo montante do ano anterior. Entretanto, conforme apontou Duek, as margens foram comprometidas diante da grande valorização nos preços dos insumos na safra. Situação essa que não foi isolada para o Grupo, já que todo o setor aponta os mesmos fatores.

“As margens estão completamente diferentes, uma vez que os preços dos insumos subiram muito”, segundo Duek

Conforme apontou Jean Cioffi, da JRCLaw, que também coordena a recuperação judicial, entre os principais credores do Grupo Renascer estão:

  • Banco da Amazônia,
  • Sicoob,
  • Banco do Brasil,
  • Banco do Nordeste,
  • Caixa Econômica Federal,
  • Banco John Deere.

Cresce o volume de pedidos de recuperação judicial no agronegócio

A crescente participação do setor nas ações de recuperação judicial é motivada por um conjunto de fatores que vão desde a maior vulnerabilidade do segmento com relação às questões climáticas e cambiais até mesmo à atualização da Lei de Falências e Recuperação Judicial brasileira. A atualização legislativa trouxe mais garantias para os produtores rurais que buscam reestruturar os negócios; lei garantem benefícios importantes ao produtor.

Para a advogada especialista em recuperação judicial Bárbara Brunetto, o agro passa a ver na Justiça uma alternativa viável para reestruturação dos negócios. Mesmo quando se trata de um produtor individual ou familiar, a profissionalização do setor está permitindo a incorporação de novos modelos de gestão e a modernização dos recursos legais disponíveis.

UPL-manejo-tema-palestra-Congresso-Brasileiro-da-Soja-Credito-Pixabay
Foto: Divulgação

“Havia um senso comum de que a recuperação judicial estava vinculada ao fracasso ou à má condução dos negócios. Hoje é de conhecimento que o agro é um escritório a céu aberto, suscetível às variações climáticas que podem quebrar uma produção e assim comprometer as safras sequentes. Além disso, a necessidade de contratação de crédito para financiar a produção e a vinculação de grande parte das operações ao dólar tornam o segmento mais vulnerável e exige uma legislação que o atenda”, explica a advogada.

Com a nova lei, também foi regulamento quais são as dívidas que podem ser incluídas no processo de recuperação judicial de produtores rurais, como é o caso da Cédula de Produtor Rural (CPR), uma espécie de nota promissória concedida pelas tradings que emprestam para custear a safra. Assim, a recuperação judicial passou a ser incluída no cálculo de riscos das operações de crédito realizadas pelo setor.

Débitos milionários

A lista não para de crescer. O grupo mato-grossense Redenção teve recentemente sua recuperação judicial aprovada, com dívidas de R$ 270 milhões. Outro que entrou em recuperação judicial foi o conglomerado mineiro Machado e Cruvinel, com débitos de R$ 90 milhões. Os exemplos começam a se espalhar pelo Brasil.

@fotodeboi

Sócio do escritório NDN, especializado em recuperação judicial, Tiago Dalvia confirma a alta da procura. A sua visão é de que o produtor rural está estrangulado pelo vencimento das operações de crédito subsidiadas, lançadas pelo governo ainda na pandemia.

“Normalmente, as operações financeiras do setor do agro vencem entre agosto e outubro para conciliar com o ciclo produtivo. Com a queda da safra, com o vencimento das operações de crédito, houve um aumento das consultas nesse segmento”, relata.

Compre Rural com algumas informações do Globo Rural, Assessorias e Escritórios de Advocacia

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM