Uma das mais famosas marcas de leite brasileira, não escapa da crise e, acaba tendo que fechar as portas. De acordo com a Justiça, que decretou a falência, houve quebra de ‘boa-fé’ e indícios de fraude no processo recuperacional.
Uma recente notícia acabou pegando muita gente de surpresa. Segundo o divulgado recentemente, a Agropecuária Tuiuti S/A, uma tradicional produtora de laticínios, teve a sua falência decretada após um complicado processo na Justiça. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decretou a falência da Agropecuária Tuiuti S/A, empresa de laticínios conhecida como Shefa, que tem fábrica em Amparo (SP).
A decisão foi dada pelo magistrado Fernando Leonardi Campanella, alocado na 1ª Vara do Foro de Amparo, uma cidade do interior paulista. Segundo o documento emitido pelo juiz, diversos indícios de fraudes foram comprovados durante o processo de recuperação judicial pelo qual a companhia passava.
Atualmente, a Tuiuti S/A é proprietária de uma das marcas de leite mais conhecidas no Brasil, a Shefa. Inclusive, esse é o produto de maior circulação do grupo, responsável por grande parte do seu faturamento. Entretanto, para não prejudicar os colaboradores, o tribunal autorizou a empresa a continuar operando normalmente por enquanto.
Como a situação chegou neste ponto?
A partir de agora, a Shefa, que estava no mercado desde 1976, será administrada pela FK Consulting, que atuará como gestora judicial até que a questão se resolva em definitivo. Assim, o novo gestor judicial da organização chama-se Frank Koji Migiyama. Ele revela que somente no mês de junho a firma produziu 7 milhões de litros de leite.
Migiyama também reconhece que as graves acusações envolvendo fraudes afetaram negativamente a imagem da companhia, mas revela que ele espera que tal quadro possa ser revertido de maneira sadia por meio de uma nova administração.
“Uma empresa que entra em recuperação judicial, lógico que ela fica prejudicada na imagem. Estamos assimilando os processos que estão ocorrendo, as fraudes que ocorreram. Quando ocorre uma intervenção dessa, a gente traz mais credibilidade na governança corporativa da companhia”, diz ele.
Dessa forma, a decisão judicial também ordenou que os antigos responsáveis fossem afastados imediatamente, além de que a empresa seguisse com o seu funcionamento, já com os novos diretores tomando a dianteira nas ações de administração corporativa.
Então, os trabalhos continuarão a ser feitos de maneira normal até que o bloco seja completamente liquidado, uma medida pensada para preservar os empregos de centenas de funcionários que dependem do trabalho para tirar o sustento. Logo, o juiz também determinou que nenhuma obrigação ou contrato com a Shefa possa ser suspenso.
A atividade empresarial será mantida até a liquidação do bloco, como forma de preservar o emprego dos mais de 300 funcionários e para o benefício da coletividade dos credores. Neste período, a Shefa será gerida por um gestor judicial, que terá seus trabalhos fiscalizados pela administradora judicial do caso.
Infelizmente, a situação só chegou a esse ponto por conta de várias acusações de fraudes ocorridas durante o processo de recuperação judicial pelo qual o empreendimento estava passando. Foi isso que levou o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) a tomar a decisão de decretar a falência da Shefa.
No ano de 2015, a produtora de leite estava passando por dificuldades, então, um empresário começou a colocar dinheiro na empresa, ganhando a posse da marca como garantia de pagamento e também de boa-fé.
Já no ano seguinte, a venda da Shefa havia sido permitida por terceiros, assim, duas empresas do homem, que estava investindo, garantiriam que as obrigações a serem assumidas pelo novo dono fossem cumpridas. Justamente uma delas era a credora da Shefa.
De acordo com o juiz que cuidou do caso, um tempo depois da venda ter sido efetuada apareceu um primeiro indício de prática fraudulenta. O dono, então, teria dado garantias para a instituição credora/garantidora para englobar débitos passados na casa dos R$ 35 milhões e isso é ilegal no Brasil.
“A concessão de garantias por dívidas contraídas anteriormente, sem dispor de bens livres e desembaraçados suficientes para saldar o passivo, é expressamente vedada”, diz um trecho da sentença.
Outro fator que aponta para a existência de ilegalidades apareceu quando o proprietário admitiu uma dívida na casa dos R$ 14.556.389,80, que deveria ser quitada em 60 prestações de R$ 795.999,39. Porém, o parcelamento causou juros e fez o montante subir para R$ 47.759.963,40.
“Ou seja, só de juros o dono da Shefa consentiu que sua empresa pagasse, 228% a mais em relação ao montante da dívida existente”, revela o juiz.
O magistrado também determinou que nenhum contrato ou obrigação vinculado à Shefa seja suspenso. “O decreto da falência é sempre impactante aos credores e à coletividade em geral, que acreditavam no seguimento da empresa. Assim, se houver maneiras de abrandar as inevitáveis consequências da quebra, devem ser adotadas as referidas práticas”, pontuou.
Próximos passos para Shefa
Segundo o CEO interino, a empresa conta com faturamento anual de R$ 450 milhões, mas deve apresentar um recuo em 2023 em função da cessão da operação leiteira.
“A Shefa conta com capacidade para produzir 30 milhões de litros de produtos, mas atualmente produzimos menos de 1/3 desse total. No entanto, apesar da falência continuada ser pouco conhecida, nós seguimos com a nossa operação e atendendo clientes. Houve apenas uma transição, com a empresa sob uma nova direção”, explica.
De acordo com Migiyama, o foco dessa nova gestão está em aumentar as receitas da Shefa, angariar investidores e ajustar a parte estrutural da empresa.
“O nosso papel é tornar a empresa mais atrativa, de forma transparente e com credibilidade no mercado. Temos os nossos desafios, mas os próximos passos ficam por melhorar nossa eficiência e relacionamento para atrairmos investidores e possíveis interessados na compra da operação da Shefa. A ideia é realizar a ‘passagem do bastão’ de forma que quem assuma possa dar continuidade nos trabalhos”, comenta.
Confira na íntegra o comunicado da nova gestora da Shefa:
“A decisão judicial proferida em 12 de julho de 2023, pela 1ª Vara Cível de Amparo, decretou a falência da companhia, mas também determinou a continuação das atividades empresariais, com a manutenção da vigência de todos os empregos e contratos, assim como a nomeação de uma Gestora Judicial, a FKConsulting.PRO (FK), representada pelo sócio-diretor Sr. Frank K. Migiyama, em substituição aos administradores da companhia.
Assim, as atividades da companhia foram integralmente mantidas pela decisão judicial, tendo a Gestora Judicial assumido a gestão da companhia. A decisão judicial permite a melhor preservação e valorização do ativo, com a finalidade de otimização de uma via de saída que permita prestigiar, na melhor extensão possível, a todos os stakeholders, conservando as relações de emprego, os contratos, o recolhimento de impostos e demais reflexos sociais relevantes.”
A Shefa
No mercado desde 1976, a Shefa é uma das principais empresa de laticínios do país. Veja abaixo dados sobre produção e faturamento da Shefa:
? O que e quanto é produzido? Segundo o novo gestor judicial da empresa, Frank Koji MIgiyama, a Shefa contabilizou 7 milhões de litros de laticínios produzidos no último mês de junho. Com essa média, em um ano, a empresa produziria em torno de 84 milhões de litros.
Entre os principais produtos, estão leite, sucos, bebida láctea, creme de leite, achocolatado em pó e alimentos à base de soja.
? Está entre as maiores? Como efeito de comparação, em um ranking das 14 principais marcas de laticínios do Brasil divulgado em maio pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), a 14ª foi a DPA Brasil, que captou 97,2 milhões de litros de leite em 2022. A líder é a Laticínios Bela Vista, com recepção de cerca de 1,5 bilhão.
Apesar do número mais recente da Shefa, o novo gestor afirmou que a empresa tem capacidade para produzir até 30 milhões de litros por mês. Com essa quantidade, a Shefa figuraria em 9ª no ranking da Abraleite.
? Qual é o faturamento? De acordo com o gestor judicial, o faturamento da Shefa gira em torno de R$ 40 milhões por mês.
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