Gestão na fazenda: Por que ainda há enorme resistência?

A gestão profissional nas propriedades rurais tornou-se assunto essencial para o negócio rural; veja como iniciar a gestão na fazenda de forma simples e rápida

Vinicius F. Godoy – Lembro-me como se fosse hoje do meu avô que, após ordenhar as vacas, colocava os tambores cheios de leite à beira da estrada para que o caminhão os recolhessem e anotava a quantidade entregue em um pedaço de papel.

Passados 35 anos, muita coisa mudou. O caminhão recolhendo os tambores já não existe mais, porém o “caderninho” ainda persiste nas propriedades, isso quando ele existe! A maioria dos produtores não conhecem os números de suas propriedades, estão à deriva, “dirigindo” seus negócios com os olhos fechados. Baseados em sentimentos e achismos, tomam decisões que muitas vezes comprometem a saúde financeira do negócio por longos anos. E a resistência em mudar essa situação é enorme! Mas por que isso acontece?

Para tentar responder essa pergunta, classifico os produtores resistentes em 3 grupos:

  • Grupo 1: São pequenos produtores, que possuem pouco acesso à informação, exercem a atividade quase de subsistência e dependem do apoio de cooperativas ou dos sucateados órgãos do governo que, apesar dos grandes esforços de seus servidores, não conseguem atender a todos.
  • Grupo 2: São geralmente grandes empresários, “doutores” na gestão de seus negócios na cidade e, por possuírem grande disponibilidade de recursos financeiros, não dependem dos resultados da propriedade. Eles enxergam a atividade rural como um hobby ou uma forma de diversificar seus investimentos, obtendo ganhos com a valorização futura da terra.
  • Grupo 3: São os produtores que não querem enxergar a dura realidade, apesar de ela saltar aos olhos (capacidade de investimento cada vez menor, produtividade em queda, pastos degradados, maquinário e infraestrutura mal conservados, etc.). Eles preferem não conhecer o “tamanho do buraco” e vão deixando o problema para as gerações futuras que, quando assumem o negócio, o recebem em situação crítica em razão da má administração anterior e, invariavelmente, acabam se desfazendo da propriedade.

Como iniciar a mudança:

  • O ideal é que haja uma separação da conta da pessoa física (PF) da conta da propriedade (PJ). Isso facilita muito no momento da identificação e alocação dos lançamentos;
  • Quem não mede não gerencia! Comece a registrar as informações agora. Pode ser no “caderninho” mesmo, não espere o início da semana ou o início do mês seguinte, o importante é criar uma rotina, um hábito;
  • Procure realizar os lançamentos pelo menos uma vez por semana, evitando, assim, que as informações se acumulem, o que pode gerar desmotivação;
  • Além de registrar os valores (R$) de receitas e gastos, é importante também registrar as quantidades (arrobas ou litros de leite produzidos, toneladas de grãos comercializados, litros de combustível gastos, etc.);
  • De posse das informações consolidadas, comece observando: se as receitas são maiores do que as despesas; se ao final de um mês sobra dinheiro no caixa; se todos os compromissos com funcionários e fornecedores estão sendo honrados. Esses dados são bons indicativos, mas ainda são insuficientes. É preciso analisar alguns indicadores econômico-financeiros e zootécnicos como, por exemplo, os indicadores de lucratividade e rentabilidade (EBITDA, Lucro Líquido do Exercício, ROE, @produzidas/hectare, Lucro/hectare, etc.) para que não se caia na armadilha do aumento de produtividade, porém com redução de lucratividade e rentabilidade;
  • Defina os objetivos e as metas de melhoria, crie os planos de ação e divulgue para todos os envolvidos (colaboradores e prestadores de serviço). Faça acontecer!
  • Após alguns meses com a prática do registro e da análise já consolidada, vale a pena investir em um software de gestão, que facilita os lançamentos, visualização e a compreensão das informações.
  • No início, podem ocorrer dificuldades no entendimento dos relatórios e indicadores, mas não se apavore, é normal! Se preciso, procure um profissional capacitado para auxiliá-lo.

Acredito que, conhecendo a realidade do negócio, o produtor dará um pontapé inicial na profissionalização da gestão em sua propriedade. E, quem sabe, em um futuro próximo não mais ouviremos as seguintes frases: “fazemos assim desde a época do meu avô”, “em time que está ganhando não se mexe”. Sempre que escuto essa última frase pergunto: “será que seu time está ganhando mesmo…?

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