O mercado de gergilim almeja alcançar o dobro da produção da temporada anterior, que testemunhou a colheita de 174 mil toneladas em uma extensão de 361 mil hectares, indicando um aumento de 300 vezes em comparação com a década passada.
A semente de gergelim, inicialmente apreciada principalmente pelos orientais, está conquistando espaço na indústria brasileira, despertando o interesse de produtores rurais em busca de opções econômicas e lucrativas na segunda safra.
A saga do gergelim em terras brasileiras teve início nos anos 1980, quando Túlio Benatti, proprietário da Sésamo Real, uma fábrica do interior de São Paulo, introduziu as primeiras sementes do grão no país. Ao longo dos anos seguintes, essas sementes foram distribuídas entre os agricultores de Canarana, localizada a 633 km de Cuiabá, no Mato Grosso.
Inicío do cultivo
O cultivo inicial envolvia apenas alguns agricultores, mas em 2017, a área dedicada ao gergelim em Canarana atingiu aproximadamente 800 hectares, conforme relata Marcos da Rosa, produtor e presidente do Conselho Brasileiro de Feijão e Pulses. Atualmente, a cidade tornou-se a principal produtora nacional, representando quase 50% da área total, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na temporada 2023/2024, o mercado almeja alcançar o dobro da produção da temporada anterior, que testemunhou a colheita de 174 mil toneladas em uma extensão de 361 mil hectares, indicando um aumento de 300 vezes em comparação com a década passada.
Rosa destaca que a produção poderia ser ainda maior se não fosse pela seca, enfatizando que uma considerável parcela da colheita já possui compradores garantidos, incluindo a produção de sua própria fazenda. O interesse pelo gergelim aumentou ainda mais na safra atual, impulsionado pelo atraso no plantio da soja e pelo risco climático associado à segunda safra de milho.
A decisão de incorporar mais áreas de cultivo de gergelim tem sido observada em diferentes escalas, desde grandes empresas como a BrasilAgro, que discutiu o assunto com a AgFeed no final do ano durante um encontro com investidores, até pequenos agricultores no Nordeste. Estes últimos veem na cultura do gergelim uma viabilidade agronômica ampliada e melhores perspectivas de comercialização.
O valor médio por tonelada de gergelim destinado à exportação apresenta uma flutuação entre US$ 1.400,00 e US$ 1.500,00, proporcionando uma rentabilidade substancial para os produtores. Diante desse contexto, observou-se um notável aumento nas exportações de gergelim, passando de 42 mil toneladas em 2022 para um impressionante total de mais de 151 mil toneladas em 2023, representando um crescimento expressivo de 257%.
Marcelo Luders, líder do Instituto Brasileiro do Feijão, Pulses e Colheitas Especiais (Ibrafe), destaca que em 2022 o Brasil contribuiu com apenas 2% do mercado global, cujas transações movimentam cerca de US$ 3,4 bilhões entre nações produtoras e consumidoras desse produto. Esses números indicam um vasto potencial para o Brasil conquistar uma parcela mais significativa desse mercado internacional.
Recentemente, foi solicitado à China um acordo fitossanitário visando à importação de gergelim do Brasil. O colossal mercado asiático, responsável por metade da demanda global por esse produto, representa uma oportunidade estratégica. Paralelamente, a Índia figura como outro importante consumidor, tornando-se alvo das iniciativas brasileiras para ampliar suas vendas. A Apex (Agência Brasileira de Promoção às Exportações) conduziu um recente estudo focado no potencial do gergelim brasileiro nesse país.
Conforme os resultados do estudo, a Índia destaca-se como o segundo maior produtor de gergelim global, ocupando também a segunda posição tanto em exportações quanto como o 16º maior importador. Além de sua proeminente produção, o país figura como o segundo maior fornecedor mundial de sementes, registrando a exportação de 234,8 mil toneladas em 2022.
2023
No ano de 2023, a Índia emergiu como o principal destino para o gergelim produzido no Brasil, totalizando 53,7 mil quilos ou um montante equivalente a US$ 78 milhões, conforme revelam os dados fornecidos pelo Ibrafe. Na sequência, países como Turquia, Guatemala e Arábia Saudita figuram como destinos subsequentes. A produção mundial de gergelim registrou um crescimento notável na última década, duplicando de 10 para 20 milhões de toneladas.
Luders destaca a magnitude desse mercado, afirmando que o Brasil está apenas começando a explorar seu potencial. Além das exportações, o gergelim ganha relevância no mercado interno, sendo uma alternativa viável devido ao seu vasto potencial para a produção de derivados, como tahine e óleo. Luders ressalta a semelhança desse produto com o amendoim, do qual o Brasil já detém uma fatia de 7% no mercado mundial.
Efetivamente, a demanda por gergelim está em ascensão na indústria alimentícia, impulsionada pelo crescimento do mercado de produtos veganos e saudáveis. Contudo, há mais elementos em jogo. No ano de 2020, o cereal foi integrado à lista de benefícios fiscais do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, ampliando o interesse entre os produtores como uma opção viável para plantio durante as entressafras da soja.
Rosa, de Canarana, destaca o aumento tanto na produção quanto nos preços, enfatizando o desafio futuro de investir em pesquisas para aprimorar as sementes. Este esforço é crucial para atender às demandas de países como Índia e China, que preferem grãos mais doces do que os produzidos no Brasil, e para aumentar a produtividade no campo.
Segundo a Conab, a produtividade do gergelim brasileiro atingiu 482 kg por hectare na última safra, enquanto Paraguai, Israel e os produtores do Texas, nos Estados Unidos, alcançam até 2 mil kg por hectare. Rosa destaca que 95% do gergelim plantado no Brasil utiliza a variedade K3, produzindo um grão mais amargo, adequado para óleos e essências, mas menos apreciado pelos asiáticos. Para superar essa barreira, tanto a Embrapa quanto o Instituto Mato Grossense do Algodão (IMA) estão realizando pesquisas de melhoria genética e novas variedades de gergelim.
Em 2020, a Embrapa iniciou os testes com a cultivar BRS Morena, que possui características desejadas pelos produtores e consumidores, incluindo alta produtividade, ciclo precoce e teor de óleo superior a 50%. No entanto, outras variedades como Seda e Anahí, mais doces e com maior valor comercial, são mais caras e podem ter produtividade menor que a K3, dependendo das condições climáticas e do terreno.
Luders, do Ibrafe, destaca a escassez de cultivares adaptadas ao Brasil e enfatiza que, além do aprimoramento genético, melhorias no manejo e no maquinário são essenciais. Ele aponta um desperdício entre 30% e 40% em algumas colheitas devido à mecanização, que requer adaptação das colheitadeiras devido à qualidade do gergelim, podendo resultar em sementes caídas no solo.
Apesar dos desafios, os avanços na última década foram significativos, e as perspectivas continuam otimistas. Marcos da Rosa destaca que o mercado de gergelim no Brasil ainda está em estágios iniciais, com amplo espaço para crescimento.
Escrito por Compre Rural
VEJA TAMBÉM:
- Confira como escolher o capim ideal para a sua fazenda
- Estratégias para mitigar os impactos de geadas em capim braquiária
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.