Logo ao nascimento, as bezerras enfrentam dois grandes desafios: a imaturidade de seu sistema imune e a necessidade de desenvolver o rúmen para que este possa exercer sua função
As bezerras de uma fazenda são o futuro da propriedade! Com isso em mente, os produtores têm dado mais importância à fase de cria, sabidos de que o que é feito com as bezerras no início de sua vida terá grande impacto em sua produção futura. Logo ao nascimento, as bezerras enfrentam dois grandes desafios: a imaturidade de seu sistema imune e a necessidade de desenvolver o rúmen para que este possa exercer sua função.
Devido às características anatômicas da placenta dos bovinos, as bezerras dependem da ingestão do colostro para adquirirem a imunidade passiva advinda da mãe. Essa imunidade consiste basicamente de imunoglobulinas, células de defesa fagocitárias, entre outros fatores de defesa e nutricionais. A transferência da imunidade passiva ocorre então por meio da ingestão de colostro, que deve ser de boa qualidade e fornecido com o menor tempo possível após o parto. A duração da imunidade passiva no organismo do animal está muito relacionada à qualidade do colostro fornecido e quanto desse colostro foi absorvido pelo animal.
A imunidade em questão perdura no organismo do animal até cerca de 90 dias de vida, decrescendo seu poder de proteção com o passar dos dias. Concomitante ao período de proteção conferido pela imunidade passiva, o animal vai desenvolvendo seu próprio sistema imune ao ser exposto aos desafios presentes no ambiente.
Em certo momento, ocorre o que chamamos de janela imunológica, momento no qual a imunidade passiva está quase chegando ao fim e que o sistema imune do próprio animal ainda não está totalmente apto a protegê-lo. Nesse período, os animais podem estar mais susceptíveis à ocorrência de doenças (Chase et al., 2008).
Figura 1. Adaptado de Chase et al., 2008. O gráfico demonstra o tempo de permanência da imunidade passiva advinda da vaca no organismo do bezerro e desenvolvimento da competência de seu próprio sistema imune.
Também durante os primeiros dias de vida, os bovinos são considerados monogástricos, pois ainda não possuem os pré estômagos desenvolvidos e ativos, a exceção do abomaso. O consumo de alimentos sólidos durante o primeiro mês de vida é pequeno e normalmente não passa de 100 gramas. Mas é importante fornecer este tipo de alimento para os animais desde os primeiros dias de vida para que eles aprendam a consumi-lo. Os concentrados são de extrema importância para o rúmen, sendo fonte de estímulo tanto para o desenvolvimento das papilas quanto da musculatura do órgão.
À medida em que vai consumindo alimento sólido, o animal aprende a ruminar e com cerca de 30 dias é possível perceber que já demonstra um padrão crescente de tempo de ruminação diário. Durante o aleitamento espera-se que o animal apresente um consumo crescente de ração, compatível com seu crescimento corporal e com o desenvolvimento do trato gastrointestinal. Se o bezerro está apresentando algum problema é possível perceber com rapidez a queda do consumo de alimentos por meio da ruminação, quando se tem a informação do sistema de monitoramento funcionando na fazenda.
As principais doenças da fase de cria dentro das fazendas em todo o mundo, sejam de leite ou corte, são a diarreia e as doenças respiratórias. A diarreia por si só pode ser a causa de mais de 50% da mortalidade de bezerras leiteiras dentro dos primeiros 30 dias de vida. A epidemiologia da ocorrência dessas doenças pode variar de uma fazenda para outra, devido aos organismos presentes em cada ambiente, devido à condição de higiene adotada no dia a dia, entre outros fatores.
Quando o animal foi bem colostrado e o desafio do ambiente não é muito intenso, o mesmo consegue muitas vezes debelar a diarreia sem necessidade de tratamento com antibióticos. Mas para isso é preciso que o animal seja monitorado e rapidamente identificado, para que se possa iniciar o tratamento suporte com soro oral e anti-inflamatórios, por exemplo, assim que necessário.
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Essas doenças apresentam um sinal clínico inicial comum entre os bezerros: os animas ficam mais quietos, tomam o leite mais lentamente e podem reduzir o consumo de concentrado. Essas são exatamente algumas das informações coletadas pelo sistema de monitoramento da Allflex e que podem auxiliar as fazendas a realizar o diagnóstico das enfermidades de forma mais rápida e eficiente.
Referências
Chase, C. C. L.; D. J. Hurley; and A. Reber. Neonatal immune development in the calf and its impact on vaccine response. Vet. Clin. North Am. Food Anim. Pract. 24:87–104, 2008.
Drackley, J. K. Calf Nutrition from Birth to Breeding. Vet Clin Food Anim 24 (2008) 55–86
Anna Luiza Belli é médica veterinária formada pela Escola de Veterinária da UFMG e pós-graduada pela mesma instituição em zootecnia, na área de produção animal. Coordenadora de território em Monitoramento da Allflex Brasil.