Gangrena gasosa pode matar bovino em 48 horas; Doença pode ser evitada, mas evolui muito rápido após a contaminação; saiba o que é, quais os sintomas e como tratar a gangrena gasosa
Caracterizada por vermelhidão, necrose e cheiro forte, a gangrena gasosa em bovinos é uma enfermidade que deve ser tratada de forma rápida pelos pecuaristas. O Agro Estadão conversou com o assessor técnico do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Flávio Pereira Veloso, para responder às principais dúvidas sobre a doença.
A gangrena gasosa em bovinos é uma condição infecciosa aguda e potencialmente letal, causada principalmente pela bactéria Clostridium perfringens tipo A, entre outros agentes clostridiais. Caracteriza-se pela morte súbita do tecido muscular, acompanhada de edema e produção de gás nos tecidos afetados, frequentemente associada a feridas contaminadas ou traumas.
O que é a gangrena gasosa em bovinos?
A gangrena gasosa em bovinos ou gangrena bovina é uma doença causada por bactérias chamadas de clostrídios, presentes no intestino de animais, seres humanos e também no ambiente, especialmente em forma de esporos. Não é apenas um tipo de clostrido que causa a doença, mas um conjunto dele.
“Ela faz parte de um grupo de doenças chamadas de mionecroses, porque provocam a morte do tecido muscular no local onde essas bactérias invadem o organismo”, explica Veloso. Uma vez infectado, essas bactérias começam a “comer” esse tecido e liberam toxinas no organismo que são altamente prejudiciais aos animais, podendo afetar especialmente o sistema cardíaco e respiratório.
Como acontece a infecção?
Para que a doença possa ocorrer é necessário que a bactéria tenha uma porta de entrada, ou seja, um acesso ao tecido muscular. Isso acontece através de feridas ou até mesmo pela vacinação com objetos não esterilizados. O técnico cita que nos casos de partos de vacas, pode acontecer algum ferimento na região reprodutiva que, se não for cuidado, serve como acesso para os clostrídios.
Vale ressaltar que essas bactérias não causam problemas no intestino de humanos e animais. Os danos ocorrem quando elas entram em contato com o tecido muscular. Além disso, elas precisam dessa entrada para se proliferarem.
Outra questão é que essas bactérias estão presentes em todo o país, porém regiões com clima mais tropical (muita umidade e muito calor), são mais favoráveis para que os clostrídios permaneçam no ambiente por mais tempo.
O que são os esporos dos clostrídios?
Essas bactérias também produzem esporos que são uma forma de se transmitirem e ao mesmo tempo resistirem durante muito tempo a situações extremas, como o calor e ressecamento. Esses esporos estão presentes no ambiente de forma geral, como solo e vegetação. Quando encontram um ambiente favorável – como no caso de uma ferida – as bactérias germinam e começam a se reproduzir.
Quais os sintomas da gangrena gasosa?
Uma vez dentro da área lesionada, as bactérias iniciam suas atividades e a região começa a inchar e apresentar quadro infeccioso. Além da inflamação também pode apresentar febre no local, vermelhidão e o animal sente dor.
Outro ponto é a alteração comportamental do bovino. Dependendo da região de ocorrência da doença, ele não conseguirá se locomover, se deitar ou se alimentar. Também se percebe uma apatia em decorrência da febre.
Sintomas em estágio mais avançado
Em fases mais agudas da doença, o local da lesão começa apresentar necrose, ou seja, o tecido começa a morrer e fica com uma coloração mais escura. O edema também começa a liberar gases, produtos da fermentação das bactérias. Inclusive, essa característica dá nome à doença. O cheiro também é marcante, pois é forte e similar à carne em decomposição.
Além disso, ocorre a crepitação gasosa que são como bolhas de gás na região. O médico veterinário assemelha a sensação de estourar de plástico bolha. O animal também pode apresentar ataque cardíaco e ataque apneia – paralisação da respiração.
Como é a evolução da doença?
Do contágio com a bactéria até um estágio mais avançado ou o óbito do animal, são cerca de 24 a 48 horas. A ação das bactérias é rápida e a combinação da infecção com as toxinas liberadas no corpo do animal fazem com que seja uma doença que leve à morte rapidamente.
“Ter um tempo maior para a mortalidade é mais raro. O mais comum é que ele morra nas primeiras 48 horas”, conta Veloso.
Como é o tratamento da gangrena gasosa em bovinos?
O tratamento da gangrena gasosa em bovinos é feito com o uso de antibióticos e um diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for feito, o animal terá mais chances de sobreviver.
O especialista ressalta que é fundamental a orientação do veterinário, por isso, não é indicado que o produtor faça o tratamento por conta própria. “Assim que o produtor detectar os sintomas é importante que ele entre em contato com o médico veterinário para estabelecer o protocolo de antibióticos”, aponta Veloso.
Como fazer a prevenção do rebanho contra a gangrena gasosa em bovinos?
Por ser uma doença que precisa de uma porta de entrada, é importante que o produtor esteja atento a formas que podem causar alguma lesão ao animal. Além disso, outro ponto é a higienização dos materiais que serão utilizados nos animais. O especialista indica os cuidados que devem ser tomados para prevenção.
Higienização dos materiais de vacinação e cirúrgicos
seringas, agulhas e outros instrumentos de uso nos animais devem sempre estar bem higienizados. O mais indicado é que sejam utilizadas sempre agulhas novas, no caso da vacinação. Caso não seja possível, deve-se higienizar com água sanitária diluída em água. Veloso ressalta que antes de fazer esse procedimento de limpeza é importante que o produtor consulte um veterinário para saber se o medicamento que será aplicado pode sofrer alguma mudança por ter contato com algum resquício da higienização.
Vacinação
Atualmente, existem medicamentos que podem ser aplicados a partir dos quatro meses de vida e funcionam como preventivos para esses casos de infecção. A vacinação deve acontecer anualmente;
Enterrar carcaças de animais que morreram
A medida deve ser tomada independente da causa da morte do animal. O processo de decomposição aumenta a carga dos clostrídios no ambiente, inclusive do Clostridium botulinum, causador de outra doença conhecida, o botulismo;
Não utilizar varas de ferrão ou esporas afiadas
A doença pode acometer outros animais, como equinos, por isso não é recomendado o uso de esporas afiadas na monta de cavalos, por exemplo. O uso das varas de ferrão no manejo do gado também não é indicado;
Aplicação de antissépticos e higienização de áreas lesionadas
Ao notar uma ferida ou corte, o produtor deve retirar terra ou matérias orgânicas que estiverem no local e higienizar com água e sabão. Além disso, pode aplicar antissépticos ou mata bicheiras, como o Lepecid.
Qual o prejuízo da gangrena gasosa em bovinos para o produtor rural?
Flávio Veloso explica que atualmente essa doença não é notificada aos órgãos de sanidade, o que não permite estipular quantos animais já tiveram a enfermidade e nem quantas mortes aconteceram no rebanho brasileiro.
Apesar de não ser transmissível de um animal para outro, como as viroses, o prejuízo para o produtor é considerável, já que pode levar ao óbito do bovino.
De forma resumida, a doença progride rapidamente, exigindo intervenção imediata para evitar perdas significativas no rebanho. Sua prevenção é fundamentada em boas práticas de manejo e higiene, além de vacinação adequada, sendo um desafio constante para os produtores e veterinários no setor agropecuário.
Com informações do Agro Estadão
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