Produtores aguardam orientação da Secretaria de Agricultura sobre como combater a praga, já que uso de agrotóxicos pode prejudicar o solo.
Produtores de frutas e hortaliças em áreas rurais nas redondezas de Cuiabá, capital do Mato Grosso, têm sofrido prejuízos com o ataque de gafanhotos. A espécie que tem danificado as plantações é a Tropidacris collaris, inseto quase três vezes maior que a Schistocerca cancellata, o já famoso gafanhoto sul-americano originário do Paraguai e Argentina.
Segundo Josefina de Almeida, presidente da Associação de Moradores de Quintas do Bandeira, distrito rural a cerca de 20 minutos da capital, a maior parte dos 380 residentes locais relatou perdas com a praga. A comunidade do Machado e a área do Manso também foram afetadas.
“A nossa região é muito conhecida pela produção de doce de caju, de goiaba e de manga. Nós já tivemos problemas por conta da seca, das queimadas e, agora, veio o gafanhoto. Então, provavelmente não teremos produção neste ano”, afirmou.
Ela conta, ainda, que esta foi a primeira temporada em que os gafanhotos atacaram as áreas produtivas da comunidade de forma tão intensa e que espera um direcionamento da Secretaria de Agricultura para adotar algum tipo de controle.
“A Secretaria nos atendeu e estamos aguardando (um posicionamento). Nós não tomamos nenhuma iniciativa porque temos que utilizar agrotóxico para nos livrarmos dos gafanhotos, mas isso afeta o nosso solo”, disse Josefina. “Eles estão detonando toda a produção das árvores de manga e caju, assim como as hortas”, lamenta.
O Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), órgão ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, declarou que os insetos podem ser controlados com inseticidas, mas que, “por se tratar de ocorrências em áreas urbanas o uso não é recomendado, devido ao risco de intoxicação da população”.
O aumento das queimadas na região pode ser uma das razões da emergência da praga em Cuiabá. “Estes gafanhotos nativos têm menor hábito migratório (do que o sul-americano), mas as revoadas em forma de nuvens podem ocorrer, normalmente decorrente de um desequilíbrio ambiental, desencadeado por alterações climáticas como as queimadas, por exemplo, que acarretam a redução da disponibilidade de alimentos, causando essa movimentação dos insetos para sua sobrevivência”, afirmou o Indea, por meio de nota.
A secretária de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá, Débora Marques, confirmou que as secas e as queimadas podem contribuir diretamente para o aumento da população de gafanhotos. “Uma coisa que já foi identificada foi a questão do fogo e da seca. Existem algumas propriedades onde não compensa fazer a aplicação fitossanitária porque pode prejudicar o meio ambiente e até os animais”, avaliou.
Por isso, um grupo de trabalho formado pela Secretaria, o Indea e o Ministério da Agricultura deve visitar as áreas afetadas nesta quarta-feira (9/9). A intenção é fazer a avaliação da situação em cada propriedade para, posteriormente, adotar algum tipo de manejo.
A secretária diz também que os produtores pertencem à agricultura familiar e que será observado o prejuízo financeiro de cada um dos afetados. “Aquele pequeno produtor que dependia daquela produção e não tem uma outra renda, estamos fazendo um levantamento para ver se conseguimos fornecer algum auxílio. A gente não tem a informação de que eles vivem exclusivamente da produção, mas teriam outras fontes de renda”, completou.
Inseto não veio da Argentina
O Indea destacou que a emergência local não é da Schistocerca cancellata, espécie que tem se propagado na Argentina e no Paraguai e mantém constante movimentação nos dois países desde maio. Em julho, uma nuvem em solo argentino ameaçou cruzar a fronteira com o Brasil, quando esteve a 90 quilômetros de Barra do Quaraí (RS) e a 20 quilômetros do Uruguai.
Apesar de não se tratar do gafanhoto sul-americano, que pode se movimentar até 150 quilômetros por dia – embora essa intensidade seja considerada rara -, a Tropidacris collaris também tem causado prejuízos aos agricultores argentinos.
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Segundo o Serviço de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa), foi registrado o aumento populacional da praga neste ano nas províncias de Córdoba, Santiago del Estero, Santa Fé, Catamarca, Chaco e Salta, causando danos às lavouras de soja, milho, algodão e sorgo, além de matas nativas e pastagens. Para implantar ações de manejo junto aos produtores, o Senasa declarou alerta fitossanitário em agosto. A medida vale até 31 de março de 2021.
Conhecida no país vizinho como Tucura quebrachera, a capacidade de voo e agrupamento deste gafanhoto são muito menores do que as do seu similar. No entanto, na definição da agência governamental argentina, as tucuras são insetos que “comem muito, alimentando-se de quase todas as plantas, incluindo plantações, pastagens e flora nativa”, e, portanto, “podem afetar a atividade agropecuária de forma direta e a pecuária de forma indireta, pois reduz a disponibilidade de recursos forrageiros”.
Fonte: Globo Rural