Gado da Amazônia reforça Projeto Boi na Linha

Novo protocolo para fornecedores de gado da Amazônia reforça Projeto Boi na Linha; Será colocado em prática a partir do dia 1º de julho.

O Projeto Boi na Linha, desenvolvido pela ONG Imaflora com apoio do Ministério Público Federal e participação da indústria de carne, além de outras organizações da sociedade civil, redes varejistas e investidores, colocará em prática a partir do dia 1º de julho o novo Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Gado, um conjunto unificado de regras para nortear a compra de animais na Amazônia pelos frigoríficos.

Além de fechar o cerco contra pecuaristas que ainda desmatam, o protocolo também tem por objetivo impulsionar a implantação de boas práticas na criação e o bem-estar animal, e poderá se tornar uma ferramenta importante no combate ao avanço da atividade em terras indígenas e a condições precárias de trabalho. Enormes desafios, que só serão alcançados com o avanço da rastreabilidade dos rebanhos amazônicos — apenas no Pará são cerca de 20 milhões de cabeças.

Em apresentação virtual promovida pelo Imaflora no início deste mês, o procurador da República Daniel Azeredo lembrou que o novo protocolo é parte de um processo de ordenamento da bovinocultura amazônica iniciado em 2009 e que já obteve muitos resultados positivos nos últimos anos. Mas que seu lançamento acontece em um momento particularmente delicado, tendo em vista que o desmatamento da
Amazônica voltou a aumentar a taxas alarmantes.

“Não é preciso haver conflito entre produzir e preservar o ambiente”, afirmou Azeredo. Com investimentos em novas tecnologias, observou, é possível inclusive obter ganhos consideráveis de produtividade sem que a floresta seja sacrificada. E, por mais que, segundo ele, a pecuária não seja nem de longe a responsável pelo reaquecimento do desmate — papel reservado a grileiros e madeireiros ilegais, entre outros criminosos —, o novo protocolo reforçará o Projeto Boi na Linha, padronizará questões técnicas e facilitará o cumprimento dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) firmados por frigoríficos.

Nesse sentido, Azeredo destacou dois pontos: em primeiro lugar, a ampliação da oferta de imagens de satélites que podem ser usadas pelos frigoríficos para monitorar seus fornecedores; e o estabelecimento de “tetos de produtividade” para as propriedades. O procurador concorda que o monitoramento já é muito eficiente no caso dos fornecedores diretos da indústria da carne, mas afirmou que os fornecedores indiretos — aqueles que vendem o gado para outro criador que o repassa aos frigoríficos — ainda são um problema grave.

“A imensa maioria dos produtores cumpre suas obrigações. Mas é preciso unir forças para o controle e a regulação de toda a cadeia produtiva”, disse ele durante a apresentação de hoje. O procurador também chamou a atenção para o fato de o incremento dos índices de desmatamento da Amazônia, que em abril bateu novo recorde mensal, ter provocado uma série de ameaças de embargos a produtos brasileiros por parte de países e clientes no exterior.

E não é para menos. Logo depois de 2009, quando os primeiros acordos envolvendo a pecuária na Amazônia foram firmados, o desmatamento, que era galopante e se aproximava de 15 mil quilômetros quadrados por ano, começou a cair aceleradamente e ficou abaixo de 5 mil quilômetros quadrados em 2012. Na bovinocultura, milhares de criadores ficaram sem clientes e tiveram que se adaptar, o que emprestou ao segmento um carimbo sustentável importante para o aumento das vendas no país e no exterior.

Entre 2013 e 2019, contudo, o patamar cresceu para entre 6 mil e 7 mil quilômetros quadrados por ano, já preocupante, e em 2019 chegou a 9,5 mil. Muitas terras públicas não destinadas, alvos de grilagem, perderam suas matas, mas incertezas sobre o Código Florestal, entre outras, ajudaram a fomentar o avanço. Mas o tiro de misericórdia, já no governo de Jair Bolsonaro, veio com o desmantelamento da estrutura de fiscalização do Ibama, que reacendeu a chama dos desmatadores.

“Mas, se não fossem os TACs da pecuária, o desmatamento teria voltado a ser de 15 mil a 20 quilômetros por ano”, disse Azeredo. Neste processo de fortalecimento do Projeto Boi na Linha, lembraram Jordan Carvalho, fundador e diretor técnico da Niceplant Geotecnologia, uma das pioneiras em monitoramento socioambiental no país, e Márcio Nappo diretor de sustentabilidade da JBS no Brasil, é necessário o engajamento total dos demais elos da cadeia, sobretudo das redes de supermercados.

Ambos observaram, na apresentação do novo protocolo, que não são apenas os consumidores que querem saber de onde vem sua comida, mas também os investidores.

Segundo Nappo, nesse sentido o papel do varejo é muito importante, já que as grandes redes podem colaborar, a partir das exigências dos consumidores, para acelerar os processos de melhoria na cadeia da carne bovina. Com compras diárias de 30 mil a 35 mil cabeças de gado no país, a JBS é a maior empresa de proteínas animais do mundo, com faturamento que ronda os R$ 200 bilhões.

Fonte: Valor Econômico.

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