‘Mercado é soberano’, Gabriel garante livre comércio de genética zebuína no Brasil

“Nós estamos acostumados a falar em agricultura de precisão agora é partir para a pecuária de precisão. Os rumos da pecuária é investir em tecnologia e entender que ela faz parte do processo produtivo”

O fundador e editor do portal Compre Rural, Marcio Peruchi esteve neste mês de maio participando da ExpoZebu, maior feira pecuária do mundo, que nesta 88ª edição recebeu mais de 2.200 animais que estiveram no Parque Fernando Costa, sede da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), em Uberaba (MG). Na ocasião, Peruchi entrevistou com exclusividade para o Compre Rural o presidente da ABCZ, Gabriel Garcia Cid.

Neto de Celso Garcia Cid, que participou da histórica importação de zebuínos da Índia na década de 60, Gabriel tem vasta experiência em melhoramento genético, dedicando-se atualmente à seleção de Nelore e Gir na Fazenda Cachoeira 2C, localizada em Sertanópolis (PR).

Sobre o momento atual em que a pecuária está passando Cid acredita ser muito interessante e, a associação tem registrado com números, através da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), constatou-se o aumento na comercialização de sêmen, o que significa que os pecuaristas, tanto de corte como de leite, tem buscado por tecnologia.

marcio peruchi entrevistando gabriel garcia cid
Foto: Joyce Rodrigues

Nós estamos acostumados a falar em agricultura de precisão agora é partir para a pecuária de precisão e o melhoramento genético, sustentabilidade, lucratividade são ferramentas que juntas trazem hoje essa futura pecuária de precisão que nós temos que ter. Melhoramento genético a ABCZ promove através dos seus criadores, somos hoje mais de 24 mil associados, e a gente tem impacto positivo em mais de 5 milhões de propriedades rurais desses usuários da genética pura melhoradora, os rumos da pecuária é investir em tecnologia e entender que ela faz parte do processo produtivo”, explicou.

Segundo Cid atualmente o sistema de integração lavoura pecuária é outra tecnologia muito importante para os pecuaristas e que, além de trazer reestruturação da fazenda como a recuperação de pastagem, por exemplo, o pecuarista otimiza a utilização do solo com a produção de grãos e outros alimentos para o próprio gado.

A adoção de biotecnologia de reprodução tem crescido dois dígitos por ano no Brasil, e a ABCZ é quem chancela, ou seja, registra esses animais. Perguntado sobre esse papel importante no progresso genético da ABCZ, Cid falou sobre a responsabilidade de levar a informação não apenas aos associados como a todos os produtores do país.

“A nossa responsabilidade é mostrar com casos de sucesso de grandes projetos de fazenda e principalmente pequenos produtores, como o investimento em tecnologia melhora o custo benefício e a arroba produzida por hectare. Essa é a grande missão da ABCZ. A gente sabe da nossa responsabilidade de promover o registro genealógico das raças zebuínas, promover o melhoramento genético através do PMGZ mas temos uma responsabilidade tão grande quanto a de comunicar, levar informação, fazer com que os benefícios de se produzir mais com menos tempo e consumindo menos, que é isso que a genética pura faz, nós temos que levar para todo mundo”, destacou.

animal da raca guzera durante julgamento no parque fernando costa - abcz expozebu
Foto: Divulgação

Para o presidente da ABCZ todo governo que for inteligente vai defender o agronegócio, pois é o agronegócio que sustenta o Brasil em pé. E, pode ser comprovado com números, já que nos últimos anos é o agronegócio que promove o superávit da balança comercial.

“Independente do governo que estiver posto, seja estadual, federal e até em nível municipal a posição da ABCZ é e vai ser sempre em defender os direitos dos produtores e pecuaristas, isso independente do governo, com firmeza e respeito. Tivemos na abertura da ExpoZebu vários representantes do governo e a nossa posição é que queremos paz no campo, o produtor rural precisa de paz para produzir e o nosso posicionamento junto ao governo, seja esse que está ou qualquer outro que vier, é defender os direitos com respeito e firmeza. E o que está acontecendo hoje no Brasil é uma união de todas as entidades, um alinhamento positivo de saber que com organização podemos cobrar as nossas pautas. Respeito ao direito de propriedade, queremos paz e respeito só isso”, disse.

O editor do portal Compre Rural, Marcio Peruchi, questionou Cid sobre o advento nestes últimos 30 anos de vários programas de melhoramento genético, e de modo geral existir uma certa divisão entre o gado de número e o gado de pista e como a ABCZ entende esse alinhamento.

Gabriel-Garcia-Cid - presidente da abcz - Parque Fernando Costa - Uberaba
Foto: ABCZ

Para Cid, o Brasil é um país continental e a ExpoZebu foi apresentada várias raças e principalmente vários modelos de produção, são modelos de seleção e às vezes dentro de uma mesma raça.

“Nosso programa de melhoramento mostra isso muito bem, o gado selecionado na pista é um gado de ótimo desempenho, grande ganho de peso, existem modelos de seleção que você produz um gado mais equilibrado, que tem condições alimentares inferiores e isso dentro de uma mesma raça. Todas as raças zebuínas têm as suas qualidades, suas características, o que a gente checa são modelos de seleções diferentes e o zebu, a exemplo da raça Nelore, como todas as raças que nós criamos, é fantástico pois ele responde para onde você quiser levar ele, com seleção feita da forma correta. Você quer um grande ganhador de peso você consegue fazer através de seleção, de trabalho criterioso, você quer produtor de leite você consegue, uma linhagem mais fértil também, o zebu todas as raças são fantásticas e corresponde ao que a seleção pretende. O papel da ABCZ é dar apoio a todos”, explicou.

Leilão de Touros Jacamim na Origem - ricardo nicolau leiloes
Touros Fazenda Jacamim / Foto: Ricardo Nicolau Leilões

Novas regras das centrais de inseminação

No ano passado o Compre Rural publicou uma matéria na qual narrava que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) remeteu o Ofício de número 10/2022 ao superintendente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), na época Luiz Antônio Josakian.

Esse ofício pedia ao superintendente a revisão dos critérios apresentados pela Associação, pois a Instrução Normativa 13/2020 estabeleceu regras e procedimentos para a inscrição de reprodutores em centros de coleta e processamento de sêmen visando promover ganhos genéticos aos rebanhos nacionais.

O Ofício citava ainda que há no Brasil a disseminação de material genético comprovadamente inferior, e cria uma série de regras para que os animais possam ingressar em centrais de inseminação, para a coleta de material genético.

Sobre esse assunto que alardeou muitos pecuaristas sobre a questão de você delimitar parâmetros para os animais poderem disponibilizar genética ou não, Cid falou que a posição da nossa nova diretoria da ABCZ é de defender o livre comércio, principalmente as sete raças zebuínas de mais volume, e principalmente de pequenos produtores das centrais de comercialização.

As regras atuais satisfazem esse comércio, elas foram escritas enquanto eu era diretor técnico em 2020, tivemos na semana passada junto com o ministro do MAPA Carlos Fávaro e tivemos uma posição muito importante deles que os critérios zootécnicos fiquem a cargo das associações, isso é um posicionamento fantástico que nós ouvimos terça-feira da boca do ministro. Hoje o ministério tem que estar preocupado em abrir mercado, na fiscalização sanitária e as questões zootécnicas fiquem a cargo das associações, e nós entendemos e defendemos”, enfatizou.

Para Cid o mercado é soberano, é livre, e os compradores de genética, seja de touro seja de sêmen, tem consciência de ter um animal com boa avaliação, que consiste em toda a parte morfológica, racial, estrutura, aprumos que fazem parte do pacote produtivo.

“Para você ter um touro que cubra as suas vacas ele precisa ter bons aprumos, para você ter uma vaca que consiga parir ela tem que ter boa abertura, quando a gente fala de beleza racial são informações produtivas, e você pode com muita firmeza ter a união das ferramentas, a avaliação genética que nada mais é que a média da produção por grau de parentesco e o desempenho individual do animal. Em toda seleção tem os animais de cabeceira meio e fundo e seleção só faz com descarte, ou melhor rebanho é aquele que tem menos animais de descarte, e o melhor criador é aquele que sabe identificar e multiplicar os seus melhores animais. Então o que nós defendemos é o livre comércio e a união das ferramentas genética com avaliação visual”, opinou.

Para finalizar, Cid destacou que nenhum país no mundo deve tanto a um conjunto de raça como o Brasil deve ao Zebu e a ABCZ, atualmente com 104 anos. Há 61 anos atrás foi realizada a última importação de gado vivo e foi grande revolução.

O zebu proporcionou ao Brasil ser um dos maiores produtores de carne do mundo e hoje o maior exportador de carne do mundo. Respeito e consciência que a gente tem de tudo que foi implantado no passado, estamos colhendo hoje o resultado de pioneiros que vieram antes da gente e o que nós temos que fazer é cuidar com muito carinho, muita responsabilidade. Hoje o mundo não quer saber apenas de carne e leite de qualidade, quer saber como a gente produz isso. A nossa missão daqui para frente é cuidar e saber comunicar com todo mundo”.

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