Frigoríficos não estão sentindo a crise, só o pecuarista

A desvalorização cambial, menor concorrência, aumento da oferta de gado e maior demanda de exportações fazem com que frigoríficos não sintam a crise.

As margens de lucro dos frigoríficos não estão em alta apenas nos Estados Unidos, onde a paralisação de diversas unidades por conta do coronavírus fez o preço da carne disparar.

A combinação de desvalorização cambial, menor concorrência, aumento da oferta de gado e maior demanda de exportações também torna o negócio de carne bovina mais rentável na América do Sul.

Essa é a avaliação de Miguel Gularte, presidente da Marfrig Global Foods. Após atingirem níveis recordes para o primeiro trimestre, as margens de carne bovina devem permanecer altas, disse. A Marfrig possui unidades nos EUA, Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.

Fora da América do Sul, outros grandes países produtores de carne vermelha, como Austrália e Índia, enfrentam desafios que podem limitar as exportações, abrindo espaço para os sul-americanos.

Além disso, a China retomou o forte ritmo de compras de carne bovina desde março, a Europa começa a voltar ao mercado e os primeiros embarques para os EUA estão a caminho.

Com a perspectiva favorável para as exportações, o mercado externo tem aumentado sua participação nas vendas da Marfrig, disse Gularte em entrevista por telefone na quarta-feira.

Nos EUA, onde a Marfrig controla a National Beef Packing Co., as margens devem continuar positivas com a ampla oferta de gado, exportações estáveis e as vendas fluindo no mercado doméstico.

Embora o absenteísmo tenha atingido níveis recordes nos EUA em meio à pandemia de coronavírus, isso não afetou as operações da empresa. Um frigorífico da National Beef em Iowa, que ficou fechado por duas semanas devido ao surto de coronavírus, agora funciona normalmente, disse.

A empresa não registrou casos de Covid-19 em unidades na América do Sul. No Brasil, o absenteísmo está em uma mínima histórica, afirmou Gularte.

A expectativa de aumento de desemprego e queda na renda em países onde a empresa opera, como o Brasil, não afeta a perspectiva de rentabilidade positiva.

A queda na demanda de food service no país foi compensada por uma alta nos volumes no atacado, embora uma migração do consumo para cortes mais baratos já tenha sido identificada, afirmou.

Em relação à oferta de matéria-prima, se aproxima o período do ano em que a América do Sul conta com disponibilidade de gado a preços mais competitivos, lembrou.

“A equação é positiva (para as margens da indústria). Estamos em um setor em que a demanda supera a oferta, e isso não vai mudar mesmo em um mundo mais pobre”, disse. 

Mercado do boi, qual o cenário atual e o que esperar?

Em entrevista, o Sócio da Radar Investimentos, Douglas Coelho, destacou que  as programações de abate registraram um alívio nos últimos dias. “Nós acreditamos que isso é reflexo do aumento da oferta de animais já que as pastagens estão perdendo a qualidade. A média de escala está em seu maior nível desde ano passado, sendo que hoje temos 3,75 dias úteis e foi o maior patamar observado desde 31 de outubro”, comenta. 

Historicamente a desova de animais ocorre no final de maio e começo de junho, porém nas últimas últimas a frequência e o volume de precipitações reduziram. “Nós estamos em abril e a cotação da arroba continua remuneradora ao pecuarista, na qual a referência em São Paulo para o boi comum gira ao redor de R$ 196,00/@ e o boi China segue com um ágio de R$ 5,00/@, afirma. 

No mercado atacadista, os preços da carne bovina seguem sustentados e temos um valor em torno de R$ 13,12/kg. “Nós estamos vendo uma movimentação um pouco maior no atacado sem osso em que o mercado está bem enxuto”, relata. 

Em função da disseminação do coronavírus muitos eventos foram adiados, mas a expectativa é que no terceiro trimestre tenha um estímulo maior para o consumo de carne bovina. “Se essa tendência ganhar força podemos ter uma demanda muito aquecido com a entrada do 13º salário, eventos e feiras acontecendo”, ressalta.

Do lado da demanda externa, o cenário das exportações de carne bovina in natura é positivo em que os dados da exportação da semana do dia 20 ao 24 de abril reforçaram as estimativas. “Em março embarcamos 125,9 mil toneladas e as projeções para este mês são de 123 mil toneladas. Como houve uma aceleração significativa na última semana, os dados de abril vir a mais do que projetado  inicialmente”, diz Coelho.

Compre Rural com informações do Notícias Agrícolas e Money Times

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