As vagas criadas no último ano representam um crescimento de 7,5% ante com o estoque de 113,1 mil empregados em abatedouros de bovinos em dezembro de 2016, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho.
Há alguns anos, os moradores da Juruena, no norte de Mato Grosso, sofrem com as parcas alternativas de emprego. Como é comum em cidades de menor porte, a prefeitura representa mais da metade das vagas formais, e as atividades do setor privado são escassas. Mas a situação começou a mudar recentemente com o anúncio do arrendamento e reabertura de frigorífico no município pelo Frigol.
“A cidade está toda animada”, relata o ex-prefeito Bernardo Crozetta, hoje à frente da Secretaria de Desenvolvimento de Juruena. Se tudo correr como o esperado na emissão das licenças ambientais, o município ganhará em torno de 450 empregos em fevereiro, o equivalente a quase 50% do total de vagas até então existentes da cidade – isso sem contar empregos indiretos.
Assim como Juruena, outros rincões do país passam por um movimento semelhante. Após as turbulências de 2015 e 2016, período no qual a restrição de boi gordo e a recessão da economia provocaram o fechamento de mais de 50 frigoríficos e a demissão de 7,9 mil pessoas, a indústria de carne bovina parece ter entrado em nova fase, embalada pela inversão do ciclo da pecuária e pela retomada da economia.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Valor, o saldo de empregos nos abatedouros de bovinos do país ficou positivo em 8,7 mil vagas entre janeiro e novembro – o dado de dezembro ainda não foi divulgado. Trata-se do melhor desempenho desde 2012, quando os frigoríficos geraram 10,2 mil vagas. Dono do maior rebanho do Brasil, Mato Grosso lidera o movimento, seguido por Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará (ver infográfico).
A tendência é que o saldo de empregos do setor cresça ainda mais, incluindo unidades que serão reabertas neste ano pelo Frigol em Juruena, pela Marfrig em Pontes e Lacerda e pelo Frigoestrela em Rondonópolis, ambos em Mato Grosso. Aos dados também devem ser acrescidos o frigorífico do Rodopa em Cachoeira Alta (GO), que foi arrendado pelo Frigol e voltou a funcionar em dezembro, gerando 380 vagas, segundo o presidente da empresa paulista, Luciano Pascon.
“A nossa cidade é muito dependente de frigorífico”, reconhece o prefeito da goiana Cachoeira Alta, Kelson Vilarinho (PSD), que já observa uma recuperação do município de 12 mil habitantes. “A cidade está movimentada. Veio muita gente de fora e o comércio melhorou”, acrescenta o prefeito.
A avaliação de autoridades de outras cidades ouvidas pelo Valor é semelhante. “O impacto foi excelente porque antes a cidade estava parada. O comércio apareceu”, diz Pedro Henrique Gomes, chefe de gabinete do prefeito de Mirassol D’Oeste (MT). Devido à reabertura da unidade da Minerva Foods, o município liderou o saldo positivo de empregos no setor em 2017. Ao todo, foram 857 vagas, o que representa mais de 15% do empregos formais de Mirassol, que tem 26 mil habitantes.
Também em Nova Xavantina, na região nordeste de Mato Grosso, a retomada das operações da unidade da Marfrig significou uma mudança de grandes proporções para o município. “Hoje, o frigorífico é o maior gerador de empregos”, diz o prefeito João Batista da Silva (PSD). Até meados do ano, quando a planta estava fechada, a prefeitura era a maior empregadora, segundo Silva. De acordo com os dados do Caged, o saldo de empregos nos abatedouros de bovinos de Nova Xavantina ficou positivo em 635 vagas – 19,7% dos empregos formais.
Além da conjuntura econômica favorável e da maior oferta de bois, o ressurgimento de frigoríficos reflete o rearranjo provocado pela delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS. Ao longo do último ano, a empresa entregou três frigoríficos em Mato Grosso que estavam alugados e fechados há alguns anos. Entre as plantas estavam as de Juruena e Pontes e Lacerda – que agora serão reabertas.
“Com essa saída da JBS, você traz um novo cenário a essas regiões”, avalia o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Thiago Bernardino de Carvalho. Para ele, a concentração do setor restringia as alternativas aos pecuaristas do país.
No Mato Grosso, a JBS chegou a ter mais de 50% da capacidade de abate – incluindo unidades abertas e fechadas -, conforme o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Frigoríficos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, concluído em 2017.
Conforme o pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UMFT), Ernani Pinto de Souza, a maior concorrência no setor é positiva, mas exige competência dos novos entrantes. “A JBS está tentando retomar a credibilidade”, diz. Com informações do Valor.
Fonte: pecuaria.com.br