Frigorífico tenta recuperação judicial com dívidas de R$ 115,5 milhões e poucas explicações

O Frigorífico Rio Beef enfrenta dívidas de R$ 115,5 milhões em meio a acusações de má gestão e falhas na reestruturação. Ainda com falta de clareza nas informações e o surgimento de novo credor, a empresa tenta recuperação judicial em nova assembleia de credores.

O Frigorífico Rio Beef, com dívidas que superam a casa dos cem milhões de reais e enfrentando acusações de má gestão, busca recuperação judicial. Uma nova assembleia de credores foi marcada para 31 de outubro de 2024, com uma segunda convocação em 7 de novembro, para votar o novo plano de reestruturação, enquanto surgem dúvidas e novo credor. Além disso, após notícia veiculada pelo Compre Rural com a exposição do caso, juntamente com o Direito de Resposta da indústria, alguns pontos não foram esclarecidos, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a sua capacidade de soerguimento.

Fundado em 2019, o Frigorífico Rio Beef foi criado com o objetivo de atender à crescente demanda por carne bovina na região de Ji-Paraná (RO). Em poucos anos, no entanto, a empresa viu-se cercada por dificuldades financeiras que levaram a um acúmulo de dívidas superiores a R$ 115,5 milhões. A crise financeira do frigorífico agora é acompanhada de alegações de má gestão, desvios de recursos e diversas falhas em tentativas de reestruturação.

Com sua reputação deteriorada e a confiança dos credores enfraquecida, o frigorífico passa por um momento crítico, impactando diretamente pecuaristas e fornecedores locais. Muitos deles dependem das operações do Rio Beef para escoar suas produções, o que amplia os efeitos da crise para além da empresa.

Muitos deles [credores] dependem das operações do Rio Beef seja para escoar suas produções ou venda de insumos, o que amplia os efeitos da crise para além da empresa.

A Recuperação Judicial: Caminho Conturbado e Novos Impasses

Para tentar reorganizar suas finanças e evitar a falência, o Rio Beef entrou com um pedido de recuperação judicial em 2023. A proposta, entretanto, não foi bem recebida pelos credores: 69% deles rejeitaram o primeiro plano de recuperação apresentado em abril do mesmo ano, apontando desconfiança e insatisfação com as explicações fornecidas.

Em resposta, a empresa reformulou o plano, submetendo uma nova proposta em julho. No entanto, o segundo plano também enfrentou resistência, sendo questionado por irregularidades e falta de clareza nas informações.

Um novo capítulo dessa batalha judicial será discutido em uma assembleia de credores marcada para o dia 31 de outubro de 2024, com uma segunda convocação prevista para 7 de novembro de 2024. Nesta reunião, os credores terão a oportunidade de votar sobre o plano revisado e decidir se concedem uma nova chance ao Rio Beef de reestruturar suas operações e recuperar sua estabilidade financeira.

Desafios Adicionais e Risco de Descontinuidade das Operações

Enquanto luta para se reerguer, o Rio Beef enfrenta a ameaça de perda do imóvel onde opera. A proprietária do imóvel entrou com uma ação judicial para retomar a posse, o que coloca em risco a continuidade das atividades do frigorífico e gera incertezas sobre a possibilidade de retomada das operações.

Além disso, o surgimento de um novo credor, que ainda não teve sua relação com a empresa totalmente explicada, complica ainda mais o cenário e alimenta as suspeitas de irregularidades financeiras. Esse novo elemento será crucial para os credores, que aguardam respostas e justificativas que possam esclarecer a real extensão das dívidas e os responsáveis pela atual situação.

O Papel do Administrador Judicial no Caso Rio Beef

O administrador judicial desempenha um papel crucial em garantir que o processo de recuperação seja conduzido de forma transparente e justa, tanto para a empresa quanto para os credores. No caso do Frigorífico Rio Beef, o administrador tem sido ativo na fiscalização das operações financeiras, identificando irregularidades e cobrando explicações por desvios de caixa e pela falta de transparência em diversas transações.

Além disso, o administrador judicial recomendou a convocação de novas assembleias de credores e alertou o Ministério Público sobre a possibilidade de crime falimentar, devido às evidências de má gestão e pagamentos não justificados. Seu papel, portanto, é assegurar que todos os credores sejam tratados de forma equitativa e que o processo siga conforme a lei.

Já o administrador judicial, que questionou alguns pontos, informou ao Compre Rural que “foram requeridos documentos complementares, conforme exigido pela Lei 11.101/05, a fim de garantir a transparência do plano que será deliberado pelos credores“, que ainda completou: “Dessa forma, esta Administração Judicial não manifestou qualquer desconfiança quanto ao novo Plano de Recuperação Judicial apresentado pela Recuperanda, e tampouco o declarou como insuficiente.

Estado Atual do Pedido de Recuperação Judicial, de acordo com os documentos a que o Compre Rural teve acesso:

  • Em abril de 2023, a assembleia de credores rejeitou o primeiro plano de recuperação.
  • Um novo plano foi apresentado em julho de 2023, mas apontado como insuficiente pelo administrador judicial, devido a irregularidades e pagamentos suspeitos.
  • A empresa continua operando, porém enfrenta dificuldades de manter sua planta frigorífica, após o pedido de devolução da proprietária.
  • Credores pedem maior transparência nos relatórios financeiros da empresa, especialmente no que se refere ao período de 2019 a 2024.
  • Uma nova assembleia de credores foi marcada para 31 de outubro de 2024, com segunda convocação prevista para 7 de novembro de 2024, onde será votado o novo plano de recuperação.

É de se frisar que todos os credores arrolados na relação de credores apresentada no processo de Recuperação Judicial podem se habilitar para participar da Assembleia Geral de Credores (AGC), convocada para os dias 31/10/2024 e 07/11/2024, com início às 09h (horário de RO) e credenciamento iniciando-se às 08h (horário de RO).

Perspectivas e Impacto Regional

O impasse na recuperação do Rio Beef gera apreensão não só para os envolvidos diretamente na empresa, mas também para os pecuaristas e o mercado local, que podem enfrentar dificuldades de escoamento e negociação dos animais caso o frigorífico encerre suas operações. A decisão dos credores na próxima assembleia será um marco decisivo para a continuidade do Rio Beef e para o futuro da cadeia de fornecimento de carne na região.

A ausência de um consenso ou de soluções concretas até agora aponta para um processo de recuperação judicial ainda longo e complexo. Com a confiança dos credores abalada, as expectativas giram em torno da reunião marcada para o final de outubro, que pode ditar o futuro do Rio Beef e seu impacto na economia local.

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