Até julho, os abates cresceram de maneira acelerada, e a unidade atingiu sua capacidade máxima, de 600 animais desossados e congelados por dia.
O diferencial competitivo vale também para os pecuaristas. Com a arroba em queda de quase 15% e os custos mais altos do que em 2021, o “boi China”, que atende os padrões de qualidade que o país exige, é o único que “faz sentido” de negociar em algumas regiões.
Neste ano, o empresário Magno Gaia, CEO da Ramax, experimentou os dois lados da moeda em um intervalo de pouco tempo. Em fevereiro, ele assumiu as operações no Frigorífico Redentor, em Guarantã do Norte (MT), planta que pertence ao Grupo Bihl, atualmente em recuperação judicial.
Até julho, os abates cresceram de maneira acelerada, e a unidade atingiu sua capacidade máxima, de 600 animais desossados e congelados por dia. Todo o volume seguiu para a China, gerando receita próxima a R$ 100 milhões por mês.
No fim de julho, o Ministério da Agricultura suspendeu a habilitação da planta para vendas à China até que houvesse melhorias nas linhas de abate. A empresa montou uma força-tarefa com 80 pessoas para fazer as adequações e recebeu o aval de Brasília em 18 de agosto. A retomada dos embarques, aguardada ansiosamente, só depende da sinalização dos chineses.
Durante o mês de agosto, os abates foram totalmente paralisados. “A planta estava liberada para abater, apenas não teria os certificados para embarcar para a China.
As operações não fazem sentido se não tiver China”, afirmou Gaia ao Valor. Com o frigorífico a pleno vapor, a unidade deverá embarcar 2,7 mil toneladas de carne bovina aos chineses.
Mercado interno
Uma pequena parcela da produção fica no mercado interno e cerca de 5% vai para outros destinos, como cortes de filé mignon para a Palestina. O restante segue para a China – e a preços bem melhores que os pagos no Brasil. O quilo do músculo, por exemplo, é vendido a R$ 17 do lado do frigorífico e sai a R$ 43 para os chineses.
Os asiáticos também consomem bastante os miúdos, como o pênis do boi, vendido a R$ 70 por quilo. O preço é maior que o do filé mignon. “Uma planta aprovada para a China hoje é uma iguaria hoje, é uma exceção”.
O Frigorífico Redentor tem habilitação para vender aos chineses desde 2019. Em 2021, ele também ficou um mês e meio suspenso, procedimento que ocorre “de maneira mais regular do que se imagina”, disse Gaia, que comanda os abates há sete meses.
Outros casos
De fato, unidades de Frialto, JBS e Marfrig em Mato Grosso também foram suspensas e reautorizadas logo depois. O embargo gera transtornos. A planta tem 1,2 mil toneladas de produto pronto para embarque. “Carne em estoque é dinheiro parado”, afirma o executivo.
O retorno dos embarques é fundamental para os planos da Ramax, que exporta carne de outros 30 frigoríficos no Brasil. Em 2022, as exportações deverão somar 50 mil toneladas. O Redentor, no entanto, é o único que produz exclusivamente para a trading, que tenta acordos semelhantes com outras duas plantas. A empresa de Gaia também tem um confinamento de 36 mil cabeças de gado em Juara (MT).
A Ramax projeta faturar R$ 1,2 bilhão neste ano, desempenho que poderia ser melhor sem a suspensão. Em 2023, com operações normais durante os 12 meses em Guarantã do Norte, a trading espera faturar R$ 1,2 bilhão apenas com o Redentor. Ao todo, a receita pularia para R$ 1,8 bilhão.
- Instabilidade no tempo marca os próximos dias no Estado
- Jeff Bezos investe R$ 44 milhões em vacina para reduzir metano do gado
- Abiove projeta produção recorde de soja em 2025
- Brangus repudia veto do Carrefour à carne do Mercosul
- São Paulo terá rebanho rastreado a partir de 2025: entenda o novo sistema
Os planos de Magno Gaia incluem conseguir habilitação para exportar carne bovina do Redentor para os Estados Unidos até o fim deste ano. A Ramax já tem operações nos EUA, como uma joint venture com o maior importador de carnes americano. A nova aposta é uma operação para distribuição para o food service na Flórida, como cortes nobres para supermercados.
Fonte: Valor Econômico.