Frete mínimo impõe US$ 2 bi a mais para exportadores de grãos, diz Anec

Executivo da entidade fez a estimativa com base na competitividade do Brasil em relação aos Estados Unidos e às expectativas de exportação da entidade

A política de preços mínimos de frete rodoviário pode gerar um custo logístico adicional de pelo menos US$ 2,36 bilhões para as exportadoras de grãos que atuam no país. O cálculo é do diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, com base nas expectativas de exportação para este ano e na diferença de competitividade entre Brasil e Estados Unidos.

Mendes explica que, considerando apenas as condições atuais de logística, a desvantagem de custo logístico para os exportadores brasileiros em relação aos americanos é de US$ 60 por tonelada. Com o tabelamento do frete, essa diferença aumentaria em mais US$ 20. Aplicando essa diferença aos 118 milhões de toneladas esperadas pela entidade em embarques de soja, milho e farelo de soja, o resultado é um custo adicional bilionário.

“O frete continua sendo a maior procupação do setor. As negociações para o ano que vem estão paradas”, disse Mendes, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio promovido pela Abag e B3 nesta segunda-feira (6/8) em São Paulo (SP).

Segundo ele, a perda de receita dos exportadores já está estimada em mais de 20%. Recentemente, a Anec havia estimado que essa perda ficaria entre 10% e 30%. “A tabela de frete é falimentar. Tem empresa que não vai aguentar”, protesta o diretor geral da entidade, dizendo temer principalmente pela situação das exportadoras menores.

Sérgio Mendes baseia sua avaliação em três fatores. Um deles é a margem das empresas, que operam com grandes volumes de mercadoria mas com as contas apertadas. Segundo o executivo, algo em torno de 2% é comemorado pelos exportadores. “É muito curta. Quando se introduz qualquer custo adicional, como o frete, beira o prejuízo”, explicou.

Outro fator, lembra Sérgio, é o preço dos produtos ser referenciado em bolsas internacionais, o que dificulta o repasse de custos adicionais e compromete o hedge das exportadoras. E, o terceiro ponto, é que o ponto fraco da cadeia de grãos é exatamente a logística.

“É onde as empresa podem ganhar mais ou menos. Com 20 dólares a mais por tonelada, isso acaba”, disse ele.

Contra o tabelamento

Originada nas negociações do governo para encerrar a greve dos caminhoneiros, entre maio e junho, a discussão sobre a política de preços mínimos de frete rodoviário chegou à Justiça. Uma decisão sobre o assunto caberá ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve se pronunciar no dia 27 de agosto. Sérgio Mendes reafirmou a posição da Anec contra o tabelamento do transporte. “Somos contra qualquer tabela de frete em qualquer forma. Temos que esperar que o ministro de sensibilize”, disse Mendes.

Investir em frotas próprias na tentativa de driblar o custo adicional com a tabela de frete pode ser inviável, avaliou.

Usando por parâmetro as maiores tradings de grãos que operam no mercado brasileiro, Mendes estimou que a demanda por companhia é de 4 mil carretas, o que demandaria um aporte de R$ 2,8 bilhões, em média.

“Uma grande empresa é capaz de fazer um investimento desses e tem empresas já comprando caminhões. Mas uma empresa menor não aguenta. Serão menos players disputando no campo da matéria-prima e quem vai perder é o produtor. Perde por ter maior frete e menos competidores”, analisou o executivo.

Fonte: Globo Rural

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