Estudo produzido pela Outcast Capital mapeia investimentos em inovação e evidencia a necessidade de desenvolvimento acelerado para garantir a segurança alimentar no futuro
Os investimentos em foodtechs e agtechs somaram US$ 755.023.129 em 2022. O valor representa 16,7% do total investido em startups no País, atrás apenas do montante destinado às fintechs, grupo que recebeu 36% dos financiamentos (mais de US$ 1,6 bilhão). Com 133 negócios analisados, o Report Investimentos no Sistema Alimentar Brasil 2023, promovido pela Outcast Capital, boutique de investimentos especializada na cadeia de alimentos, oferece a investidores, empreendedores e profissionais da indústria um panorama sobre o fluxo e as oportunidades de desenvolvimento do setor, que envolve, também empresas que atuam em toda a cadeia dessa indústria, desde a produção de alimentos e matérias-primas agrícolas, passando pela transformação em produtos alimentares, distribuição e comercialização, até o consumo pelos consumidores finais e reciclagem.
O estudo reúne, em caráter inédito, informações sobre foodtechs, agtechs e todo o cenário do sistema alimentar no País, o mais relevante da economia brasileira, atualmente. Desde 2019, o volume de investimentos no setor vêm crescendo. Em 2022, após o atípico ano em que o Brasil registrou quase U$$ 10 bilhões em investimentos totais (2021), as foodtechs e agritechs cresceram 1,6x em volume de captação em relação a 2021, enquanto o mercado total caiu mais de 66%.
Dos 133 deals fechados em 2022, 70,7% foram em rodadas super early stage (anjo, pre seed e seed). Entretanto, o volume de investimentos nesses estágios representa apenas 13% do total de US$ 755M. Foi no growth stage (series A até C) que ficou a maior parte dos investimentos: 87% do volume de investimentos em 39 deals distintos.
Quando se trata de Fusões e Aquisições, o setor representou US$ 4 bilhões dos US$ 28 bilhões transacionados no Brasil em 2022. “O estudo tem o objetivo de propor insights e visibilidade para modelos de negócios inovadores do sistema alimentar. Espera-se que investidores, empreendedores e profissionais da indústria possam ampliar seu repertório e conhecimento sobre a dinâmica de investimentos e financiamentos do setor no Brasil e evoluírem em melhores teses de negócios”, afirma José Rodolpho Bernardoni, fundador da Outcast Capital.
Os 10 mais
O estudo da Outcast Capital também ranqueia os maiores deals por volume de investimento. É interessante notar que na primeira e na segunda posição estão duas empresas do segmento de Varejo e Consumo – respectivamente Evino (que recebeu o maior investimento do período, de US$ 127,2 milhões) e a Flash (com US 100 milhões). Além disso, foram mapeados os agentes mais vezes mencionados em deals realizados no período. Entre eles, as top 4 organizações mais citadas foram Bossanova Investimentos (com 10 negócios realizados em 2022), a SP Ventures (com 9), a Endeavor e a Captable (cada uma com 8). Já na lista das empresas que receberam os maiores montantes, é interessante notar que, juntas, as top 10 concentram 63% de todo o volume de negócios do setor.
Ranking dos maiores aportes realizados em 2022:
- Evino ($ 127.202.000,00)
- Flash ($ 100.000.000,00)
- Solinftec ($ 70.000.000,00)
- Carbonext ($ 40.000.000,00)
- Mottu ($ 30.000.000,00)
- Agrolend ($ 27.000.000,00
- Trela ($ 25.000.000,00)
- Agrotools ($ 20.920.500,00)
- EuReciclo ($19.248.500,00)
- Cayena ($ 17.500.000,00)
Ranking dos agentes de investimento mais citados em rodadas de investimentos em 2022:
- Bossanova Investimentos (10)
- SP Ventures (9)
- Endeavor (8)
- Captable (8)
- SMU Investimentos (5)
- Vegan Business (5)
- Valor Capital (4)
- Astella (4)
- Kaszek (4)
- uShark (4)
Questão climática
É importante destacar que há influência de outros complexos setores, como o energético, o climático e também o de saúde e comportamento humano. Além de incluir empresas de infraestrutura e serviços, como transporte, armazenamento, comunicação e logística, também esbarra em questões governamentais relacionadas à produção, comércio e, especialmente, segurança alimentar – isso é, a garantia de fornecimento sustentável de alimentos à população.
Assim, apesar de estar crescendo, o investimento em inovação ainda é mínimo, se comparado ao que seria ideal: com base numa estimativa da Global Alliance For The Future Of Food, seriam necessários US$ 350 bilhões até 2030 para fomentar a transição para sistemas alimentares sustentáveis e resilientes. “A transformação dos sistemas alimentares é subfinanciada. Estudar ineficiências e inovações é considerar invariavelmente o contexto atual do impacto das mudanças climáticas do planeta”, afirma Bernardoni.
Por envolver questões que impactam no meio ambiente e na saúde humana, o executivo acredita que o setor mereceria também mais atenção dos governos. Nos últimos cinco anos, US$ 321 bilhões foram alocados para a mitigação climática no mundo, mas apenas US$ 9,3 bilhões estavam relacionados a medidas em sistemas alimentares. “Tanto o financiamento público quanto privado atualmente direcionado à agricultura comprometem as metas climáticas e perpetuam práticas destrutivas que prejudicam a sustentabilidade da produção e distribuição de alimentos. Investir em sistemas alimentares não apenas reduz as emissões de gases de efeito estufa e melhora a resiliência climática, mas também pode interromper a perda de biodiversidade, diminuir a insegurança alimentar e a pobreza, além de aumentar o acesso a alimentos suficientes e nutritivos para todos”, afirma Bernardoni. “Tanto para o bem quanto para o mal, a influência do clima na Terra passa por como vamos nos alimentar nos próximos anos.”
Desafios
Em um esforço de identificar os principais desafios, o estudo da Outcast Capital também destaca ineficiências do sistema no Brasil, conforme listado a seguir:
Ineficiências brasileiras
- Baixa produtividade: A produtividade média da agricultura brasileira em 2020 foi de 3.622 kg/ha, enquanto países como os Estados Unidos e a China registraram produtividades de 6.101 kg/ha e 5.981 kg/ha, respectivamente.
- Poluidor: De acordo com o Observatório do Clima, o setor agropecuário é responsável por cerca de 24% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil.
- Desperdício: O Brasil desperdiça mais de 41 mil toneladas de alimento por ano, aproximadamente 30% de toda produção agrícola.
- Acesso limitado: 120 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de insegurança alimentar, mais da metade da população.
- Hábitos inadequados e acesso ilimitado: 62% dos brasileiros apresentam sobrepeso por apresentarem hábitos ruins de alimentação. Mais de 70% das internações no SUS são causadas direta ou indiretamente por problemas relacionados à má alimentação.
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