Como de futebol e política todo mundo sabe falar, o espaço aqui vai para a carne ostentação, a carne de ouro, a carne que todos queriam pelo menos, experimentar
Por Luciano Vacari* – O mundo parou para ver a Copa. E para comentar o que fazem os que vão ver a Copa, os que jogam a Copa, enfim. Na era das redes sociais, do instantâneo e, porque não, do efêmero, o que vale é estar nos “Top 5” eletrônicos, entre as hashtags mais comentadas, na tal da lacrosfera desenfreada. Ou não. Porque o que rende seguidores, também pode render cancelamento.
E teve de tudo. Protestos por parte de jogadores, do público, o “super pen drive” e a carne de milhões. Como de futebol e política todo mundo sabe falar, o espaço aqui vai para a carne ostentação, a carne de ouro, a carne que todos queriam pelo menos, experimentar.
Não é de hoje que Nusret Gökçe, conhecido como Salt Bae, “bomba” na internet. Desde 2017, o chef e dono de uma rede de steakhouse (casa de carne) faz sucesso com seu jeito irreverente de salgar a carne e com vídeos curtos que mostram o preparo dos cortes. Antes de ganhar o mundo com a carne de ouro nesta Copa, o restaurante dele em lugares como Dubai e Turquia já era destino certo para turistas com poder aquisitivo mais elevado.
Ao colocar folhas de ouro sobre a carne, o que, segundo especialistas, pouco contribui para alterar o sabor e conferir de fato algum diferencial gustativo, Salt Bae dá show de marketing. Sim, falem o que quiserem, mas quem não queria ao menos saber o gosto que tem a tal carne de ouro, será que é melhor? Por que eu não posso comer? Se eu não posso, ninguém pode…
E por aí vai, o dono da ideia cada vez mais popular é, ao mesmo tempo, exclusivo, porque não tem nada que encante mais do que a exclusividade, o privilégio de ser único ou estar entre poucos. O tal do mercado de luxo está justamente aí, na sensação de poder. Mais do que ter dinheiro, eu preciso mostrar o que ele me proporciona.
Mas, voltando para a carne, ou melhor, para o marketing em torno dela, é isso que há anos o Brasil busca com sua suculenta picanha. Dar a ela status, um ar de nobreza que vá além do país, como ancho argentino ou parrilha uruguaia. Aliás, não tem nada que incomoda mais do que ir a restaurantes no Brasil e ver chorizo, ancho, parrilha em detrimento da nossa picanha, contra-filé. Enfim, dos nossos queridinhos, porém simplesinhos.
Nada vem por acaso, imprimir marca requer qualidade, preço e constância. Não adianta fazer uma vez, o cliente só vai se fidelizar se ela estiver ali sempre, do mesmo modo, com o mesmo sabor. E se for cara, melhor ainda.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação
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