Importância da fibra na nutrição de ruminantes

Entenda a necessidade da fibra na nutrição de ruminantes e sua quantidade mínima para manter suas vacas saudáveis

Vacas leiteiras são animais desafiadores no quesito nutrição e alimentação. Exigem dietas com alta densidade energética e adequado conteúdo proteico. Porém, necessitam de uma quantidade mínima de fibra para manter plena saúde e funcionamento ruminal. É desafiador para o nutricionista de vacas leiteiras formular dietas adequadas diante desse contexto, pois a exigência em fibra destes animais anda na contramão da densidade energética de uma dieta.

Além de poder ser afetado pela quantidade de fibra na dieta, outros fatores que podem impactar o desempenho animal são as propriedades físicas e qualitativas da fibra.

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Foto: Divulgação

Para estabelecer essas variáveis de maneira assertiva, utiliza-se como referência o NRC (2001), que sugere que a concentração mínima de fibra em detergente neutro (FDN) seja de 25% da matéria seca da dieta, sendo que, 75% da FDN total deve ser oriunda da forragem (FDNF), ou seja, 19% de FDNF.

Entretanto, esses teores devem ser utilizados em condições específicas, nas quais as vacas são alimentadas com dietas à base de silagem de milho ou alfafa, com tamanho de partículas adequado, e grão de milho como fonte de amido, sendo a oferta de alimento na forma de ração completa. Baseando-se em uma ração que contenha 19% de FDNF e 25% de FDN total, para cada 1% de redução no FDNF, deve-se aumentar 2% no FDN total e reduzir 2% no teor de carboidrato não fibroso (CNF) máximo.

A premissa dessa proposta é a de que subprodutos fibrosos, utilizados para substituir forragens, têm metade da sua capacidade para manter o pH ruminal, a atividade de mastigação e o teor de gordura no leite

Abaixo temos as recomendações mínimas de FDN de forragem (FDNF, % da MS) e FDN total (% da MS) e recomendações máximas de CNF (% da MS).

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Fonte: NRC 2001

Para mensurar a qualidade dessa fibra, a metodologia mais recente e eficiente disponível foi desenvolvida pela Universidade de Wisconsin e é conhecida como TTNFD (Total Tract NDF Digestibility), ou seja, Digestibilidade do FDN no trato total.

A figura 1 exemplifica a aplicação da metodologia. Nos EUA, uma propriedade leiteira percebeu que ao mudar o fornecimento de silagem de milho de um ano para o outro (2009 para 2010) houve rápida queda de produção. As análises in vitro por 30h demostraram que a silagem de 2010 tinha menor concentração de FDN do que a de 2009.

Naturalmente o que era de se esperar é que os animais mantivessem a produção de leite no mesmo nível, ou que até mesmo aumentassem. Porém, quando amostras dos dois materiais foram submetidas à análise de TTNFD, demonstrou-se uma grande diferença de digestibilidade do FDN entre as amostras, mostrando que a silagem do ano de 2009 era superior em qualidade. Exemplos como esse demonstram a importância de obter-se informações corretas sobre a digestibilidade das forragens.

Estudo de caso sobre troca de forragem

Estudo de caso de uma propriedade leiteira que observou queda na produção de leite após a troca de forragem. O quadro apresenta resultados de análises laboratoriais para as duas forragens.

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Figura 1. / Fonte: Adaptado de COMBS citado por DANÉS e LOPES, 2014.

Entretanto, saber a concentração de FDN e sua respectiva digestibilidade não é suficiente para formular dietas, pois esses indicadores não nos garante que a FDN presente na dieta terá suficiente tamanho de partícula para estimular a ruminação.

Diante da necessidade de estimar-se o tamanho de partículas fornecidas na dieta dos animais, a equipe da Pennsylvania State University, dos EUA, desenvolveu uma metodologia chamada de Separador de Partículas Penn State (SPPS) (1996). O SPPS consiste em um grupo de bandejas perfuradas com diâmetros diferentes.

A primeira bandeja (bandeja superior) tem aberturas com diâmetro de 19mm, a segunda tem aberturas de 8mm e a terceira tem aberturas de 1,18mm. A última bandeja é o fundo, não possui aberturas, sua função é recolher as partículas que conseguiram passar pela bandeja de 1,18mm. O SPPS é atualmente o método mais utilizado por nutricionistas em todo o mundo para determinar o tamanho de partícula das forragens.

Separador de partículas de Penn State

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Fonte: Suprivet

Zabelli et al., (2012), utilizaram o separador de partículas de Penn State para determinar teores adequados de fibra em detergente neutro fisicamente efetiva (FDNfe) em dietas de vacas de leite, levando em consideração o pH ruminal e o consumo de matéria seca. Concluíram que o pH ruminal começa a ser prejudicado quando o teor de FDN acima de 8mm é menor que 18% da MS.

Em contrapartida, valores acima de 14% de MS começam a afetar a consumo. Sendo assim, estabeleceu-se que o teor de FDN acima de 8mm deve estar em 14 e 18% na MS. Acredita-se que, com essa quantidade e tamanho de partícula é possível proporcionar mastigação e ruminação suficiente para promover salivação e consequentemente proporcionar adequada faixa de pH para o ambiente ruminal.

Efeitos do teor de FDN fisicamente efetivo no pH ruminal e consumo de matéria seca

Fonte: Adaptado de Zabelli et al., (2012).

Concluímos então, que o teor de fibra, assim como sua qualidade, tem efeito direto sobre a saúde e desempenho produtivo do animal, assim como o tamanho de partículas forrageiras utilizado na dieta.

Por isso, é necessária a utilização de tecnologias de análises bromatológicas para obtenção de informações precisas e utilização dessas informações na formulação de dietas que maximizem o desempenho de vacas leiteiras.

Referências bibliográficas:

DANÉS, M. A. C.; LOPES, F.. Como monitorar qualidade da fibra da forragem fornecida ao seu rebanho, 2014. Disponível em:
<https://www.milkpoint.pt/seccao-tecnica/forragens-pastagens/como-monitorizar-a-qualidade-da-fibra-da-forragem-fornecida-as-suas-vacas-90888n.aspx/>. Acesso em: 16 de set. 2017

NRC. (2001). Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 7th rev. edn. Natl. Acad. Press, Washington, DC

ZEBELI, Q. ET AL. Invited review: role of physically effective fiber and estimation ofdietary fiber adequacy in high-producing dairy cattle. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 95, n. 3, p. 1041-1056, 2012.

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