Plantas inativas podem aumentar produção de fertilizantes em 62%; Falta de competitividade nacional dificulta investimentos, dizem associações.
O país é considerado o Celeiro do Mundo, sendo líder em diversas áreas de produção agropecuária e, claro, com uma grande capacidade de expansão em sua produtividade, diferentemente de qualquer outro país. Porém, o que já era dito e previsto por muitos estudiosos e pesquisadores do setor, ficou ainda mais claro após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Apesar de ser um grande produtor de alimentos, somos também o maior dependente mundial em fertilizantes.
Atualmente, segundo o que foi divulgado pelo Poder 360, o Brasil tem 6 plantas de fertilizantes inacabadas ou hibernadas, que poderiam aumentar a capacidade nacional de produção em 62%, caso entrassem em operação. Os empreendimentos pertencem à Petrobras, Potássio do Brasil e Verde Agritech. Mas afinal, o que falta e quais são essas plantas? Confira abaixo!
Somada toda a capacidade nacional de produção das 23 plantas em operação hoje no país é de cerca de 15,3 milhões de toneladas por ano, segundo dados de 2020 do Sinprifert (Sindicato Nacional da Indústria de Matérias-Primas para Fertilizantes). Se estivessem em operação, as plantas que estão inativas, essas representariam incremento de 9,5 milhões de toneladas.
Atualmente, conforme tem sido anunciado e divulgado aqui no Portal, o agronegócio brasileiro se tornou dependendo das importações de fertilizantes, que atualmente representa 85% da demanda. Esse cenário se acentuou no últimos anos, quando a Petrobrás hibernou as suas fábricas e a “briga ambiental” complicou a continuidade de outras obras!
Das unidades citadas acima, temos a de Araucária/PR que segue hibernada e tem capacidade de quase 1.000 toneladas de fertilizantes nitrogenados. Já as de Linhares/ES e Uberaba/MG, estão inacabadas e possuem uma capacidade de 1.808 e 519 toneladas, respectivamente. Lembrando que essas duas foram abandonadas pela Petrobras, lá em 2015. Ainda fazem parte dessa lista a unidade de Três Lagoas – atualmente negociada com a Acron -, que tem capacidade de 1.400 toneladas.
Em 2020, a estatal hibernou a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná, que produzia amônia e ureia a partir de resíduo asfáltico. A Petrobras tenta vendê-la desde 2017, mas nunca chegou a fechar contrato.
Delas, só a da Verde Agritech tem previsão para operar. A companhia pretende iniciar a produção de potássio no 3º trimestre. Inicialmente, a fábrica em São Gotardo (MG) produziria 1,2 milhão de toneladas ao ano, mas no início de março o conselho de administração da Verde decidiu dobrar a capacidade diante dos efeitos da guerra na Ucrânia no mercado.
Já a planta projetada pela Potássio do Brasil em Autazes (AM) não sai do papel por causa de licenciamento ambiental.
Embora o empreendimento esteja sendo usado como justificativa para permitir a mineração em terras indígenas, a planta não está localizada dentro de reservas. Segundo o presidente da ABPM (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral), Luis Mauricio, a companhia depende de aval dos povos indígenas que circulam pela área de influência do empreendimento.
As unidades foram planejadas durante outra crise no mercado de fertilizantes, em 2008 e 2009. Na ocasião, o governo chegou a debater um plano nacional de fertilizantes, como o que foi lançado em março. “Esse plano de fertilizantes previa que as empresas estatais e privadas aumentassem sua produção nacional de fertilizantes”, diz o pesquisador da Empraba, José Carlos Polidoro. Entre as empresas estavam a Petrobras, Mosaic, Yara e a antiga Vale Fertilizantes. Segundo Polidoro, a proposta das produtoras de fertilizantes fosfatados era que entre 2011 e 2017 o Brasil reduzisse sua importação desse.
Segundo Polidoro, a proposta das produtoras de fertilizantes fosfatados era que entre 2011 e 2017 o Brasil reduzisse sua importação desse tipo de insumo a no máximo 30%. Hoje, a dependência nacional chega a 75%.
“A maioria não saiu do papel, ou a obra foi iniciada e parou naquela época.”
Retomar os projetos abandonados está também nos planos do governo federal. “Nós estamos fazendo ações 1 por 1. Trabalhando em cima de cada caso para desembaraçar, se é responsabilidade do governo, se é responsabilidade da iniciativa privada, se precisa de investimento. Nós estamos melhorando a infraestrutura necessária, desburocratizando a parte legal e vamos criar condições de financiamento para que os projetos já existentes saiam do papel ou sejam finalizados”, declara Polidoro, que participou da elaboração do Plano Nacional de Fertilizantes.
Para a coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Natália Fernandes, seria importante elevar a produção brasileira de fertilizantes para reduzir a dependência do produto vindo de outros países.
Ela diz, no entanto, que essa indústria tende a enfrentar condições pouco favoráveis no país. “É uma indústria bastante complexa, que precisa, por exemplo, da extração de minério ou de gás natural para produzir. O gás natural é muito caro no Brasil. Então, até que ponto é competitivo fazer fertilizantes no Brasil? Se tivesse competitividade, a indústria faria”, afirmou.
A coordenadora da CNA disse ainda que, mesmo que haja condições favoráveis, a indústria precisaria de tempo para estruturar as fábricas e dar início à produção nacional de fertilizantes. Por isso, diz que este é um problema que não deve se resolver neste ano.
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Importações
Diante desse cenário, ainda segundo o relatado pelo Poder 360, a importação brasileira de fertilizantes mais do que dobrou nos últimos 10 anos. Em 2021, o Brasil importou 41,5 milhões de toneladas, avaliadas em US$ 15,1 bilhões. O volume foi 119% maior do que o registrado em 2012, quando o Brasil importou 18,9 milhões de toneladas.
A maior parte dos fertilizantes, no entanto, veio da Rússia. O país forneceu 9,3 milhões de toneladas do produto para o Brasil em 2021 –3 milhões de toneladas a mais que o 2º maior fornecedor, a China. Por isso, a importação de fertilizantes caiu 8% no início de 2022 diante da guerra entre Rússia e Ucrânia. Já os preços dobraram diante do receio de que o confronto reduza a oferta global de fertilizantes.
Compre Rural com informações do Poder 360 e Governo Federal