Apesar de ainda não estar no mercado, produto criado pela Embrapa reduz custos em relação as técnicas convencionais e aumentam o intervalo de aplicação.
A nanotecnologia está se tornando uma realidade para a agricultura brasileira. E, assim como em outras áreas, traz consigo inovações antes inimagináveis.
Pesquisadores da Embrapa desenvolveram um novo fertilizante à base de hidrogel modificado, capaz de reunir em um único produto água e nutrientes e fazer a liberação de forma gradual em lavouras de pequeno e grande porte, como laranja, soja, milho anuais ou sazonais.
A nova tecnologia ainda depende da busca de investidores para chegar ao mercado, fato que pode acontecer em 2020.
O produto já existe e ganhou o nome de Fertgel, que pode ser aplicado no solo no formato em pó ou em gel, com a formulação específica exigida por cada cultura. Segundo a Embrapa Instrumentação (SP) seu uso racionaliza o emprego dos nutrientes, que são disponibilizados às plantas paulatinamente, ação obtida por meio de nanotecnologia.
“Desse modo, o produto reduz as perdas geradas por carreamento, que provocam impactos ambientais e financeiros. Além disso, a tecnologia é um modo de aumentar os intervalos de irrigação, uma vez que a água também é liberada aos poucos pelo produto, promovendo manejo hídrico mais eficiente e reduzindo custos”, diz o chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Instrumentação, José Manoel Marconcini.
Outra vantagem para o agricultor é que o custo de produção é cerca de 50% menor comparado aos produtos convencionais que, em média, custam em torno de R$ 45 o quilo, são exclusivos para a retenção hídrica e não fazem a liberação controlada dos nutrientes.
Empresa para o produto
O desenvolvimento realizado no Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), da Embrapa Instrumentação (SP), gerou uma spin off (empresa derivada), que ganhou o mesmo nome do produto, Fertgel e busca investidores para promover a entrada da tecnologia no mercado até o próximo ano.
“A formulação diferenciada do hidrogel abre uma nova fronteira no mercado de fertilizantes”, afirma Marconcini.
A atual fase da pesquisa de escalonamento da síntese dos materiais conta com apoio do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do projeto “Produção de hidrogéis para aplicações agrícolas”, coordenado pelo proprietário da empresa Fertgel, o químico Adriel Bortolin.
Nessa etapa, pretende-se avaliar a qualidade do material sintetizado em quantidades diferentes em um projeto-piloto em planta industrial. Bortolin disse que também quer identificar possíveis fornecedores, nacionais e internacionais, de matéria-prima para a produção dos hidrogéis nanocompósitos.
Produto retém mil vezes o seu peso em água
Atualmente o uso de hidrogel na agricultura está apenas relacionado ao fornecimento de água em períodos de seca, com a finalidade de aumentar o intervalo de irrigação. Por isso, espera-se que o hidrogel tenha um alto grau de capacidade de absorver água (intumescer), afirma a Embrapa.
Em ensaios preliminares, o hidrogel elaborado com a técnica alternativa de produção demonstrou absorver até mil vezes o seu peso em água. Segundo Bortolin, os hidrogéis convencionais são capazes de intumescer entre 200 e 400 vezes o próprio peso em água.
“Basicamente, são formulações copoliméricas que fazem com que o hidrogel perca a água armazenada para o solo de maneira bastante rápida e apresente uma baixa interação com nutrientes”, explica.
Versatilidade para culturas de diferentes portes
De acordo com o pesquisador, com a nova metodologia de tratamento de hidrólise foi possível obter duas granulometrias diferentes de hidrogéis. “Esses materiais podem ser aplicados em setores agrícolas distintos: produção de mudas, aditivo de substratos, hortaliças, bem como em larga escala para a produção de citros, eucalipto e cana-de-açúcar, por exemplo”, revela.
Após definir as etapas de síntese, o projeto pretende calcular o custo de produção do material final, considerando os processos de secagem e moagem, além dos custos da matéria-prima importada e da comercialização no Brasil. Esses cálculos vão apoiar os estudos de viabilidade do produto.
As formulações que se destacarem nessas etapas de caracterização serão testadas em casas de vegetação. A proposta é desenvolver hidrogéis incorporados a nutrientes específicos para cada tipo de cultura-teste. Os ensaios em campo vão compreender cadeias produtivas importantes para o País, como milho, café, citros e cana-de-açúcar.
“Tivemos que buscar um caminho muito diferente para tornar a tecnologia disponível, que envolvia encontrar uma empresa do ramo químico, mas muitas sem experiência na área agro, para iniciar o processo de produção”, conta o pesquisador da Embrapa Caue Ribeiro.
- Alerta: Semana com típicos temporais de primavera-verão; Veja onde
- Boi gordo atinge R$ 365/@ e cenário deve trazer nova disparada nos preços
- Mitsubishi Triton 2026: nova geração mira o topo e quer desbancar concorrentes; Fotos
- Setor agropecuário no Brasil sai ganhando após o G20
- Pecuária não é a vilã do aquecimento global e pode até ser uma aliada
“Nossa expectativa hoje é que a nova empresa possa se consolidar no mercado agro, com a possibilidade de explorar no futuro outras aplicações do hidrogel nanocomposito.”
Mas Bortolin alerta para o fato de o hidrogel carregado com nutriente não substituir totalmente a fertilização convencional. “Há indícios de que o uso de hidrogel carregado, concomitantemente com a fertilização, otimiza a ação dos macro e micronutrientes, o que pode resultar em lucro para o produtor”, esclarece.
Fonte: Canal Rural