A pandemia trouxe um impacto gigante nas feiras agropecuárias que movimentam R$ 17 bi, elas foram canceladas e algumas tentam migrar para internet, confira!
É no primeiro semestre, logo após o término da colheita da soja na maioria das regiões, que o produtor rural mais visita feiras agropecuárias pelo país. Mas essa rotina mudou em 2020.
O produtor Gilberto Eberhardt planta soja e milho há 30 anos em Lucas do Rio Verde (MT), a 330 km de Cuiabá. Há pelo menos cinco anos, sempre em março, ele visitava a Show Safra BR 163.
“A feira começou, mas, no terceiro dia, teve que ser cancelada”, diz o produtor. “Entendemos que a interrupção ajudou a impedir que a Covid-19 avançasse aqui no nosso município”. A Show Safra de Mato Grosso faturou R$ 1,6 bilhão em 2019, negócios que não aconteceram este ano.
Um levantamento feito pela reportagem reuniu 17 feiras de maior porte ou tradição que deveriam ter sido realizadas entre março e maio de 2020 -todas foram canceladas em função da pandemia. Esses eventos faturaram um total de R$ 16,9 bilhões em 2019.
Alguns organizadores partiram para o plano B: versões virtuais que permitem interação. Uma das primeiras a adotar a estratégia foi a Agrobrasília. A feira é realizada no Distrito Federal há 13 anos e atrai agricultores de estados como Goiás, Bahia e Minas Gerais.
“A pedido dos próprios produtores, resolvemos criar a edição digital, já que esta é a melhor época do ano para que o agricultor compre os insumos”, explica Ronaldo Triacca, presidente da Agrobrasília.
No modelo presencial, a feira havia recebido 120 mil visitantes em 2019. Já na edição digital realizada entre os dias 6 a 10 de julho, a plataforma teve 140 expositores e recebeu 122 mil acessos. Em 2019, foram 480 expositores presenciais e receita de R$ 1,2 bilhão.
“O objetivo principal foi alcançado, que era manter o vínculo dos produtores com as tecnologias”, diz Triacca. Ele admite que houve prejuízo de R$ 1 milhão em função dos gastos já realizados. O valor foi coberto pela Coopa-DF (Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal).
A Coopercitrus, maior cooperativa do estado de São Paulo, tornou digital a feira que realiza há 23 anos. A mudança exigiu um investimento de R$ 2 milhões. Haverá até testes online de tratores e a possibilidade de interagir em tempo real com os vendedores.
O evento teve início segunda (27) e termina nesta sexta (31), com 138 expositores. Os organizadores esperam um faturamento de R$ 1 bilhão, contra R$ 840 milhões contabilizados na feira presencial em 2019. O público no ano passado chegou a 12 mil pessoas e agora a expectativa é alcançar 200 mil acessos.
A Expogenética, promovida pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) será realizada de 15 a 23 de agosto também por meio de plataforma digital. Com 40 criadores já inscritos e praticamente todos os pavilhões ocupados, haverá transmissão ao vivo pelo Canal do Boi.
“Nossa expectativa é aumentar em 20% o faturamento em relação a Expogenética do ano passado. Se a feira fosse presencial, este crescimento seria de apenas 10%”, diz o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Jr.
O Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag em parceria com a B3, historicamente realizado na capital paulista, também se tornou digital e ocorrerá no dia 3 de agosto. Segundo os organizadores, já foram registradas mais de 3 mil inscrições, o triplo da edição presencial de 2019.
Agrishow Uma das maiores feiras impactadas pela pandemia do coronavírus foi a Agrishow, realizada há 26 anos em Ribeirão Preto (interior de São Paulo). A edição 2020 deveria ter ocorrido em abril, mas foi remarcada para 2021.
O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, diz que uma edição digital foi cogitada, mas a hipótese acabou sendo descartada. “A data em que a feira é realizada coincide com o ciclo de final de uma safra e planejamento da próxima, não faria sentido realizar no segundo semestre, as decisões de investimento do produtor já estariam tomadas.”
Os organizadores não revelam qual foi o prejuízo pela não realização da Agrishow. O fato é que o faturamento de R$ 2,9 bilhões do ano passado não aconteceu. Houve negociações entre organizadores e expositores para que cotas de patrocínios já pagas fossem apenas postergadas para o ano que vem.
Os expositores de maquinário também precisaram mudar a estratégia. É o caso da Case IH, que apresentaria colheitadeiras e um novo pulverizador na Agrishow 2020.
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“No mês de maio, para aproveitar a época mais favorável ao produtor, fizemos esses lançamentos pelas principais redes sociais”, afirma Eduardo Penha, diretor de Marketing Comercial da Case IH.
Para o dia 7 de agosto, a fabricante está prevendo uma live para atrair clientes e mostrar os lançamentos. “Terá até a dupla Bruno & Marrone como atração”, diz Penha.
O diretor de Assuntos Corporativos da John Deere, Alfredo Miguel Neto, lembra que os negócios estão acontecendo. “Até mesmo o pequeno produtor está retomando as compras, em julho passa a contar com os recursos do Plano Safra, e ele já conhece o benefício de investir em tecnologia”, explica.
Fonte: Valor Econômico.