Descubra a fazenda de Jean e David Gottenborg, localizada no Colorado, um empreendimento pecuário verticalizado que coexiste harmoniosamente com alces, veados, antílopes e bisões.
Esforços para proteger a biodiversidade podem ser conciliados com a urgência de alimentar uma população em crescimento e, sobretudo, com o aumento global da demanda por proteínas. São necessárias grandes áreas para produzir comida e, historicamente, a expansão da agricultura reduziu os ecossistemas naturais, muitas vezes levando à perda na fauna e flora. A ampliação do território agrícola foi bastante mitigada pela “intensificação racional” da produção nas áreas já existentes, mas é importante encontrar novas formas de promover a sustentabilidade nas propriedades rurais.
Outro aspecto importante para os negócios do grupo é a situação legal das fazendas parceiras. “Hoje a gente busca gado de produtores onde é feita uma homologação. Se levanta a documentação, que é o CAR e a APF, que são o Cadastro Ambiental Rural e a Autorização Provisória de Funcionamento, (…) encaminha para uma equipe lá na matriz que faz a homologação dessa propriedade e aí, voltando da matriz a homologação, aí a gente tenta fidelizar esses produtores para ser parceiros nossos ao longo da atividade”, conclui Marcelo.
Nas lavouras convencionais, isso pode envolver faixas de proteção florestal, culturas de cobertura ou reservas para o habitat de polinizadores. Já na pecuária, e particularmente para animais ruminantes como os bovinos, é possível produzir alimentos nutritivos em sistemas de pastoreio que ainda favorecem o meio ambiente. Os produtores estão cada vez mais antenados nesse movimento. Nas Montanhas Rochosas, a sudoeste de Denver, nos EUA, há um exemplo interessante.
O rancho Eagle Rock é uma operação familiar de gado e feno no Colorado, em uma região de pastagem elevada, mas relativamente plana, conhecida como South Park. Essa área é cercada por belas montanhas com picos de até 4,2 mil metros. A propriedade é administrada pelo casal Jean e David Gottenborg, com sua filha Erin Michalski. A família não tinha formação nenhuma em pecuária, mas vendeu outro negócio que possuía e comprou a fazenda em 2012.
São duas áreas totalizando 1,1 mil hectares que ficam a 2,7 mil metros acima do nível do mar, dentro de ecorregiões classificadas como “pastagens montanhosas-subalpinas das Montanhas Rochosas do Sul”, podendo abrigar diversos habitats que sustentam uma ampla variedade de vida vegetal e animal, incluindo espécies raras e em perigo. Além dos bovinos, os animais de pastoreio incluem ainda alces, veados e antílopes e bisões.
O objetivo a longo prazo do Gottenborg é cuidar do rancho de uma forma que seja compatível com seu belo ambiente natural. Um dos manejos dos produtores é para evitar a saturação das pastagens movendo estrategicamente o gado de um pasto para outro. Eles aplicam uma técnica chamada “Esgrima de Lay-down” para abrir a terra e acomodar o padrão de migração natural sazonal das populações locais de alces.
Os Gottenborg estão trabalhando num “acordo de ocupação dos alces” com o Centro de Pesquisa de Propriedade e Meio Ambiente, para permitir que os animais circulem e se alimentem em suas propriedades. Eles também construíram “escadas” para peixes em um dos riachos que atravessa a propriedade para facilitar a criação e alimentação da população aquática, e plantaram salgueiros nas margens para controlar a erosão. Para a produção de feno destinado ao gado deixam de 12 a 15 centímetros de “restolho”, o que ajuda a capturar mais neve no inverno e manter um maior nível de umidade no solo.
No projeto de pecuária verticalizada, além da loja online, o casal tem uma loja de varejo na cidade de Fairplay, administrada por sua filha Erin, onde vendem a carne bovina com uma etiqueta de “criados a pasto e terminados com grãos”.
Essa é uma descrição mais significativa do que “alimentado com capim”, além de ser mais eficiente e estar associada a um bom sabor e perfil desejável de gordura. Os clientes são fiéis, incluindo chefs renomados que apostam na qualidade única de sua carne bovina. Em 2023, eles receberam o prêmio de “produtor comercial do ano” pela Associação de Pecuaristas do Colorado.
Para a comercialização direta de carne bovina e para as visitas que a fazenda oferece, os Gottenborg foram em busca da validação e da documentação dos benefícios ambientais de suas práticas de manejo. Para obter uma avaliação especializada, eles financiaram um inventário básico da biodiversidade da propriedade pelo CNHP (Programa do Patrimônio Natural do Colorado, na sigla em inglês). A CNHP é uma organização de 45 anos com uma equipe diversificada de cientistas, com sede na Colorado State University. Sua missão é “fornecer informações e conhecimentos para promover a conservação da riqueza de recursos biológicos do Colorado”. O estudo em Eagle Rock teve um foco particular em espécies e comunidades naturais que são raras ou estão em risco de extinção.
Os resultados da pesquisa sobre biodiversidade
O levantamento do CHNP produziu informações encorajadoras que dão apoio à conclusão de que “as atuais práticas de pastoreio mostram uma paisagem em estado natural, sustentando uma abundância e diversidade de vida selvagem e vegetação significativa”.
A fazenda não apenas alimentava o gado, mas também abrigava alces, antílopes pronghorn, carneiros selvagens e cervos-mula. Outros animais incluíam o caracol de bexiga aguda, a garça-real-azul, o papa-moscas-oliva e a salamandra-tigre ocidental. No resumo da pesquisa está que “o valor de conservação da vegetação natural e do habitat da vida selvagem preservados por essa fazenda não pode ser subestimado”.
Embora esse modelo de produção se encontre em um contexto único e limitado, é notável que a pecuária e a biodiversidade podem realmente coexistir, mesmo no que parece ser um ambiente natural delicado. O exemplo que o rancho Eagle Rock representa é a ideia de que um pastoreio dos bovinos adequadamente gerido apresenta muitas semelhanças com herbívoros selvagens, como os alces, permitindo que a produção de carne se alie à proteção da biodiversidade e das espécies vulneráveis.
Fonte: Forbes
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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