Especialista em pecuária de corte faz visita em confinamento na Califórnia e se depara com algo inusitado, 150.000 bezerros holandeses confinados; entenda
O Médico Veterinário pela USP, pecuarista e executivo do Notícias do Front, Rodrigo Albuquerque, visitou algumas propriedades rurais e confinamentos no Estado da Califórnia, lado Oeste dos Estados Unidos e ficou impressionado com uma fazenda de 150.000 bezerros holandeses confinados. O especialista participou do SilvaFeed Tour Califórnia 2024.
A imersão na pecuária da Califórnia trouxe vários ensinamentos compartilhados pelo veterinário nas suas redes sociais. “Quem não tem cão, caça com gato! Traduzindo: quem não tem a (fantástica) cria do Brasil, faz bezerro de corte em cima de vaca de leite! Pensa nuns “gabiru com grife”, regados a muita tecnologia, gestão e que para surpresa de muitos (e nenhuma surpresa de quem entende de carne verdadeiramente), entrega proteína de primeiríssima qualidade, em grande quantidade” – enalteceu ele.
Segundo o especialista essa é a alma do Beef on Dairy, utilização de sêmen de gado de corte em vacas leiteiras, que começou em meados dos anos 2010 e se tornou uma realidade nos Estados Unidos. Essa é uma estratégia utilizada por produtores leiteiros, que já faziam aproveitamento dos machos.
“Um confinamento com capacidade estática de 150.000 machos holandeses em recria/terminação (no dia estava com 145.000). É bonito de ver o “mar” malhadinho”. Segundo Rodrigo eles recebem esses animais com quatro meses de idade (150kg PV) e os arraçoam por 13 meses, quando são abatidos em frigorífico com marca de carne própria (abatem 2.500 bois por semana).
“O abate é realizado portanto com idade de 17 meses e ao redor de 610kg de peso vivo (estimadas 26@ de carcaça). O rebanho de leite é fundamental para a produção de carne americana. Cerca de 20% do total produzido vem de genética de leite. Os EUA não tem a força da cria do Brasil e procuram alternativas. São extremamente eficientes nisso!” – ressaltou o veterinário.
Ainda segundo Albuquerque engana-se quem pensa que o destino dessa carne é o ground beef (carne moída). “Comemos um churrasco com a carne da fazenda. Afirmo: a carne dos machos leiteiros holandeses é espetacular, cerca de 1/3 ou um pouco mais, recebe classificação PRIME. ” Diferente do Brasil, onde muitos acreditam que bezerro leiteiro não fecha a conta, lá fecha.
Confira o vídeo:
Muitos opinaram na publicação do médico veterinário, selecionamos alguns que ficaram surpresos com o confinamento dos “gabirus”, outros fizeram algumas pontuações.
O Carlos Eduardo Carvalho ficou impressionado com o peso à desmama com 4 meses, além do tempo, bem como o tempo de abate e o ganho médio diário (GMD) de carcaça exatamente por serem leiteiros. Rodrigo respondeu ao Carlos. “A carne, o GMD do gado holandês é muito bom. Vale lembrar que a raça é selecionada há muito tempo comendo grãos. Veja a alegria dos novilhos, ao passarmos pelos lotes. Eles esbanjam saúde, vitalidade e docilidade. Carne de primeiríssima qualidade” – disse Rodrigo.
“Já vi diversos especialistas em qualidade de carne afirmarem sobre a qualidade da carne de genética de animais leiteiros como holandeses e Jersey em termos de marmoreio e maciez. Basta ser eficiente na operação e encontrar o melhor para a sua realidade, conhecendo a fundo seu custo de produção que é bem possível da conta fechar” – disse Caio Feitosa.
“Baita informação, não imaginava isso, pensava que os americanos só consumiam carnes com cruzamento 1/2 Angus” – disse surpreso outro usuário, outro ressaltou as vantagens dos americanos. “Este confinamento mostra as vantagens dos EUA em relação a nossa, pois mesmo eles tendo um rebanho muito menor que o nosso, conseguem produzir muito mais carne, temos 237 milhões de cabeça enquanto eles possuem pouco mais de 80 milhões, possuem uma genética extremamente precoce, uma dieta extremamente eficiente e barata e tecnologia de ponta para operar. O Nelore é a base do nosso rebanho e da carne, por nosso clima não suportar raças europeias perdemos muito em precocidade e tempo que leva até terminar.”
Em artigo publicado pelo site Canadian Cattlemen, há três coisas que você deve ter em mente ao implantar bovinos holandeses e cruzados: peso final da carcaça, eficiência alimentar e comportamento de sodomia.
O maior desafio na alimentação do gado Holandês é conseguir um produto que atenda às expectativas do consumidor – em outras palavras, produzir um animal acabado que tenha um rendimento semelhante ao de um animal puro de corte. Os holandeses e, até certo ponto, os cruzamentos, têm uma estrutura muito maior do que o gado de corte. Embora possamos levar as raças de corte britânicas e continentais ao seu peso adulto máximo com promotores de crescimento, não o fazemos com os Holandeses. Por um lado, existem as limitações do matadouro quanto ao tamanho da carcaça.
Por outro lado, existe um limite máximo para o tamanho dos cortes de carne que os consumidores desejam. Mas para o alimentador de gado, a razão mais importante é como a eficiência alimentar diminui drasticamente à medida que o animal atinge um tamanho adulto. Portanto, o gado Holandês não pode ter o mesmo período de engorda no final da terminação que o gado de corte.
Isto representa um problema com o uso de implantes em gado Holandês. Embora a eficiência alimentar proporcionada pelos implantes promotores de crescimento seja desesperadamente necessária para terminar economicamente o gado Holandês, seu uso promove inerentemente a deposição de tecido magro em vez da deposição de gordura, o que pode prejudicar ainda mais as qualidades da carcaça em um animal que já tem um período de engorda limitado. Portanto, desenvolver um protocolo de implante que maximize a eficiência alimentar sem sacrificar o grau de qualidade ou produzir um animal de estrutura pesada é crucial na terminação de gado Holandês.
Uma das maiores questões que precisam ser respondidas para o gado leiteiro cruzado é esta: o animal cruzado leiteiro tem um desempenho mais parecido com um animal leiteiro ou um animal de corte? A resposta dependerá de qual característica específica você está observando, bem como da genética do touro de corte utilizado. Você pode esperar que o novilho cruzado leiteiro, sendo 50% leiteiro e 50% bovino, se comporte e tenha um desempenho intermediário entre um novilho Holandês e um novilho de corte. A experiência recente nos mostrou que não é esse o caso.
Em vez disso, o gado leiteiro terá um desempenho mais próximo do gado de corte. No entanto, eles parecem responder de maneira diferente aos implantes. Algumas evidências, não muito confiáveis, mostram que dentro de um lote, alguns bovinos responderão aos implantes como se fossem dois terços de bovinos de corte, enquanto outros responderão como se fossem apenas um terço de bovinos.
Beef on Dairy
Segundo o zootenicsta José Victor Isola, ao ZootecniAgora, em determinadas regiões se estima que até 40% da carne bovina seja proveniente de ventres vacas leiteiras. Os bezerros machos são um subproduto de produção leiteira que deve ser considerado. Fora do Brasil a porcentagem de inseminações artificiais (IA) com sêmen de raças de corte vem crescendo bastante, em alguns países europeus, chegando a contabilizar quase 50% das IA sobre o rebanho leiteiro.
Na Europa “Beef on Dairy” vem tomando proporções significativas. Em países como Alemanha, Holanda, França e Itália, cerca de 20% de todas as IA em vacas leiteiras são realizadas com sêmen de touros de corte. A perspectiva é que esses números aumentem para 30% num futuro próximo. Na Suíça, as IA “Beef on Dairy” já se aproximam de 50% de todas as IA. Na América do Norte índices semelhantes são encontrados (20-30%).
Um dos motivos para este aumento na Europa são as limitações de número de animais por propriedade, seja por falta de espaço ou por regulamentações do país, que faz com que os produtores optem por manterem o máximo possível de vacas em produção e o mínimo de animais jovens.
Além disto, os bezerros filhos de touros de corte, sejam machos ou fêmeas, possuem grande facilidade de venda e velocidade de retorno econômico, sendo que a demanda por bezerros de “corte” é constante e o valor de bezerros filhos de touros de corte chega a ser três vezes maior que o dos machos de raças leiteiras.
O desenvolvimento da utilização de sêmen sexado também tem contribuído para o “Beef on Dairy”. Atualmente a técnica vem apresentando melhores resultados e se tornando mais popular. Muitos produtores, portanto, optam por servirem suas melhores matrizes com sêmen sexado de touros de sua raça, e acasalam as fêmeas geneticamente inferiores e as vacas repetidoras de cio com touros de corte.
Além disto, há indícios de que as taxas de concepção podem ser aumentadas com a utilização de sêmen de corte em vacas leiteiras, uma vez que a heterose proveniente do pareamento de raças distintas pode favorecer o desenvolvimento embrionário e a fixação dos embriões.
No Brasil, grande parte do leite (acredita-se que cerca de 80%) é produzido por vacas da raça girolando. Bezerros desta raça já possuem naturalmente uma musculosidade maior, uma vez que a raça Gir é considerada uma raça de dupla aptidão, o que faz com estes não sejam tão desvalorizados quando comparado com bezerros de corte, especialmente zebuínos.
Bezerros machos provenientes de vacas Holandesas e Jersey, no entanto, são extremamente desvalorizados. A utilização do Beef on Dairy vem como uma solução para este problema e é por isso que, aliado à maior utilização de IA e de sêmen sexado, o “Beef on Dairy” vem se popularizando no Brasil também, especialmente em estados que trabalham com raças leiterias europeias puras. Por aqui, a raça líder é o Angus que tem tomado conta das IA até mesmo nos rebanhos de corte.
Com informações de Rodrigo Albuquerque, Canadian Cattlemen e do zootecnista José Victor Isola do ZootecniAgora
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