O canibalismo não possui etiologia definida e prevenir sua ocorrência é a melhor estratégia. Sua prevenção é realizada garantindo as condições ambientais…
Um dos principais problemas de comportamento animal na suinocultura moderna é o canibalismo de cauda. Esse distúrbio prejudica o bem-estar dos animais, pode provocar sérios problemas de saúde no rebanho, além de proporcionar importantes perdas econômicas para o produtor, decorrente da redução do desempenho e aumento da mortalidade.
Apesar do canibalismo de cauda ser reconhecido como um problema na suinocultura, sua ocorrência é pouco compreendida. Várias hipóteses foram criadas para explicar esse comportamento, entretanto apenas duas conclusões foram obtidas através dos trabalhos científicos, 1º – o canibalismo de cauda é um problema esporádico e 2º é de origem multifatorial. Para entender mais essas conclusões, basta observarmos que a ocorrência do canibalismo nas granjas se concentra apenas em alguns lotes de animais ou até mesmo em algumas baias, nunca observamos sua ocorrência em toda a granja.
Com isso, o objetivo dessa discussão é apresentar os principais fatores associados ao canibalismo de cauda na suinocultura para determinar as melhores estratégias para prevenir e controlar sua ocorrência.
Fatores associados ao canibalismo
As pesquisas realizadas apontam algumas causas como mais predisponentes a ocorrência do canibalismo nas granjas, sendo que os principais fatores associados ao canibalismo estão descritos abaixo na Tabela 1.
Fatores de risco | Características |
Sexo | Machos inteiros e fêmeas apresentam mais canibalismo que machos castrados. Esse comportamento está relacionado ao interesse sexual e curiosidade pelos órgãos genitais. |
Lotação das baias | Alta densidade de animais, reduzindo sua área disponível em m2, aumenta a incidência de canibalismo. |
Idade e peso | Probabilidade de incidência de canibalismo aumenta com a idade dos animais. Leitões desmamados mais leves tendem apresentar maior incidência de canibalismo. |
Piso | Piso compacto em associação com palha ou maravalha tende a diminuir o canibalismo. |
Qualidade dos ingredientes da dieta | Qualidade dos ingredientes da ração, e restrição alimentar pode aumentar incidência de canibalismo. |
Qualidade da mistura da dieta | Garantir a qualidade da mistura da dieta (Coeficiente de variação), garante que os nutrientes estejam disponíveis de acordo com a necessidade dos animais. Animais com restrição nutricional tendem apresentar maior incidência de canibalismo. |
Saúde do rebanho | Problemas respiratórios aumentam em 1,6 vezes a chance de ocorrer canibalismo. |
Qualidade do ar | Altos níveis de amônia (>10ppm) aumentam a incidência de canibalismo. |
Disbiose intestinal | Redução da população de Lactobacillus no trato intestinal e aumento nos níveis de cortisol. |
Perdas econômicas
Um trabalho foi conduzido através da observação de desempenho de 3190 suínos. Foram avaliados o ganho de peso médio diário (GPD), conversão alimentar (CA) e a % de carne de animais acometidos ou não pelo canibalismo de cauda.
Ao todo, 11,4% dos suínos foram identificados como vítimas do canibalismo de cauda (364 animais). As não vítimas tiveram um GPD maior do que as vítimas (Diferença de 33,4 g/d nas médias observadas, mas diferença de 10,8 g/d quando ajustada com índice genético). Entretanto, não foram observadas diferenças significativas entre CA das vítimas e não-vítimas e na % de carne.
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Na Tabela 2 vamos realizar uma simulação comparando o peso final dos animais com a diferença de GPD apresentada no trabalho para entender o impacto econômico em uma granja de 1000 matrizes.
Vítimas de canibalismo | Não vítimas de canibalismo | |
Peso início do experimento | 34 Kg | 34 Kg |
GPD | 948 gramas | 937 gramas |
Peso final do experimento | 124,06 Kg | 123,01 Kg |
Como podemos observar, a diferença de peso nos animais acometidos pelo canibalismo foi de 1,05 Kg até a sua venda. Isso equivale a redução de 3.192 Kg de carne em uma granja de 1000 matrizes por ano, se considerarmos 11,4% de animais acometidos.
Se o canibalismo gerar uma alta mortalidade dos animais, pode proporcionar um maior impacto econômico no sistema produtivo. Além disso, o aumento no gasto de medicamentos, condenações de carcaça no frigorifico podem gerar aumento nas perdas financeiras.
Estratégia de controle
A melhor estratégia a ser adotada na granja é a prevenção do início do canibalismo, observando os pontos associados a sua ocorrência na granja. Com isso, todos os fatores associados ao canibalismo de cauda devem ser observados e monitorados na granja. A utilização de aditivos que proporcionem a melhoria na saúde intestinal dos animais pode auxiliar na prevenção do canibalismo de cauda, melhorando a utilização dos nutrientes da dieta, modulando a população da microbiota intestinal e consequentemente melhorando o bem-estar dos animais. Alguns exemplos de aditivos são ácidos graxos de cadeia média, ácidos orgânicos (ácido butírico, fumárico e outros), óleos essenciais e probióticos.
Entretanto caso ocorra o canibalismo, alguns passos devem ser seguidos para evitar o aumento no número de casos, são eles:
- Separação dos animais acometidos pelo canibalismo. O sangue na ferida proporciona interesse pelos animais, fazendo com que a ocorrência aumente. Essa separação facilita a medicação do animal e o uso de pomadas cicatrizantes na ferida.
- Separação dos animais que estão realizando o canibalismo.
- Oferecer brinquedos nas baias como correntes, pedaços de madeira, cordas, pedras de sal ou cocho acessório de ração. A presença destes materiais faz com que os animais deixem de prestar atenção nos seus companheiros de baia.
- Melhorar a ventilação do galpão.
- Aumentar a área por animal nas baias onde estão ocorrendo o canibalismo.
- Colocar maravalha ou palha na baia caso essa seja compacta.
- Utilização de aditivos que proporcionem melhoria da saúde intestinal dos animais.
Prevenção
O canibalismo não possui etiologia definida e prevenir sua ocorrência é a melhor estratégia. Sua prevenção é realizada garantindo as condições ambientais, manejo adequado, utilização de aditivos com foco na saúde intestinal, qualidade de nutrientes e de mistura das dietas, assegurando o bem-estar necessário para o crescimento dos suínos, o que vai repercutir, além da prevenção do canibalismo, em um melhor desempenho dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: hebertsilveira@naturalbrfeed.com.br.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.
Fonte: Por Hebert Silveira, gerente técnico da Natural BR Feed
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