Touro bate mais de 500 mil doses de sêmen vendidas

“Nós estamos diante do touro acima de meio milhão de doses comercializadas”; Faraó FIV FVC entra para o hall da fama de poucos animais que conquistaram feito

O setor da inseminação artificial caminhou no ritmo do mercado em 2023. Os preços achatados para o bezerro e boi gordo reduziram o apetite do investidor de genética. Dados até o terceiro trimestre, divulgados pelo Index Asbia/Cepea, mostram um recuo de 5% nas vendas ao cliente final, total de 16,5 milhões de doses comercializadas, ante 17,5 milhões vendidas no mesmo período de 2022. A queda foi puxada pelo gado de corte (-9%), enquanto o leite registrou alta de 6%. Houve queda de 15% na exportação de material genético e recuo de 9% no segmento de prestação de serviço.

O ano de 2023 foi atípico, o crescimento das vendas de sêmen cresceram dois dígitos por ano nos últimos cinco anos. Parte desse sucesso é resultado do crescendo uso da IATF.A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é uma biotécnica avançada que vem permitindo aos produtores obter mais eficiência reprodutiva de bovinos e representa um importante avanço para os rebanhos, sendo considerada um dos melhores sistemas de melhoramento genético.

“Hoje, a grande maioria dos animais inseminados no Brasil são por IATF, especialmente no caso do gado de corte, que atinge um índice de quase 100%”, comenta Claudio Menezes, médico veterinário e instrutor do SENAR-SP desde 2014.

Entre as vantagens dessa estratégia de manejo está a possibilidade de realizar diferentes cruzamentos; a melhora da padronização do rebanho e das carcaças; e o controle sanitário mais eficiente. Tais ganhos decorrem do controle reprodutivo que a IATF possibilita, já que permite a indução e a sincronização da ovulação das fêmeas bovinas através de protocolos hormonais.

Nos últimos anos o crescimento do mercado fez crescer o número de touros que multiplicaram sua genética através da venda de doses de sêmen. Em um outro grupo seleto está os animais que já venderam mais de 500 mil doses, isso são para poucos, como é o caso de Backup e Sherlock da Matinha.

Quem atingiu recentemente a marca de 500 mil doses de sêmen comercializados foi Faraó FIV FVC, de registro FVC 8596, o reprodutor é do criatório Fazenda Vera Cruz e de propriedade do condomínio: Fazenda Vera Cruz, Felipe Ribeiro Tibiriça e Alta Beef Program. Em sua genealogia tem como pai e avô REM USP e Quark COL respectivamente.

Para celebrar o feito, Jairo Machado Carneiro Filho titular da Nelore Vera Cruz foi visitar o animal na central Alta Genetics, onde encontra-se hospedado e coletando sêmen. “Turma esse touro aqui é o Faraó FVC, ele já vendeu mais de R$ 15 milhões em doses de sêmen, cerca de 500 mil palhetas de sêmen. É o touro vivo que mais vendeu sêmen em coleta no país.” – diz o criador.

Jairo pede que  José Renato da Silva, gerente de atendimento, fale um pouco sobre o animal. “O Faraó foi identificado puro de origem (P.O.) CEIP pelo Qualitas [ Programa de Melhoramento Genético], principalmente para eficiência alimentar, e vem sendo utilizado nesses últimos nove anos. Temos a grata satisfação em ter o Faraó aqui em nosso portfólio de touros.” – enfatiza o gerente.

José salienta que a recompra de sêmen pelos criadores é cada vez maior, pois tudo que produziu nos últimos anos comercializou. “Não é só produzir sêmen para reprodução, ele produziu três filhos e um neto que se tornaram touros de central, para você ver o que é sucessão genética.” – finaliza o gerente.

Nós estamos diante do touro acima de meio milhão de doses comercializadas

Faraó FIV FVC

Destaque em fertilidade e produção em diversos criatórios, Faraó possui genealogia muito consistente. Segundo técnicos da raça é indicado para todos os sistemas de produção, transmite precocidade sexual, ganho de peso e rendimento de carcaça, além de produzir matrizes produtivas e longevas.

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Dia produtivo e que venha o primeiro Leilão Baby Nelore Vera Cruz e ACN Agropecuária 2
Foto: ACN Agropecuária

Fazenda Vera Cruz

Situada em Barra do Garças (MT), uma região conhecida como a capital do novilho precoce, essa propriedade se destaca como um modelo de pecuária sustentável, produtiva e eficiente. A intenção de dar continuidade ao legado no agronegócio iniciado nos anos 70 por seu pai, Jairo Machado Carneiro, os irmãos Eduardo Zago Machado e Jairo Machado Carneiro Filho escolheram a raça Nelore como ponto de partida para estabelecer um sistema moderno e rigoroso de seleção bovina na Fazenda Vera Cruz. Conheça a história da fazenda que criou um Nelore acelerador de genética para o lucro.

iatf inseminando vaca no brete curral
Protocolos de IATF / Foto: Alvaro Fortunato

Expansão da IATF no Brasil

Segundo o instrutor do SENAR-SP, ainda existe um número reduzido de pecuaristas que trabalham com gado de leite e optam pela inseminação através de cios naturais, mas os números mostram que a IATF está em crescimento. De acordo com dados divulgados pelo Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) houve expansão de 29,7% do mercado de IATF na comparação entre 2019 e 2020, ano em que foram comercializados 21.255.375 protocolos, comparados aos 16.382.488 em 2019. Esses dados são indicativos de que 89,8% das inseminações no Brasil em 2020 foram realizadas por IATF, demonstrando a consolidação dessa tecnologia no mercado de inseminação artificial.

Ainda de acordo com os dados da FMVZ/USP, no que diz respeito aos profissionais especializados – os maiores responsáveis pela eficiência desse sistema de manejo – existem cerca de 6 mil especialistas que prestam serviços no controle e na análise dos resultados dos programas de IATF, que atuaram para que as mais de 21 milhões de sincronizações nas fazendas de leite e de corte no Brasil fossem realizada em 2020.

A inseminação artificial tradicional, por cio natural, surgiu na década de 1970. Já a IATF tem seu marco inicial na década de 1990. “No início era ainda muito experimental, quem fazia eram os núcleos de pesquisa das faculdades ou veterinários muito especializados em reprodução. Não era uma tecnologia tão divulgada assim. A técnica explodiu para o mercado de uns dez anos para cá. Desde 2009, pelo menos, vários laboratórios começaram a produzir hormônios. Antes você não conseguia comprar em qualquer lugar, mas hoje a maioria das lojas agropecuárias têm duas ou três marcas de hormônio à venda”.

A gestação das vacas é diagnosticada num período aproximado de 30 dias após a realização da IATF. Caso alguma delas não esteja prenha – ou “vazia”, como se referem os pecuaristas – já é possível refazer nesses animais o chamado tratamento de ressincronização, que é, na prática, uma segunda IATF. Outra vantagem da técnica é a redução do período entre os partos, pois a IATF já pode ocorrer no período entre 30 e 40 dias após o nascimento do bezerro. “Em uma situação ideal, uma vaca dá um bezerro por ano. Mas o que acontece muito nos sítios onde não se usa um acompanhamento reprodutivo, os produtores ficam aguardando um cio natural que não acontece ou não aparece. Muitas vezes, a vaca está parida há 4 ou 5 meses e ainda não deu cio”, explica o veterinário, observando que o intervalo longo entre os partos é uma das principais fontes de prejuízos na bovinocultura.

Não existe um número “ideal” de animais para que a IATF seja aplicada, mas é claro que quanto mais cabeças, maiores as vantagens. “Em um sítio pequeno, com umas dez vacas, por exemplo, mesmo que o produtor queira inseminar um terço desse rebanho, já pode fazer uso da IATF”, declara Menezes. Mas ele comenta que em algumas localidades onde funcionam grandes propriedades rurais, com mais de mil matrizes, são inseminadas de 500 a 800 vacas no mesmo dia. “Depende do manejo da fazenda. Se você tiver um grande número de inseminadores experientes, um bom curral, um manejo bem adequado, você alcança esse número. Por isso a IATF é fundamental para quem tem rebanho grande, embora possa ser aplicada nos pequenos”, esclarece o instrutor. Um estudo publicado em 2015 apontou uma taxa de prenhez em torno de 50% a cada IATF, podendo atingir 60% e até 70% em algumas propriedades com manejo nutricional, sanitários e reprodutivos de excelência (Pubvet – Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia).

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