Mesmo sendo um dos maiores produtores do segmento, Mato Grosso ainda possui 64% da malha rodoviária em condições não apropriadas
Devido à sua importância na comercialização de produtos por todo território nacional, o Brasil é altamente dependente do transporte rodoviário de cargas (TRC). O setor é responsável por cerca de 65% de tudo que é transportado no país segundo dados da “Pesquisa CNT de Rodovias 2021” realizada pela Confederação Nacional dos Transportes. Porém, levando em consideração sua relevância, a realidade da pavimentação nas estradas vai contra o desenvolvimento do segmento: ainda segundo a pesquisa, 26,2% das rodovias do país apresentam problemas de pavimentação.
No Centro-Oeste, a situação se reflete, visto que, mesmo sendo uma das regiões que detêm uma produtividade expressiva no agronegócio, enfrenta inúmeros problemas de infraestrutura que afetam toda a cadeia logística. A região é essencial ao escoamento da produção agrícola por sua localização privilegiada, que atinge todos os cantos do país. Por isso, é de suma importância que a qualidade das estradas em que os produtos são transportados reflita o valor que o TRC do Centro-Oeste traz para todo o Brasil.
Um indicador disto é o Mato Grosso (MT), líder na produção das três principais commodities brasileiras: milho, soja e algodão. Mesmo com sua grande importância para o agronegócio nacional, o estado possui apenas 35,9% de sua malha rodoviária em boas ou ótimas condições, já que 64,1% das estradas do estado foram consideradas regulares, ruins ou péssimas segundo a pesquisa da CNT.
Além disso, o estado enfrenta problemas de infraestrutura que interferem no trabalho e na distribuição desses produtos. Um reflexo disso são seus mais de 22 mil quilômetros de rodovias não pavimentadas. Desses, 51,9% da extensão de sua malha rodoviária apresentam problemas, 48,1% estão em condição satisfatória e 0,2% está com o pavimento totalmente destruído.
O presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (FENATAC), Paulo Afonso Lustosa, reflete sobre como a qualidade das estradas afetam diretamente o negócio do TRC em relação aos custos com os quais as transportadoras precisam arcar pelo mau estado das vias. “Há projeções que dizem que uma estrada com má pavimentação pode onerar o custo do transporte em até 30%. Para que as empresas possam desempenhar melhor seu papel, é fundamental que os estados invistam mais em infraestrutura nas suas rodovias”, afirma Lustosa.
Para mudar este cenário, o MT vem recebendo investimentos promissores nas suas estradas pelo governo estadual. A Secretaria do Estado de Infraestrutura e Logística (SINFRA) apresentou Projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) 2022 à Assembleia Legislativa com um orçamento estimado em cerca de R$ 26 bilhões (ou exatamente R$ 26.585.827.900,00). Destes, a previsão é que R$ 356 milhões sejam destinados à pavimentação de rodovias de um modo geral, e a restauração das estradas já pavimentadas tem custo previsto de R$ 100,1 milhões.
Segundo Guilherme Blatt, assessor de imprensa da SINFRA, o estado já recebeu 1.000 km de asfalto e, no momento, cerca de 1.660 km de contratos de pavimentação estão em andamento. Para o futuro, aproximadamente 900 km serão licitados em breve, e outros 2.900 km de estradas com projetos estão sendo elaborados.
Para Blatt, investir na malha rodoviária é elevar as expectativas do desenvolvimento do estado, dos municípios e, principalmente, da qualidade de vida do cidadão. “As rodovias levam ao desenvolvimento e fazem a economia girar. É um investimento que fazemos para possibilitar viagens intermunicipais, o comércio regional, o transporte escolar, o escoamento da produção e a transferência de pacientes para hospitais mais estruturados”, ressalta.
A LOA segue em trâmite no parlamento do estado e já foi discutida em duas audiências públicas. A previsão é que sua primeira votação aconteça até o final de dezembro. Para Lustosa, cada vez mais investimentos como esse devem ser um dos pontos centrais dos governos estaduais e federais para ajudar o negócio do TRC a continuar com o crescimento. “Estima-se que cada R$ 1 investido em infraestrutura retorna R$ 1,44 para a economia. É questão matemática. Por isso, precisamos que no futuro haja uma melhora no montante de investimento em infraestrutura, sobretudo no transporte; aí sim nós teremos condições de crescimento”, conclui.