O grande direcionador de preços continua sendo a oferta de animais para o abate, que é determinada pelo ciclo pecuário, apontou Lygia Pimentel; O país embarcou dois milhões de toneladas da proteína até novembro.
As exportações de carne bovina tomaram grane espaço no noticiário em 2022 e se tornaram um grande vilão na narrativa que culpabiliza alguém pela alta dos preços no varejo brasileiro. Mas você sabia que, apesar do Brasil ter batido esse recorde de exportações, o preço do boi gordo caiu ao longo do ano e o preço da carne se estabilizou no varejo. Se exportamos mais, porque os preços não deram continuidade à trajetória de alta?
Entre janeiro e novembro de 2022, as exportações de carne bovina cresceram 22% em comparação com o mesmo período ano passado. Foram mais de dois milhões de toneladas comercializadas até novembro, um recorde histórico absoluto.
Como sabemos, a China tem sido a grande estrela da constelação de importadores, levando 54,4% desse volume, uma participação impressionante. Enquanto isso, o preço do boi gordo no mercado doméstico caiu de R$330 por arroba, em janeiro, para os atuais R$ 280 por arroba na média de fechamento de novembro, representando uma queda de 16%. Enquanto isso, a carne no varejo caiu 3%.
O que explica então esse movimento tão descolado das fortes altas observadas no ano passado?
Em primeiro lugar, o Brasil tem aumentado a sua produção de carne como parte do ciclo pecuário. Já comentamos anteriormente nesta coluna o processo que, basicamente, responde a uma retroalimentação direcionada pelos preços. Ou seja, altos preços registrados para o boi gordo entre 2020 e 2021 estimularam o produtor a investir, trazendo agora os efeitos desse aumento produtivo: preços em queda por mais oferta.
Já o varejo, por incrível que pareça, não conseguiu acompanhar a alta do boi ao longo dessa trajetória recente de alta. Enquanto o boi subiu 66% entre 2020 e 2021, o varejo repassou 54% dessa alta, de modo que a resistência em baixar os preços agora sugere a recomposição das margens com a venda de carne bovina.
Por fim, as exportações são importante parte da composição da demanda pela carne bovina, já que respondem por 30% da produção. Entretanto, o grande direcionador de preços continua sendo a oferta de animais para o abate, que é determinada pelo ciclo pecuário.
Dessa forma, qualquer política que mire os preços e não incentive a produção será um grande erro econômico a ser pago pelo menor acesso da população ao produto; vide Argentina, que viu seu consumo per capta de carne cair ao menor nível dos últimos 100 anos, após política de limitação às exportações. Os preços são sempre o sintoma e não a doença.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Compre Rural e de seus editores.
Fonte: Forbes Brasil
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