Exportações de café: 69% dos navios sofreram atrasos ou remarcações em setembro

Apesar do bom volume embarcado no ano, exportadores seguem enfrentando gargalos logísticos e acumulam prejuízos de R$ 5,9 milhões com custos extras.

Em setembro, 69% dos navios, ou 190 de um total de 277 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O maior prazo de espera, com 38 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline, foi registrado no Porto de Santos (SP). No principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, o índice de atraso de porta-contêineres foi de 84% no mês, o que envolveu 108 do total de 129 embarcações.

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Fonte: Boletim DTZ (EloX-Cecafé)

Ainda de acordo com o levantamento, no mês passado, apenas 10% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios no Porto de Santos. Para outros 36%, o atraso foi entre três e quatro dias e para 54%, menos de dois dias.

“O nível de navios que tiveram janela aberta por menos de 48 horas alcançou seu pior índice desde janeiro de 2023, quando começamos o levantamento, e, mais preocupante ainda é o fato de que 42 navios sequer tiveram abertura de gate, ampliando o cenário de custos extras e elevados aos exportadores”, comenta o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Sobre os atrasos citados, a reportagem pediu uma posição ao Porto de Santos e aguarda retorno.

No Rio de Janeiro, maior atraso foi de 29 dias

No complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, o índice de atrasos das embarcações foi de 58% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 29 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 42 dos 72 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.

Fonte: Boletim DTZ (EloX-Cecafé)

A reportagem também solicitou a PortosRio um posicionamento sobre os dados citados e aguarda retorno.

Atrasos deixam 2,155 milhões de sacas de café sem exportação no ano

Ainda de acordo com o levantamento realizado pelo Cecafé junto a seus associados, os elevados índices de atrasos e alterações frequentes de escala de navios para exportação causaram o acúmulo de 2,155 milhões de sacas (6.529 contêineres) de café não embarcadas até setembro deste ano. 

Com preço médio Free on Board (FOB) de US$ 269,40 por saca (café verde, set/2024) e a média do dólar a R$ 5,5410, isso implica que o país deixou de receber US$ 580,55 milhões, ou R$ 3,217 bilhões, como receita cambial.

Para o diretor técnico do Cecafé, o cenário fica ainda mais crítico quando se analisa o prejuízo que os exportadores do grão vêm acumulando devido à falta de infraestrutura portuária adequada para cargas conteinerizadas no país.

“Nossos associados reportaram um custo extra de R$ 5,938 milhões, devido a detentions, armazenagens adicionais, pré-stacking e gate antecipado, ocasionado pelos elevados índices de atraso e alterações regulares nas escalas das embarcações. Esses entraves revelam que nossos portos não evoluíram na mesma velocidade do agro e se encontram com estruturas inadequadas para cargas conteinerizadas, expondo o esgotamento da infraestrutura e a necessidade de ampliação da capacidade de pátio, berço e do aprofundamento de calado para recebimento de embarcações maiores”, comenta Heron.

Para o executivo, o crescimento dos embarques das cargas conteinerizadas revela e reforça a falta de infraestrutura adequada nos portos brasileiros e seus impactos no comércio exterior, que desencadeiam problemas como a adição de custos logísticos às exportações, menor repasse do valor FOB aos produtores e, mais recentemente, questões envolvendo emissão de certificados fitossanitários para determinados destinos por conta dos atrasos e alterações de escalas.

“Graças ao competente e incansável trabalho das equipes de logísticas dos exportadores de café, somados ao apoio e à colaboração de alguns terminais portuários, o Brasil tem conseguido honrar seus compromissos, mesmo com a adição dos elevados custos logísticos. Contudo, é muito importante que as autoridades públicas tenham consciência desse cenário e promovam o amplo diálogo para que consigamos seguir abastecendo os nossos mercados compradores e evitemos mais prejuízos nas exportações”, conclui.

Apesar dos gargalos, Brasil segue como exportador confiável

Apesar dos entraves apontados, o Cecafé pontua que o Brasil exportou 4,464 milhões de sacas em setembro, maior volume já registrado para este mês e que representa avanço de 33,3% na comparação com os 3,348 milhões de sacas embarcadas em idêntico período do ano passado. No acumulado do ano, as exportações somam o recorde de 36,428 milhões de sacas, com alta de 38,7% em relação aos nove primeiros meses de 2023.

O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, enaltece o comprometimento dos exportadores brasileiros com seus clientes internacionais, abrindo mão de boa parte de suas margens, bancando os custos extras devido aos gargalos e honrando seus compromissos com os embarques.

“Nossos associados têm dado uma clara demonstração de superação. Apesar dos diversos problemas logísticos, o setor tem dado claros sinais da sua capacidade de alcançar, em praticamente todos os meses deste ano, novos recordes de exportação e essa segurança torna, dentro do possível, a relação entre importador e exportador cada vez mais sólida devido à pontualidade no cumprimento dos contratos dentro dos termos FOB”, diz Ferreira.

A opinião é compartilhada pelo diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, que destaca que, a despeito da questão logística, os exportadores de café do Brasil estão comprometidos com o abastecimento do produto no mundo, aos mais diversos e exigentes mercados.

“Estamos mostrando que conseguimos trabalhar duas, três, quatro, cinco vezes mais e fazer o nosso café chegar a todo o mercado consumidor mundial. Apesar das dificuldades, somos capazes de nos desdobrar e garantir o abastecimento diante de todas essas adversidades, inclusive batendo recordes”, comenta Matos.

O diretor-geral  ainda destaca que Cecafé está comprometido com a pauta de infraestrutura e logística, mantendo diálogos em todas as esferas governamentais e com os atores do setor privado, desempenhando um trabalho organizado entre as organizações do agronegócio e dos representantes de armadores e terminais portuários.

Para o presidente do Conselho, a capacidade de articulação junto aos principais players da logística continuará evoluindo, através de debates transparentes, “trazendo para discussão na mesma mesa” aqueles que podem influenciar positivamente, como o Cecafé e as demais entidades da cafeicultura brasileira e representantes de importadores, companhias de navegação, terminais, autoridades portuárias e os governos federal, estadual e municipal.

“Com produção crescente, sob condições climáticas adequadas, demanda aquecida e preços competitivos e remuneradores a nossos produtores, não temos outro caminho a não ser encontrar as soluções para que os cafés de maior diversidade, qualidade e sustentabilidade do mundo alcancem cada vez mais os milhões de consumidores que tanto prestigiam os cafés do Brasil”, conclui.

Fonte: Agro Estadão

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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