ABPA destaca que a peste suína africana na China não está controlada e consultoria Agrifatto pontua que pecuarista não está em situação confortável.
Em meio a incertezas após os efeitos da pandemia do covid-19 sobre a economia nacional, a indústria de aves e suínos vê no mercado internacional uma saída para fechar as contas num ano em que as previsões mais pessimistas indicam retração de 5% no Produto Interno
Bruto (PIB) do país. “A gente tem que admitir que, efetivamente, vamos ter que direcionar algo a mais para o mercado externo”, observa o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Segundo estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) sobre o impacto do coronavírus sobre o agronegócio brasileiro, setores ou estabelecimentos mais dependentes da demanda doméstica tendem a ser os mais afetados pela pandemia.
“Sabe-se que esse efeito da rápida desaceleração da economia brasileira que se desdobra não será homogêneo entre os setores e os agentes do agronegócio. Em especial, produtos de maior valor agregado, os que não sejam essenciais (aqueles com maior elasticidade-renda) e aqueles mais perecíveis sentirão com mais força a retração do poder de compra da população e as mudanças na forma de consumo”, aponta o estudo.
O Cepea destaca, ainda, que o impacto da crise será maior entre frigoríficos menores, que dependem das entregas para bares e restaurantes. Já os maiores continuarão a atender o mercado varejista nacional. Nas atividades de ciclo mais curto, de frango e suínos, contudo, as perspectivas são de oscilações de preços no curto prazo devido à queda na demanda da alimentação fora do lar.
“A dificuldade em manter os lotes de animais nas granjas, em decorrência dos altos patamares de preços dos insumos, também deve fazer com que produtores cedam, reforçando a queda nas cotações do animal”, explica o estudo.
No primeiro trimestre de 2020, as exportações brasileiras de carne (bovina, suína e de frango) avançaram 9,4% em volume na comparação com igual período do ano passado, com 1,7 milhão de toneladas. Na carne de frango, esse aumento foi de 9,34%, com 1 milhão de
toneladas. Entre as suínas, o crescimento observado foi ainda maior, de 32,75%, com 205,5 mil toneladas exportadas. Os embarques de carne bovina avançaram 2% nos três primeiros meses do ano, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
“A peste suína africana não foi contida. Ao contrário, ela atingiu outras regiões da Ásia que não tinham sido afetadas”, lembra Francisco Turra. Entre os principais destinos da carne brasileira, a Ásia concentrou 48,3% das exportações no início deste ano, com 810,3 mil toneladas. Além da peste suína africana, o presidente da ABPA destaca ainda o surgimento de novos casos de gripe aviária na Índia e na China, além da redução na produção europeia de proteína animal.
“Sobrou espaço, naturalmente, para a proteína animal como um todo. Na Europa, houve queda da produção esse ano e aumento do consumo por força desses temas. Então, para as exportações, o cenário é favorável após a Covid-19”, afirma o presidente da ABPA.
Carne bovina
Na carne bovina, a tendência também é reforçar o olhar para além das fronteiras. Em Mato Grosso, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que frigoríficos já sentem dificuldades de escoar a produção de carne bovina no mercado interno.
Aqueles que “não estão com problemas portuários dão prioridade à exportação, principalmente pela volta das compras da China, que, inclusive, tem precificado melhor pela arroba de animais precoces”.
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A situação, contudo, está longe de ser confortável para o pecuarista brasileiro, sobretudo devido à maior competição com outras proteínas mais baratas, como a carne de frango. “Não foi só o brasileiro que precisou se isolar em casa e passou a consumir mais carne de frango. A Europa está numa situação lamentável e a América Latina como um todo está sofrendo por conta desse fenômeno”, lembra Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto Consultoria.
A analista destaca que, apesar da maior resistência dos pecuaristas diante da desvalorização da arroba após o avanço da Covid-19 no país no início deste ano, as circunstâncias mudaram. “Com os pastos secando, a capacidade de suporte dessas pastagem fica comprometida e segurar esse animal significa perda de peso ou de valor – e o pecuarista não pode se dar ao luxo de segurar o animal por uma safra inteira”, diz Lygia.
Fonte: Globo Rural