Evolução genética bovina: pontos chaves do resultado

Seguiremos com a nossa “pregação” sobre a importância do melhoramento genético nos resultados da atividade pecuária.

Por Leonardo Souza

Confesso que num primeiro momento, lá nos idos de 1994 quando começamos a trabalhar com melhoramento genético, também compartilhava da desconfiança do pecuarista, que acha difícil acreditar que as DEPs (Diferenças Esperadas nas Progênies), que na verdade são previsões (…ESPERADAS…) elaboradas com vários ajustes estatísticos e que sofrem com várias influências, ou melhor, “erros” de coleta de informações, sejam eficientes para qualificar geneticamente um animal, dizendo se ele é bom ou ruim para determinada caraterística e, principalmente se aquelas qualidades são transmitidas para os seus descendentes.

Difícil também acreditar que participar de um Programa de Melhoramento Genético com objetivos específicos de seleção seria uma maneira de garantir a melhoria efetiva de um rebanho.

Realmente, é difícil encontrar referências que nos ajudem a enxergar o real progresso ou melhoria para determinada característica em um rebanho.

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Foto: Qualitas Melhoramento Genético

Um questionamento pode ser: será que as minhas vacas de hoje são melhores que as vacas nascidas a 17 anos atrás?

Para responder a esta questão, utilizaremos os seguintes dados:

– 150 vacas que nasceram de 2000 a 2014;

– Que são mães de bezerros machos nascidos em setembro e outubro de 2016, todos filhos de inseminação artificial;

– São de uma mesma fazenda (Agropontieri, localizada em Goiatuba-GO), que participa do Programa Qualitas de Melhoramento Genético desde 2000, e que nunca utilizou touro de repasse no rebanho, somente inseminação artificial. Portanto todas as vacas e todos os bezerros apresentam paternidade conhecida;

– Todas as vacas e novilhas vazias são descartadas após a estação de monta que hoje é de 45 dias;

– Os bezerros foram criados nos mesmos pastos, do nascimento até a desmama e da desmama até os 12 meses;

– Não receberam creep-feeding;

– Foram desmamados no mesmo dia: 18/04/17;

– Após a desmama ficaram em pasto de capim Marandú (braquiarão) de integração lavoura-pecuária, recebendo o produto Petisco da empresa Campo (proteinado de consumo de 0,1% do peso vivo);

– Foram pesados no mesmo dia: 28/09/17. Assim obteve-se o ganho de peso da desmama até um ano de idade.

– O rebanho é selecionado desde 2000 através de um Índice de Seleção, denominado Índice Qualitas, que é composto pelas seguintes DEPs e com os seguintes pesos:

Como funciona o Índice Qualitas

  • 20% Peso de desmama
  • + 40% Ganho de Peso Pós Desmama
  • + 20% Musculosidade
  • + 20% Perímetro Escrotal.

Na figura abaixo, são apresentados os dados de ganho de peso após a desmama dos machos nascidos em 2016 de acordo com a idade das vacas. Assim apresentamos, a evolução para a característica considerada mais importante no Índice Qualitas, que é o ganho de peso pós desmama.

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Figura 1 – Ganho pós desmama (kg/dia) dos machos nascidos em 2016 de acordo com ano de nascimento da vaca – Agropontieri. / Fonte: elaborado pelo autor

A média de ganho de peso foi de 0,645 kg/dia para todos os bezerros nascidos em 2016.

As vacas mais velhas, apresentam filhos com menor ganho de peso pós desmama. A média só foi esse valor porque a proporção de vacas novas no rebanho é grande, 55% do rebanho é composto por vacas que pariram a primeira vez aos 24 meses de idade (nascidas de 2011 a 2014) e seus filhos apresentaram 0,690 kg/dia, puxando assim a média para cima.

De acordo com a equação são 0,010 kg/dia de evolução anual no ganho de peso. Ao longo de 15 anos, são 0,150 kg/dia a mais no ganho de peso pós desmama. Isso significa 1,5 arrobas a mais de carcaça se os animais forem abatidos aos 24 meses de idade.

Um animal desmamado com 200 kg que apresenta 0,509 kg/dia de ganho de peso demora 19,4 meses para alcançar 500 kg enquanto um animal com 0,718 kg alcança o mesmo peso após 13,7 meses, quase seis meses antes.

Assim conseguimos enxergar com clareza se um rebanho está evoluindo geneticamente ou não. Se realmente há melhoramento, os animais mais jovens têm que ser melhores que os animais mais velhos.

Como é que estão as suas matrizes? As novilhas são melhores que as vacas eradas?

Infelizmente tem muito criador que não descarta vaca velha porquê tem medo de colocar novilhas no lugar! Essa insegurança pode ter dois motivos: ele não conhece o rebanho que possui ou, ele sabe muito bem que a genética do seu rebanho não é a ideal, pois, não investe em genética (touros) de qualidade para melhorar o seu rebanho.

É, ainda bem que essa tal de DEP funciona, senão, teria que arranjar outro jeito de ganhar dinheiro para comprar o leitinho das crianças!

Como dizem os filósofos, na verdade, o mais importante é a jornada e não o que foi alcançado até agora. E aqui agradeço a todos os selecionadores brasileiros, principalmente, aos nossos parceiros no Qualitas pelo pioneirismo e por acreditarem que é possível melhorar sempre, apesar dos passos parecerem lentos, mas extremamente importantes para os seus negócios.

E você, já começou a sua jornada?

Artigo publicado via Qualitas Melhoramento Genético
*Leonardo Souza
Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.

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