Depoimento de Médico Veterinário Antônio Morais Monteiro responde à questões bastante complicadas quando o assunto é sacrificar um animal.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária já emitiu uma nota oficial sobre a atuação dos médicos-veterinários em Brumadinho, Minas Gerais. Nele o Conselho informa que os médicos-veterinários da Comissão de Bem-Estar Animal, do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG), estão acompanhando os trabalhos de resgate de animais em Brumadinho/MG, em função do rompimento da barragem do Córrego do Feijão.
Confira depoimento na íntegra
Para nós, médicos veterinários, cuja prática de eutanásia está na rotina, é sabido o quão doloroso é ter que realizar tal prática. Normalmente, ela deve ser realizada fazendo-se o acesso venoso, anestesiando-se o animal e, em seguida, administrando-se uma solução, onde o coração do animal irá parar de funcionar.
Em primeiro lugar, falemos sobre as condições de Brumadinho: Existem animais desorientados atolados até o pescoço, em sofrimento, em locais com risco iminente de rompimentos de outras barragens. Inúmeros são os casos de animais eutanasiados anualmente, por atolarem em brejos e lagoas, onde não vai trator ou carro e nem 10 pessoas conseguem desatolar.
No caso de vacas, bois e cavalos… animais de grande porte, em geral, mal podem ficar deitados de lado 4 ou 5 horas numa mesa cirúrgica ACOLCHOADA, que já lesionam o nervo radial, adquirem miosites, só pelo próprio PESO; imaginem os animais atolados na LAMA. Uma vaca não pesa 10 ou 20 kg como um cão escovadinho, pessoal. Pesa 400, 500, 600 kg ou mais.
É impossível retirar esses animais e, mesmo que se retire, vão continuar em sofrimento até a morte. Então, é necessário sim realizar a eutanásia deles, infelizmente, pois na medicina veterinária não há SUS para tratamentos mais detalhados e especializados. E, infelizmente, não tem como acessar esses locais para se pegar uma veia e fazer os procedimentos citados anteriormente.
Então, INFELIZMENTE, a eutanásia, nesses casos, concordem vocês ou não, deve ser feita de forma viável e mais indolor possível, paralisando-se o sistema nervoso para, em seguida, paralisar todo o organismo, ou seja, um tiro na cabeça. Este método pode ser considerado cruel, por muitos, mas é o recurso que se tem, no momento e é totalmente legal perante a lei e perante o Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Peço, então, que vocês que estão falando mal dos nossos colegas veterinários que lá estão, PAREM de transmitir DESINFORMAÇÃO! Isso não é bacana e é um ato de ignorância (no sentido de ignorar os fatos; não querer conhecer). Quem puder ajudar as pessoas e os animais, toda ajuda é bem vinda para eles que estão sofrendo e lutando. Se não, pelo menos transmita a informação de forma correta.
Parte do texto foi inspirado em outro, feito pelo colega e amigo Vitor Souza.