Pesquisa de doutorado descobriu dados que podem ajudar a retirar uma valiosa planta do risco de extinção.
Árvore valorizada pela indústria madeireira, a gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium), típica do Cerrado e da Caatinga do norte mineiro, possui sementes capazes de germinar após dezenas de anos de armazenamento. A conclusão é parte da tese “Longevidade da semente de Astronium fraxinifolium Schott: estudos fisiológicos, bioquímicos e moleculares”, defendida no fim do ano passado pelo agrônomo Leonel Gonçalves Pereira Neto, analista da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF).
Também conhecida como chibatã, aratanha, aroeira-do-campo ou batão, a gonçalo-alves é uma árvore rústica de médio porte que produz madeira de boa qualidade, especialmente para construção civil e naval, marcenaria, confecção de dormentes, corrimãos, balaústres, esteios, móveis de luxo e portas de fino acabamento devido às suas tonalidades que vão de rosa claro, quando recém-cortada, ao vermelho com veios escuros.
“A tese mostrou a importância da espécie, da conservação a longo prazo realizada pela Embrapa e também da coleta de sementes de espécies que estejam ameaçadas de extinção para que sejam conservadas nos bancos de germoplasma”, diz Pereira Neto.
No doutorado, cursado na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), em Botucatu (SP), Pereira Neto pesquisou o comportamento de sementes da espécie nativas do Cerrado armazenadas na Coleção de Base de Germoplasma Semente (Colbase) da Embrapa. Foram avaliadas sementes de Goiás e do Norte de Minas Gerais e entre as descobertas da pesquisa está o fato de o material de origem goiana apresentar maior resistência ao envelhecimento em comparação às sementes mineiras quando submetidas às mesmas condições.
A descoberta pode subsidiar tomadas de decisão sobre qual das duas dará melhor resposta em programas de conservação. “É importante dizer que a planta pode ser recomendada para projetos de reflorestamento”, reitera o agrônomo, ressaltando que as mudas com um ano de idade podem atingir um metro de altura, ou mais, o que significa retorno rápido em cultivos para fins comerciais.
A gonçalo-alves também é conhecida pela grande quantidade de sementes que produz, que é de cerca de 100 a 200 mil unidades por planta. No período entre agosto e setembro, é possível ver o movimento das flores do Astronium fraxinifolium, semelhante às hélices de um helicóptero, a girar, cair e fecundar o solo. Cada uma das flores carrega uma semente da árvore.
A capacidade de rápida germinação da semente levou os cientistas a escolherem a espécie para compor um dos oito experimentos brasileiros executados na Estação Espacial Internacional em 2006. A germinação das sementes de gonçalo-alves foi testada com sucesso em ambiente de microgravidade. O material foi levado ao espaço pelo astronauta brasileiro Marcos César Pontes.
Coleção de base é fundamental para preservação
Os resultados da pesquisa também reforçam a importância da conservação das sementes na Coleção de Base de Germoplasma Semente (Colbase) da Embrapa, hoje com 72 acessos de Astronium fraxinifolium.
O Astronium fraxinifolium é uma das 692 espécies que compõem a Coleção de Base de Germoplasma Sementes (Colbase) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). A Colbase tem como objetivo garantir por muitas décadas a sobrevivência das sementes de espécies de interesse atual e potencial, assegurando a manutenção das fontes básicas para a alimentação e agricultura. Na Colbase, as sementes são desidratadas, embaladas em envelopes aluminizados, e mantidas em câmaras frias a 20° C negativos.
Deva Rodrigues via Embrapa