Estratégias para produção de leite na estação da seca em sistema a pasto

A estação da seca é caracterizada por falta ou baixa pluviometria, menor radiação solar e temperaturas mais baixas.

Por Elissa Forgiarini Vizzotto* – Os pastos são bases nutricionais de recursos que possuem grande complexidade, uma vez que sua capacidade de fornecer alimento para a produção animal altera qualitativa e quantitativamente ao longo do ano, de acordo com a influência do clima. Entretanto, a produçã animal, principalmente a de bovinos de leite, deve ser contínua ao longo do ano, o que exige tecnologias nutricionais e recursos para superar as deficiências dos pastos.

Diversas regiões do Brasil possuem seu clima delimitado pela estação da seca e estação das águas. A estação da seca é caracterizada por falta ou baixa pluviometria, menor radiação solar e temperaturas mais baixas. Dependendo da região, ela pode se prolongar por um período de 3 a 5 meses, implicando na falta de rebrota e redução do valor nutricional dos pastos que não recebem irrigação.

A necessidade de realizar complementação nutricional por meio de estratégias alimentares capazes de suprir as deficiências de nutrientes do pasto deve ser pré-definida antes da estação da seca, com a utilização de planejamento para plantio, armazenagem e oferta de volumosos. Dentre estas estratégias nutricionais podemos citar o aumento da oferta e densidade energética e proteica de concentrados, silagens, capineiras e diferimento de pastagens.

Aumento na densidade energética e proteica das dietas

Forragens submetidas a estresse hídrico prolongado, mais comum na época seca, podem paralisar seu crescimento vegetal e aumentar a proporção de tecidos estruturais e a espessura das paredes celulares, ocasionando elevação no teor de fibra bruta e, consequentemente, aumento do teor de fibra em detergente neutro (FDN), reduzindo sua digestibilidade. Além disso, essas forrageiras possuem baixo teor de proteína bruta (PB), redução da relação folha:colmo (caules) e aumento do material morto.

As limitações intrínsecas das forragens de baixa qualidade implicam no crescimento da microbiota ruminal. Estas forragens possuem alta relação carbono-nitrogênio, o que causa deficiência do nitrogênio que é composto para a síntese de enzimas microbianas. Estas, por sua vez, são responsáveis pela degradação de compostos da parede celular de forragens. Assim, a deficiência em nitrogênio resulta em menor degradação da fibra no rúmen.

A redução de alguns minerais na dieta também é observada conforme se reduz a qualidade da forrageira, o que pode afetar negativamente a saúde e reprodução dos animais, podendo ser facilmente evitado pelo uso de núcleos e suplementos minerais vitamínicos.

O alto teor de FDN das forragens de baixa qualidade resulta em rápido enchimento ruminal, baixa digestibilidade e lenta taxa de passagem ruminal, reduzindo a capacidade de consumo de alimento e a oferta total de nutrientes para o animal, limitando a expressão do seu potencial genético para a produção de leite.

Quando se utiliza forragem com alto teor de FDN na dieta de vacas em lactação, maior é a necessidade de corrigir a energia líquida da dieta e maximizar o aporte de proteína microbiana que chega ao intestino delgado. Assim, se faz necessário aumentar a densidade energética e proteica da suplementação com concentrados para suprir as deficiências de energia, proteínas e minerais da dieta e manter a produção de leite.

Silagens e capineiras

A silagem de milho se destaca por estar entre as melhores estratégias alimentares utilizadas durante o período da seca. Por possuir alta quantidade de amido, contribui para o aumento da densidade energética da dieta, além de ser fonte de fibra de boa aceitabilidade pelos bovinos de leite. Atenção especial deve ser requerida no momento da ensilagem para o ponto ideal de colheita, corte da fibra e quebra do grão, além da compactação, vedação e abertura do silo, já que estes fatores impactam na qualidade e no consumo da silagem obtida, determinando os níveis de produtividade a serem alcançados e, consequentemente, nos resultados econômicos no sistema de produção de leite.

As silagens de capins também podem ser utilizadas como forma de estratégia alimentar no período da seca. Entre os cultivares mais utilizados para silagem estão os _Panicum_ (Mombaça, Colonião e Tanzânia), _Pennisetum_ (Capiaçu, Capim elefante, Cameroon, Napier, Milheto) e _Brachiaria _(_decumbens, brizantha, ruziziensis_). Apesar da grande produção de massa seca por hectare, a silagem desses capins apresenta limitações no valor nutritivo quando comparada à silagem de milho e sorgo.

A qualidade da fermentação e o valor nutritivo das silagens de capim depende da espécie, do estádio de maturação da planta (idade de corte e altura) e do processo de ensilagem. Para cada cultivar existe uma idade (dias de rebrota) e altura de corte ideal, sendo este dependente da taxa de interceptação luminosa de cada região. O aumento no intervalo de corte resulta em incrementos na produção de matéria seca, entretanto, causa redução da PB e aumento na quantidade de colmos e, consequentemente, o aumento do FDN e a redução da qualidade da forrageira.

As gramíneas tropicais para ensilagem apresentam alto poder tampão, baixo teor de matéria seca e baixa concentração de carboidratos solúveis. Estas características dificultam a fermentação anaeróbica no silo, ocasionando fermentações secundárias, alta produção de efluentes e baixa qualidade fermentativa. O uso de aditivos está entre as alternativas para minimizar estes problemas. Podem ser utilizados aditivos estimulantes de fermentação, também conhecidos como inoculantes bacterianos, e aditivos nutritivos como o fubá de milho, que contribuem para elevar o teor de matéria seca da forragem ensilada e reduzir as perdas por efluentes no processo de fermentação.

Assim como ocorre para a silagem de capim, a altura de corte da planta altera o valor nutritivo das capineiras. Um dos principais erros na utilização das capineiras é acumular todo o material produzido durante o seu crescimento e desenvolvimento para ser utilizado na época seca do ano, não realizando corte durante o período das águas. Deixar as capineiras sem corte durante um longo período resulta no fornecimento de forragens ricas em fibras, pouco digestíveis e de baixa qualidade nutricional, podendo resultar em baixa produção de leite.

A cana-de-açúcar possui algumas características que têm justificado a sua escolha como recurso forrageiro, entre elas elevada produção por unidade de área cultivada e coincidência do período de sua maior disponibilidade com o período de escassez de pasto. Porém, a cana-de-açúcar, como alimento para bovinos apresenta limitações de ordem nutricional devido aos baixos teores de proteína e minerais, principalmente Ca, P e enxofre, alta quantidade de carboidratos solúveis (açucares), pequeno aporte pós-ruminal de aminoácidos e o alto teor de fibra de baixa digestibilidade ruminal.

Para minimizar essas deficiências nutricionais e a baixa digestibilidade, deve-se adicionar à cana-de-açúcar ingredientes para suprir estes nutrientes ou aumentar sua digestibilidade. Desta forma, a inclusão de ureia + enxofre à cana picada ou a adição de cal hidratada é utilizada como alternativa. O fornecimento de ureia misturada à cana de açúcar visa atender diretamente a necessidade da microbiota ruminal por nitrogênio e, juntamente com a adição de uma fonte de enxofre, melhora a síntese de proteína microbiana no rúmen, especialmente os aminoácidos sulfurados metionina, cistina e cisteína, aumentando o fluxo de proteína microbiana e o suprimento de aminoácidos no intestino delgado, repercutindo em melhor desempenho animal.

Agentes alcalinizantes, como a cal hidratada, podem ser utilizados para aumentar a digestão da porção fibrosa da cana-de-açúcar, solubilizando parcialmente a hemicelulose e expandindo as moléculas de celulose, o que aumenta a digestibilidade desses carboidratos estruturais, tornando a cana de açúcar _in natura_ mais digestível no rúmen.

Diferimento de pastagens

Trabalhar com diferimento de pastagem é uma forma de preservar o pasto para a época das secas. Para uso em pastejo diferido deve-se utilizar espécies forrageiras de porte baixo ou médio, com colmos finos e maior relação folha:colmo, e que tenham amadurecimento lento, para que floresçam o mais tarde possível. As pastagens devem ser diferidas depois de realizado o rebaixamento do pasto antes do final do período das chuvas, para que se tenha crescimento ideal. Ao utilizar esta técnica o produtor deve também fazer o uso de concentrados proteico-energéticos.

Assim, para obter sustentabilidade no sistema de produção de leite durante a estação da seca, a utilização do planejamento estratégico nutricional se torna indispensável para aumentar a produtividade animal e manter o sistema economicamente viável.

Elissa Forgiarini Vizzotto é zootecnista, doutora em Nutrição e Produção de Ruminantes e coordenadora de Leite da Premix

ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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