Estiagem e pandemia afetam consumo e preço da mandioca

A maior oferta da mandioca no mercado e a queda da demanda interna devido à pandemia são fatores preocupantes segundo analistas

A mandioca, uma das poucas espécies nativas do Brasil de importância comercial, vem enfrentando queda nos preços devido à redução na demanda provocada pela pandemia da Covid-19. A estiagem também está comprometendo a produção e a qualidade da raiz. A combinação dessas duas condições pode trazer dificuldades para os mais de 38 mil estabelecimentos rurais catarinenses onde a cultura está presente.

A colheita da mandioca teve início em abril, em Santa Catarina e outros Estados. A maior oferta do produto no mercado e a queda da demanda interna devido à pandemia são fatores preocupantes, na avaliação Haroldo Elias Tavares, analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa).

Segundo Haroldo, a queda de preços em Santa Catarina vem se configurando desde 2017, ano em que o preço médio pago ao produtor estava acima dos R$500,00 por tonelada. Depois de quedas sucessivas, em 2019 o preço da tonelada chegou, em média, a R$401,94. Nas regiões Sul e Alto Vale do Itajaí, maiores produtoras de mandioca do Estado, o preço da tonelada estava em R$350,00 entre abril e maio de 2020, início da atual safra.

Efeito inusitado

O técnico da Epagri explica que quando a compra é feita pelo valor do amido, algumas empresas estão praticando o mesmo preço da safra passada, ou seja, R$0,23/grama. Isto está provocando um efeito inusitado no Alto Vale do Itajaí, em decorrência da estiagem. “Quem vende a produção pelo teor de amido tem vantagem, que apresenta teores mais altos nesta safra, devido às poucas chuvas. Já o produtor que vende a sua produção por tonelada, tem desvantagem, pois a estiagem deixou a raiz mais ‘leve’”, descreve.

Quando se fala na venda da raiz in natura ou minimamente processada (descascada e congelada), esta baixa dos preços também se reflete no atacado. No início de março, os preços da caixa de 23kg de mandioca de mesa (aipim,) variavam entre R$35,00 e R$40,00. No início de maio, os valores na Ceasa já haviam caído para um patamar entre R$25,00 a R$30,00 a caixa, recuo próximo de 30%, aponta Haroldo.

Na região da Grande Florianópolis os preços pagos pelas indústrias de processamento da mandioca costumam se manter na casa dos R$600,00 por tonelada. “Isso acontece porque são produções em pequenos engenhos, que dão origem a uma farinha branca e fina, um produto diferenciado e mais valorizado, que atende um nicho de mercado específico”, relata Haroldo.

Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) sugerem que os produtores se atentem aos cenários futuros. Estudos do Centro apontam que desde 2019 a margem de lucro dos produtores está em queda, levando a uma expectativa de forte diminuição no plantio de mandioca para a temporada 2020/2021. “Ocorrendo esta diminuição do plantio, no médio prazo há uma expectativa de elevação dos preços, que poderá acontecer, ainda, até o final da atual safra”, pondera Haroldo.

Preocupação

Edésio Paulo Petri, agricultor na cidade de Biguaçu, na Grande Florianópolis, se diz até adoentado, tamanha a preocupação com a crise. Ele costumava produzir um média de 1,2t de farinha a cada mês em seu engenho. Desse total, 200Kg iam para a merenda escolar e 400Kg para 14 restaurantes da região.

Hoje a entrega para a alimentação escolar está paralisada e apenas um restaurante permanece comprando a produção. Ele calcula uma redução de 60% nas vendas, em decorrência da pandemia. Tem mantido a produção de em 300kg por semana, principalmente para fazer o beiju de polvilho, que é vendido para familiares e vizinhos, garantindo uma renda mínima.

A estiagem também aflige a família Petri. Fica cada vez mais difícil captar os 6 mil litros de água necessários para o pleno funcionário do engenho, mesmo mantendo intacta uma área de mata na propriedade onde existe uma nascente. A falta de chuva também afetou a qualidade do maracujá, uma das culturas produzidas pela família.

Edésio faz questão de ressaltar seu respeito ao meio ambiente, lembrando que produz farinha a partir do aipim, e não da mandioca. É que o aipim não tem o rejeito tóxico deixado pela mandioca na produção da farinha. Ele também se preocupa com o social, tanto que preside a Associação Roça de Toco, que reúne agricultores de Biguaçu. Todo um esforço para fazer bem o seu papel de agricultor, na expectativa de dias melhores.

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